Nossa Senhora de Quinche, Padroeira do Equador

Nossa Senhora do Quinche

Nossa Senhora de Quinche, Padroeira do EquadorA imagem de Nossa Senhora de Quinche é, fora de dúvida, a mais renomada do Equador, e seu Santuário, dos mais visitados. Sendo sua devoção infelizmente pouco conhecida no Brasil, apresentamos abaixo um resumo de sua história e de seus inumeráveis milagres

Não longe de Quito, rumo ao noroeste, existia uma tribo indígena chamada dos Oyacachis. Esses índios, ao que tudo indica, foram os que martirizaram o sacerdote jesuíta Rafael Ferrer. Mas, anos depois, já convertidos, desejavam possuir uma imagem de Nossa Senhora, o que não era muito fácil de se obter naqueles tempos.

Nascimento singelo da devoção

Um escultor de nome Diego Robles havia esculpido uma imagem para uma outra tribo indígena, mas como os silvícolas não quiseram ou não puderam pagá-la, vendeu-a aos Oyacachis. A imagem era de madeira, tendo 62 centímetros de altura. Os nativos, muito pobres e rústicos, colocaram-na numa gruta, à falta de outro lugar.

E querendo vesti-la de modo parecido a uma dama espanhola, trajaram-na com uma túnica de grosso pano, o único que possuíam, o qual porém não decorava bem a imagem. Nossa Senhora, Mãe por excelência, não se preocupou com o humilde traje, decidindo premiar a devoção dos indígenas.

Começou então a operar contínuos milagres. Muitas vezes saía de sua gruta e voltava somente no outro dia. Quando voltava, os índios perguntavam-lhe onde tinha estado, e a imagem simplesmente mostrava-lhes os pés cheios de lama, dando a entender que tinha ido socorrer diversas pessoas. Além disto, sabia-se na região que a gruta da imagem ficava em muitas ocasiões iluminada, e às vezes ouviam-se sons musicais sair dela.

Como começavam a aparecer peregrinos de outros locais, atraídos pelos numerosos milagres, decidiram os índios construir uma capela mais digna para a Mãe celeste.

Certo dia passou pela região o escultor da imagem. Os silvícolas encomendaram-lhe um pequeno altar para a Virgem, tendo ele se negado a construí-lo. E foi embora. Quando, porém, passava por uma ponte primitiva, seu cavalo deu um salto e ele caiu.

O escultor só não rolou pelo precipício porque uma de suas esporas ficara presa numa das cordas da ponte. Ficou dependurado assim sobre o abismo, e não conseguia sair do apuro. Lembrou-se então da imagem da Virgem dos Oyacachis…

Prometeu a Nossa Senhora que, caso o livrasse do perigo, ele voltaria e faria o altar. Apesar de ser aquele um local isolado, logo surgiram várias pessoas que o salvaram. Em cumprimento da promessa, o escultor voltou e construiu o altar.

Encantadora simplicidade, milagres portentosos

Nossa Senhora do Quinche

Toda a tribo colaborou na construção da capela. Uma índia, de costumes muito puros, tinha por encargo levar comida para os que se achavam no bosque cortando madeira.

Como seu pequeno campo estava pronto para a colheita, e ela não tinha a quem recorrer para ficar impedindo os pássaros de comer tudo, na sua simplicidade, foi até a imagem. E a nativa pediu-lhe que cuidasse de sua plantação.

Incrível misericórdia da Rainha dos Céus e da Terra: várias vezes, ao voltar, a indiazinha encontrava a própria Virgem Santíssima cuidando do trigal, da mesma forma que ela A via representada na imagem!

Um casal de índios foi ajudar a construção da capela, deixando seu filho junto a uma árvore enquanto trabalhavam. Ao retornar, um urso devorava o indiozinho. Afugentaram a fera, mas… o pequeno tinha perdido um braço e morrera. Os pais não duvidaram: levaram o pequeno cadáver junto à imagem e suplicaram um milagre. Nossa Senhora não se fez rogar por muito tempo: devolveu a vida e o braço ao menino!

Este estupendo milagre fez com que a devoção se difundisse enormemente e sua fama chegasse muito longe.

Trasladação da imagem, multiplicação dos milagres

SAntuario Nacional do Quinche

Após 30 anos, o então Bispo de Quito, Frei Luiz López de Solís, fez trasladar a imagem ao povoado de Quinche.

Motivo? Os infelizes índios eram dotados de temperamento muito volúvel. Se num momento iam bem, nada garantia que no minuto seguinte não se comportassem mal. Assim, aquela tribo, tão favorecida por Nossa Senhora, em meio a uma festa com bebedeira, recaíra no paganismo… Os silvícolas tomaram a cabeça de um urso e decidiram adorá-la. Retiraram as jóias da imagem e ofereceram-nas a esse fetiche.

Como castigo, o Bispo retirou-lhes a imagem e trasladou-a a um povoado próximo.

Mas Nossa Senhora é Mãe! Mesmo após o pecado, Ela não se esqueceu dos pobres Oyacachis e continuou a favorecê-los com milagres.

Havia, no povoado de Yaruquí, um indígena que sofria de hidropisia. Gastara toda sua fortuna de vacas e ovelhas com feiticeiras, as quais não o tinham curado. Desiludido, o índio recorreu à imagem e prometeu-lhe abandonar as feitiçarias, caso fosse curado.

Juntou o pouco dinheiro que lhe restava e mandou rezar uma Missa. Permaneceu na igreja o dia inteiro e já no outro dia estava curado. O milagre foi testemunhado pelo Pe. Francisco Cáceres, sacerdote naquele povoado.

Uma senhora distinta, devido a certa doença, não podia falar há três anos. Rezou uma novena diante da imagem, colocou em seus ombros um manto branco que aquela costumava usar, e logo ficou curada, sem que nunca mais voltasse a sofrer da doença.

Toda a população se traslada junto com a imagem…

Nossa Senhora do Quinche

Aumentando o número de peregrinos, decidiu-se fazer novo templo para a milagrosa imagem, que se tornou a Padroeira do país. Como o único terreno disponível ficava a certa distância do anterior Santuário, logo que a imagem foi mudada de local, em 1630, o povo também trasladou-se, surgindo assim, em torno da nova igreja, tornada Basílica nacional, uma nova cidade.

Já em nosso século, em fevereiro de 1909, houve um desastre ferroviário perto da cidade de Riobamba. Entre os feridos estava um senhor colombiano, que ao saltar do vagão em que viajava, teve o calcanhar destroçado por uma das rodas.

Apesar dos cuidados médicos, logo gangrenou a ferida e lhe avisaram que seria preciso amputar o pé. O colombiano, contudo, resistiu. Então, uma senhora sugeriu-lhe que fizesse uma peregrinação ao Santuário de Quinche, pedindo um milagre a Nossa Senhora. Ora, não é agradável fazer uma viagem por caminhos difíceis e longos, a cavalo e com gangrena no pé. E, naquela época, não havia outra alternativa.

O devoto colombiano, contudo, não teve dúvida e partiu em peregrinação. Já ao iniciar a viagem sentiu alguma melhora. Chegando à cidade de Quito, desceu do trem, alugou cavalos, um par de muletas e partiu rumo ao Santuário, a dois dias de marcha. Próximo ao templo, decidiu, em homenagem a Nossa Senhora, fazer o último trecho a pé, avançando de muletas. Ao chegar ao Santuário não sentia mais dores…

Examinaram-lhe o pé, tiraram as ataduras… a gangrena havia desaparecido. E, em seu lugar, surgira nova carnatura e o calcanhar perdido no desastre. O feliz peregrino deixou no Santuário, como lembrança, as muletas, e deu de presente a Nossa Senhora um manto e uma túnica de fios de prata.

Falta-nos espaço para relatar outros tantos e tantos milagres operados pela imagem, especialmente por ocasião das epidemias de peste que assolaram Quito. Entretanto, os prodígios acima relatados serão suficientes para aqueles que confiam na bondade e misericórdia da Mãe de Deus. Esperamos ter contribuído assim, ao menos um pouco, para fazê-La conhecer e amar.

Para concluir, apenas uma pergunta: se Ela operou e opera tantos milagres, não será, caro leitor, que Nossa Senhora de Quinche está à espera de sua oração para realizar mais um?

Oração a Nossa Senhora da Presentação do Quinche
 O Virgemzinha do Quinche
grande defensora dos desamparados
e esperança dos Vossos pobres filhos
pelo precioso Menino Jesus que levas nos braços
recebe este mensagem de nosso amor.
Dai-nos a graça de nunca
olvidarmo-nos de Vós,
mesmo nas mais variadas circnstâncias de nossa vida
e sobretudo concedei-nos a dita de expirar
pronunciando teu Santo Nome
sob Vosso maternal olhar. Assim Seja

A festa de Nossa Senhora do Quinche é celebrada no dia 21 de novembro

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Bibliografia:
– Pe. Carlos Sono, Historia de la Imagen y del santuário del Quinche, Quito, 1903.
– Pe. Ruben Vargas Ugarte, S.J.; Historia del Culto de Maria en Iberoamérica, Talleres Gráficos Jura, Madrid, 1956, Tomo II.
– Pe. José Julio Maria Matovelle, Obras Completas, Cuenca, 1981.

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Nossa Senhora da Conceição da Escada; antiga devoção mariana popular de Portugal e do Brasil, ligada ao mar

Nossa Senhora da Conceição e uma escada que leva a Ela

Nossa Senhora da Conceição da Escada; antiga devoção mariana popular de Portugal e do Brasil, ligada ao mar

Não é de estranhar que, pela acentuada vocação marítima de Portugal, tenha sido a devoção dos marinheiros de Lisboa uma das mais populares no país, e, por essa razão, uma das primeiras a se implantar no Brasil.

Escada? Que nome estranho para designar uma devoção a Nossa Senhora, poderão pensar alguns ao ouvi-lo. Outros, mais eruditos, estabelecerão talvez um nexo com a escada de Jacó, narrada na Sagrada Escritura, pois o Patriarca sonhou com uma escada que levava ao Céu. De modo análogo, Nossa Senhora leva ao Céu, logo… E ainda outros, quiçá, relacionarão o nome com imagens da Paixão de Cristo, dado que, muitas vezes, Nossa Senhora aparece ao lado da escada utilizada para descer o corpo de seu Divino Filho da cruz.

O que ninguém consegue imaginar é a razão verdadeira da invocação Nossa Senhora da Conceição da Escada.

Na origem do nome, singeleza de circunstâncias naturais

Qualquer pessoa dotada de cultura básica conhece a enorme importância que tiveram as navegações e descobrimentos portugueses nos séculos XV e XVI, bem como o fato de terem sido os navegantes lusos que uniram, por via marítima, diversos continentes. E que tal epopéia ocorreu mediante viagens realizadas a bordo de navios que, se comparados aos de hoje, eram semelhantes a frágeis cascas de nozes.

Coragem não faltou aos navegantes daquela época. Também não faltou fé e fortaleza para correr todos os riscos. E tal fé dos marinheiros lusos encontrava uma expressão encantadora na devoção a Nossa Senhora da Conceição da Escada, na cidade de Lisboa.

A imagem original da Virgem Santíssima – que depois ficou conhecida sob essa invocação – é muito antiga, anterior à reconquista da cidade aos mouros, em 1147. Ela se encontrava em uma capela situada à margem do rio Tejo. Ao partir, os marinheiros encomendavam-lhe seus trabalhos, e agradeciam sua proteção ao voltar. Como a margem do rio é elevada, precisavam subir ou descer os 31 degraus que separam a capela do rio. Por isto, com a passar do tempo, a imagem de Nossa Senhora da Conceição começou a ser chamada de Conceição da Escada, para diferenciá-la de outras imagens de Nossa Senhora da Conceição (devoção muito difundida em Portugal). Desse fato resultou que a imagem passou a ser conhecida como Nossa Senhora da Escada.

Dada a importância que a vida ligada ao mar tinha para o povo português naquela época, é compreensível que a referida imagem fosse das mais veneradas. De onde se explica que, cada vez que se decidia a realização de procissões para celebrar tal ou qual vitória, ou pedir proteção contra este ou aquele flagelo, eram as procissões da capela de Nossa Senhora da Escada das mais concorridas.

Com o tempo, começaram a acorrer à capela pessoas em barcos de locais longínquos, a fim de cumprir promessas e votos, bem como agradecer favores recebidos. Numa determinada época, realizava-se uma procissão com tochas acesas, provavelmente à noite, que descia o rio até chegar à capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição da Escada.

Vitória de Aljubarrota fortalece devoção
A procissão mais importante, porém, era a que comemorava a vitória dos portugueses em Aljubarrota, no ano de 1385. As tropas portuguesas, comandadas pelo Venerável Nun’Álvares Pereira, lutavam não só para defender a independência do país, mas sobretudo para este não cair no cisma que ameaçava dividir a Cristandade, já que o Rei de Castela na ocasião apoiava um antipapa.

Após travarem a luta em condições de inferioridade numérica, os portugueses obtiveram memorável vitória. Ao ter notícia do triunfo, o povo acudiu em massa aos diversos santuários do país, e um dos mais concorridos foi o de Nossa Senhora da Escada, onde pessoas de todas as classes sociais se dirigiram para agradecer a Nossa Senhora a insigne proteção. Que tenham sido de todas as classes sociais não é de estranhar, pois à Marinha dedicavam-se representantes de todos os segmentos sociais da época. Desde os nobres mais elevados que comandavam as armadas com destino à África ou à Ásia, até os mais humildes servidores.

Devoção expande-se para Bahia e São Paulo

Com as descobertas marítimas que iam sendo feitas, a Fé católica ia se expandindo. Por isso, ao dominar novos territórios, uma das primeiras preocupações dos portugueses era ensinar as verdades da Fé aos habitantes do local. E nada melhor para consolidar uma alma no caminho da verdadeira Religião do que ensiná-la a amar e confiar nAquela que é a Mãe de Deus, e por isso mesmo, nossa advogada.

Como dois dos primeiros locais a serem colonizados em nosso País foram a Bahia de Todos os Santos e zonas na região próximas ao litoral de São Paulo, é compreensível que aí se encontrem as duas capelas dedicadas a Nossa Senhora da Escada.

A existente na Bahia apresenta uma característica muito antiga, da época da escravidão: os escravos, quando ainda não batizados, não podiam ficar dentro da Igreja, permanecendo num alpendre junto à entrada. É por isso que o pequeno templo possui um amplo alpendre.

A outra capela situava-se numa vila chamada Escada, nome este proveniente da própria invocação mariana. Tal capela está situada cerca de Guararema, cidade a 80 quilômetros da capital paulista. Devido à sua proximidade do rio Paraíba, essa vila era freqüentada tanto por pescadores como por viajantes que navegavam rumo ao Rio de Janeiro.

Quando passou por lá, em 1717, o Conde de Assumar, Governador de São Paulo, Escada era uma vila que já possuía sua própria Câmara Municipal. Mas o pequeno núcleo não prosperou, e com sua decadência também foi minguando a devoção mariana que lhe deu origem.

As devoções marianas não constituem, via de regra, um fruto artificial, ocasionado por algum interesse humano. Elas florescem naturalmente quando Nossa Senhora distribui suas graças, valendo-se, por exemplo, de uma imagem sob esta ou aquela invocação. E se o povo é verdadeiramente piedoso, costuma corresponder a essas graças, propaga-se naturalmente a devoção Àquela que o sustenta nas duras lutas da vida.

Quando, porém, a população decai em fervor e não mais invoca a Virgem Santíssima, as devoções ligadas a alguma capela ou imagem também por vezes decaem. As pessoas deixam de freqüentar o local, e vão se olvidando das graças recebidas. Nessas condições, não raro Nossa Senhora opera novo prodígio, a fim de reerguer a antiga devoção. Mas, infelizmente, nem sempre os homens correspondem à nova manifestação da bondade materna.

Dois terremotos e decadência da devoção

Foi o que aconteceu com a imagem de Nossa Senhora da Escada em Portugal. Em 1531 um terremoto destruiu a capela, que foi reedificada. Mas como a devoção continuava decaindo aos poucos, permitiu Nossa Senhora que novo terremoto em Lisboa, mais terrível que o anterior, destruísse o pequeno templo em 1755. Nos dois casos, os edifícios que abrigavam a imagem foram destruídos, salvando-se contudo, milagrosamente, entre as ruínas, tanto a efígie mariana como o altar em que ela se encontrava.

A decadência do culto a Nossa Senhora sob essa invocação havia chegado a tal ponto, que a capela da Escada não foi mais reconstruída. Por isso, a primitiva imagem foi levada para o templo de Nossa Senhora das Mercês em Lisboa, onde se encontra até hoje. Pareceria um triste fim de uma invocação mariana antes tão difundida.

Renascimento promissor

Entretanto, a devoção não morreu. Ela deitou raízes em nosso País, surgindo várias capelas a ela dedicadas, como a que foi edificada na vila da Escada, acima referida, no Estado de São Paulo, e anos atrás em Curitiba, no bairro Novo Mundo.

Peçamos à Mãe de Deus que este seja um sinal do revigoramento dessa bela devoção tão acendrada em nossos ancestrais lusos, especialmente os navegadores, que a trouxeram para a Terra de Santa Cruz.

Nossa Senhora da Conceição da Escada é a Padroeira da cidade de Barueri, cuja festa celebra-se em 21 de novembro.
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Fontes de referência:
– Edésia Aducci, Maria e seus gloriosos títulos, Editora Lar Católico, 1958, 1ª edição.
– Nilza Botelho Megale, Cento e doze invocações da Virgem Maria no Brasil, Ed. Vozes, 2ª edição, Petrópolis, 1986.
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