Mensagem de Natal

Mensagem de Natal
Para os leitores deste blog e suas caríssimas famílias desejamos um Santo Natal e Um Ano Novo cheio de bênçãos da Providência, transcrevo um trecho de uma mensagem de Natal do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (1908 – 1995), que me causou profunda impressão e cujas palavras faço minhas;

“Para o homem de fé, as linhas mestras da História são traçadas segundo critério claro e luminoso: o que foi feito da Igreja Católica e da Civilização Cristã no curso deste ano? O que será de uma e de outra no porvir?

E, no plano temporal, análogas interrogações se apresentam consecutivamente ao espírito: o que foi feito do Brasil, do nosso grande e querido Brasil, envolto hoje em nebulosa mescla de caos e de confusão, de progresso e de carência?

Quer na sublime noite de Natal, quer na noite da passagem de ano, carregada de apreensões e de esperanças, depositemos todos os nossos anseios aos pés do Menino Deus, que sorri misericordioso sob os olhares enlevados de Maria e José. E Lhes supliquemos que os dias vindouros conheçam, pela graça da Deus, regenerações transfiguradoras e, assim, a moralidade geral, hoje em catastrófica decadência, se reerga ao suave e vitorioso bafejo da fé.

Que a Santa Igreja se desvencilhe por fim da crise dramática em que vive nestes dias de confusão e de angústia, e que seja reconhecida por todos os povos como a única Igreja verdadeira do único Deus verdadeiro, como inspiradora e Mãe de todo bem espiritual e temporal. E que, abrindo cada homem a Ela seus corações, Ela ilumine com esplendor solar todos os indivíduos, as famílias, as instituições e as nações.

São esses os votos que formulo, no limiar deste ano, os quais torno cordialmente extensivos a todos os que me são caros e suas respectivas famílias.

Pela intercessão vitoriosa de Maria, nossas preces ver-se-ão atendidas”.

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Existem várias Nossas Senhoras?

Existem várias Nossas Senhoras?
Não existe nenhuma diferença quanto à Pessoa Venerada; trata-se sempre da mesma Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo que aparece na Bíblia.

São apenas diferentes invocações ou títulos que lembram os lugares em que Ela apareceu, ou o modo como Ela se manifestou, ou algum privilégio de que Ela está adornada, ou finalmente algum aspecto especial pelo qual Ela deve ser venerada.

Assim, dou alguns exemplos: Nossa Senhora de Fátima. Esta invocação surgiu a partir das aparições da Virgem em 1917 na Cova da Iria — periferia de Fátima em Portugal, onde Ela se manifestou a três pastorinhos, anunciando castigos para a humanidade se esta não se convertesse, mas que por fim seu Imaculado Coração triunfaria.

Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Por que Aparecida? Porque uma imagem da Imaculada Conceição foi achada — “apareceu” — no Rio Paraíba, em São Paulo, há duzentos e oitenta anos atrás, numa pesca milagrosa, que deu início a uma série de prodígios e bênçãos para a Terra de Santa Cruz.

Nossa Senhora da Imaculada Conceição — nesta invocação os fiéis exaltam o privilégio altíssimo dado por Deus a Nossa Senhora, o fato de ter sido Ela concebida sem pecado original, ou seja, a sua concepção foi sem mácula, sem a mancha do pecado de origem, cometido por nossos primeiros pais no Paraíso. Privilégio único.

Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos — com esta invocação a Igreja incentiva todos os fiéis que estiverem aflitos a se voltarem com especial confiança para a Virgem Santíssima. É a Mãe e Senhora da Consolação!

E, assim por diante, cada invocação de Nossa Senhora tem sua razão de ser, sua luz, seu perfume. Haja vista a Ladainha Lauretana, que é a Sua Ladainha…

Aí está a explicação sobre as várias invocações a Nossa Senhora. E, para encerrar, como de Maria nunca é demais falar, cito as ardentes palavras de S. Luís Maria Grignion de Montfort em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem: “Jesus Cristo deu mais glória a Deus, submetendo-se a Maria durante trinta anos, do que se tivesse convertido toda a terra pela realização dos mais estupendos milagres. Oh! quão altamente glorificamos a Deus, quando, para lhe agradar, nos submetemos a Maria, a exemplo de Jesus Cristo, nosso único modelo“.

Se examinarmos atentamente o resto da vida de Jesus, veremos que foi por Maria que Ele quis começar seus milagres. Pela palavra de Maria Ele santificou São João no seio de Santa Isabel; assim que as palavras brotaram dos lábios de Maria, João ficou santificado, e foi este seu primeiro milagre na ordem da graça. Foi ao humilde pedido de Maria, que Ele, nas núpcias de Caná, mudou água em delicioso vinho, sendo este seu primeiro milagre em público, na ordem da natureza. Ele começou e continuou seus milagres por Maria, e por mediação de Maria continuará a operá-los até o fim dos séculos. É Ela a Medianeira de todas as Graças.

Não existe nenhuma diferença quanto à Pessoa Venerada; trata-se sempre da mesma Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo que aparece na Bíblia.

São apenas diferentes invocações ou títulos que lembram os lugares em que Ela apareceu, ou o modo como Ela se manifestou, ou algum privilégio de que Ela está adornada, ou finalmente algum aspecto especial pelo qual Ela deve ser venerada.

Assim, dou alguns exemplos: Nossa Senhora de Fátima. Esta invocação surgiu a partir das aparições da Virgem em 1917 na Cova da Iria — periferia de Fátima em Portugal, onde Ela se manifestou a três pastorinhos, anunciando castigos para a humanidade se esta não se convertesse, mas que por fim seu Imaculado Coração triunfaria.

Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Por que Aparecida? Porque uma imagem da Imaculada Conceição foi achada — “apareceu” — no Rio Paraíba, em São Paulo, há duzentos e oitenta anos atrás, numa pesca milagrosa, que deu início a uma série de prodígios e bênçãos para a Terra de Santa Cruz.

Nossa Senhora da Imaculada Conceição — nesta invocação os fiéis exaltam o privilégio altíssimo dado por Deus a Nossa Senhora, o fato de ter sido Ela concebida sem pecado original, ou seja, a sua concepção foi sem mácula, sem a mancha do pecado de origem, cometido por nossos primeiros pais no Paraíso. Privilégio único.

Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos — com esta invocação a Igreja incentiva todos os fiéis que estiverem aflitos a se voltarem com especial confiança para a Virgem Santíssima. É a Mãe e Senhora da Consolação!

E, assim por diante, cada invocação de Nossa Senhora tem sua razão de ser, sua luz, seu perfume. Haja vista a Ladainha Lauretana, que é a Sua Ladainha…

Aí está uma das explicações sobre as várias invocações a Nossa Senhora. E, para encerrar, como de Maria nunca é demais falar, cito as ardentes palavras de S. Luís Maria Grignion de Montfort em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem: “Jesus Cristo deu mais glória a Deus, submetendo-se a Maria durante trinta anos, do que se tivesse convertido toda a terra pela realização dos mais estupendos milagres. Oh! quão altamente glorificamos a Deus, quando, para lhe agradar, nos submetemos a Maria, a exemplo de Jesus Cristo, nosso único modelo“.

Se examinarmos atentamente o resto da vida de Jesus, veremos que foi por Maria que Ele quis começar seus milagres. Pela palavra de Maria Ele santificou São João no seio de Santa Isabel; assim que as palavras brotaram dos lábios de Maria, João ficou santificado, e foi este seu primeiro milagre na ordem da graça. Foi ao humilde pedido de Maria, que Ele, nas núpcias de Caná, mudou água em delicioso vinho, sendo este seu primeiro milagre em público, na ordem da natureza. Ele começou e continuou seus milagres por Maria, e por mediação de Maria continuará a operá-los até o fim dos séculos. É Ela a Medianeira de todas as Graças.
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Aspectos pouco lembrados do Natal

Aspectos pouco lembrados do Natal
Por Gregorio Vivanco Lopes
A festa de Natal é a comemoração do nascimento de nosso Salvador em Belém. É a alegria pela vinda do Menino Jesus à Terra. É a Redenção que se inicia. É o gáudio de Maria Santíssima.A cada ano, por ocasião dessa magna data, graças especiais descem sobre os homens. São graças de suavidade, de bem-estar espiritual, de uma felicidade intensa e calma. Quanto mais uma sociedade está penetrada pela influência da Civilização Cristã, mais essas graças se fazem sentir; quanto mais ela estiver paganizada, mais as almas tendem a rejeitá-las, e então elas parecem refugiar-se nos poucos que permanecem fiéis ao sentido autêntico do Natal.

O Natal afugenta os demônios

Mas há um aspecto do Natal que tem sido pouco lembrado ao longo dos últimos tempos: é o fato de que as graças natalinas afugentam o demônio e seus malefícios. A Civilização Cristã sempre o entendeu assim, e numerosas lendas, cheias de beleza e ingenuidade, retratam tal realidade.

Isto não significa que tais lendas devam ser tomadas ao pé da letra em todos os seus pormenores, mas não se pode negar que, freqüentemente, elas são portadoras de verdades profundas. Ao acrescentar poesia e imaginação a certos acontecimentos natalinos, o povo miúdo de Deus consegue exprimir uma realidade espiritual mais alta, que de outro modo lhe seria difícil manifestar. Os teólogos estudarão com termos apropriados e precisos tais assuntos, e isto é necessário. O povo, porém, inspirado pelo Espírito Santo e guiado pelo amor de Deus, os alcança muitas vezes através de um misto de entendimento e fantasia, que deve estar sempre submisso ao olhar materno e vigilante da Santa Igreja.

Traduzimos a seguir algumas lendas natalinas antigas da França e da Inglaterra.

Toque de sino exorcístico

“O momento em que o Maligno finalmente fica reduzido à impotência é o do tilintar do primeiro toque da meia-noite de Natal”.(1)

A raiva do demônio
“Um antigo conto de Natal nos apresenta uma descrição forte e ingênua da raiva do demônio pela vinda do Messias:
“‘Eu me enraiveço’.
O demônio, certamente,
Dentro de seu coração se enraivece,
Porque Deus vem presentemente
Salvar os filhos de Adão
E de Eva, de Eva, de Eva!
Ele reinava absolutamente
Sem nos dar trégua,
Mas esse santo acontecimento
Livra os filhos de Adão
E de Eva, de Eva, de Eva!
Cantemos o Natal altamente,
Saiamos de nosso pesadelo,
Bendigamos a salvação
De todos os filhos de Adão

E de Eva, de Eva, de Eva”.(2)

Sortilégios perdem o poder

“No Limousin, França, percorrendo os campos, encontra-se a crença de que os malefícios, os sortilégios e todas as obras do espírito do mal perdem seu poder na noite de Natal; e que é permitido chegar até os tesouros mais escondidos, pois a vigilância dos monstros –– ou dos seres preternaturais que os guardam –– torna-se nula, ou seu poder suspenso”.(3)

Shakespeare recorda uma lenda

“Dizem que, sempre na época em que é celebrado o Natal de nosso Salvador, o pássaro da aurora canta durante toda a noite; e então, nenhum espírito mau ousa vagar pelo espaço; as noites não trazem malefícios, os planetas não exercem má influência, nenhum encantamento consegue atrair, nenhuma bruxa tem o poder de fazer mal: tão abençoado é esse tempo, e tão sagrado!”.(4)
______________
Notas:
1. http://www.joyeux-noel.com
2. Bíblia dos Natais, p. 33.
3. M. G., de la Société archéologique du Limousin.
4. Shakespeare, Hamlet, ato I, cena I.

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A água benta

A água benta

Origem: Foi Santo Alexandre que governou a Igreja do ano 121 até 132 quem mandou usar o sal na bênção da água. Na lei de Moisés, aspergia-se o povo com água misturada com a cinza do bezerrinho vermelho que imolavam. Chama-se lustral esta água, que limpava o povo das imundícies legais. O que as cinzas eram na Lei de Moisés é o sal na Lei evangélica. O sal simboliza a sabedoria e a amargura da penitência. Antes de benzer a água, benze-se o sal. A água simboliza o batismo, e sempre a dor precede a penitência, como a teologia nos ensina.
Efeitos espirituais da água benta:
1 – Afugenta todo o poder do demônio no lugar em que se joga a água benta;
2 – Apaga os pecados veniais;
3 – Afugenta toda sombra, fantasia e astúcia diabólica;
4 – Tira as distrações na oração;
5 – Dispõe a alma, com a graça do Espírito Santo, à maior devoção.

Efeitos corporais da água benta:
1 – Abundância nos bens temporais;
2 – Afasta as enfermidades;
3 – Afugenta os gafanhotos, ratos e outros animais daninhos e ares pestíferos.

Introduziu-se na Igreja o uso da água benta para apagar aquela cerimônia judaica e gentílica, de lavarem-se antes de entrar na igreja, para pedirem a Deus torná-los limpos e puros. Para apagar esta figura, o cristão pedia ao sacerdote para benzer primeiro a água.
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Santo Antonio, glória e ornato da Ordem Franciscana

Santo Antonio

Santo Antonio, glória e ornato da Ordem Franciscana
Por ocasião das celebrações dos 800 anos do nascimento de Santo Antonio de Pádua, alguns traços da vida e obra daquele que é conhecido como “martelo dos hereges’, “Arca da Aliança”, “Escrínio das Sagradas Escrituras”, “Chave de Ouro”, “Oficina de Milagres”, “Doutor do Evangelho”, ‘Doutor e Lume da Igreja”
Por Luís Carlos Azevedo

De modo geral, o conceito em que é tido entre o povo fiel o glorioso Santo Antonio (1195-1231) não vai muito além de considerá-lo como “o santo casamenteiro” e aquele que “encontra objetos perdidos“.

Tal visão superficial, descuidada e, em certo sentido, prejudicial para uma autêntica piedade, revela quanto a verdadeira fisionomia moral desse santo é desconhecida.

Fernando, como foi batizado, procedia de nobre linhagem portuguesa. Recebeu formação agostiniana e,jovem ainda tornou-se franciscano com o nome de Frei Antonio de Santa Cruz. É conhecido como Santo Antonio de Lisboa, pelo local de seu nascimento, e como de Pádua, cidade onde veio a falecer.

Em contraste harmônico com o espírito incutido pelo seu Pai e Fundador, Santo Antonio abre para a Ordem Seráfica de São Francisco o caminho da cultura e dos estudos teológicos, particularmente voltados ao combate às heresias cátara e albigense (*).

Desenvolveu intenso relacionamento com as Universidades de Bolonha, Tolosa, Montpelliere, Pádua; colaborou estreitamente com os religiosos beneditinos e dominicanos; censurou energicamente Bispos e padres que escandalizavam o povo.

Contemplativo, místico, intelectual vigoroso, mestre e escritor procurado pelos eruditos, pregador de eloqüência
arrebatadora que inflamava as multidões, Santo Antonio é, a justo título, glória e ornato da Ordem Franciscana, apesar de sua breve existência de apenas 36 anos.

Energia e coragem

Malgrado a superabundância dos dons da natureza que ornavam sua alma, Santo Antonio cultivou sempre a humildade e a renúncia, fundamentos de todas as virtudes cristãs.

Embora São Francisco de Assis lhe desse o título honorífico de “meu Bispo” , Santo Antonio considerava-se um

“servo inútil”, fugindo de todos os cargos e dignidades, procurando sempre realizar as funções inferiores e recolher-se na bem-aventurada solidão.

Em maravilhoso contraste com tais disposições de alma, quando as circunstâncias o exigiam, sabia dar mostras de uma força e coragem admiráveis.

Desde os primeiros anos de vida religiosa em Coimbra, teve Santo Antonio notícia dos feitos extraordinários dos cinco primeiros mártires franciscanos que, levando a Religião católica aos muçulmanos do Norte da África, ali verteram o sangue por Nosso Senhor Jesus Cristo. Inflamado no desejo de ser apóstolo e mártir, solicitou instantemente a permissão para participar dessas missões, a fim de expandir o reino de Cristo pela pregação e, se necessário, pelo martírio.

Realmente, o Santo alcançou o litoral da África. Acometido pouco depois por grave doença, foi obrigado, a retomar a Portugal. No percurso, desencadeou-se forte tempestade e a nau, por disposição da Providência Divina, foi impelida para a Itália.

Ali chegando, resolveu ir até Assis, onde encontrou-se com São Francisco. Nessa ocasião o seráfico Patriarca concedeu a Santo Antonio o múnus de ensinar aos frades: “é de meu agrado que ensines Teologia aos irmãos, desde que, em tal tarefa não se apague teu zelo pela santa oração, nem teu espírito de piedade”.

Eloqüente Pregador

Santo Antonio pregou em Portugal, na África, na Itália e na França. Seu zelo levava-o a interessar-se por qualquer um que estivesse na indigência da verdade católica.

De tal maneira cativava as multidões com sua eloqüência, que seus ouvintes, vindos de todas as partes, esqueciam-se do tempo e de suas ocupações e, tocados profundamente, punham-se com decisão a odiar os seus pecados.

Martelo dos hereges

Na acalorada controvérsia sobretudo com os cátaros e albigenses, o campo das disputas foi com freqüência o das Sagradas Escrituras, que os heréticos citavam amplamente e de cor. Aí sobressaiu-se de modo assinalado Santo Antônio de Pádua, cujos célebres Sermões se originaram por dessa necessidade polêmica.

No sul da França, os albigenses eram tão fortes que, com suas denúncias conseguiram fazer expulsar alguns Bispos corruptos. Ademais, faziam pressões sobre os fiéis no sentido de induzi-los a não pagar impostos, e atacavam os eclesiásticos proprietários de terras. Algumas autoridades apoiavam os rebeldes não tanto por simpatias heréticas, quanto pelo motivo de que as disputas davam-lhes oportunidade de assenhorear-se dos bens da Igreja.

Milagres

São incontáveis os “sinais e prodígios” que Deus manifestou através de Santo Antonio. Apenas para exemplificar, citamos alguns.

Martinho, pai do Santo, era senhor de vastas terras. Certa vez incumbiu o filho de espantar os pássaros que esvoaçavam sobre uma plantação de trigo. O rapaz, no entanto, sentindo-se atraído para uma capela vizinha, excogitou um meio de conciliar: sua piedade com a obediência à ordem do pai. Desta forma, mandou que as aves entrassem com ele na capela.

Martinho, ao voltar, irritou-se muito por não ter encontrado o filho no local. Pôs-se então a procurá-lo, sem notar que as aves haviam desaparecido. Após encontrá-lo, rezando devotamente, teve clara explicação do ocorrido ao abrir a porta da capela, quando um bando de passarinhos voou para longe.

Diversas crônicas da época relatam como Santo Antonio livrou seu pai da forca, a que havia sido condenado por suposto crime de homicídio. Simplesmente ressuscitou o morto, para que revelasse quem realmente o havia matado.

Em certa cidade, os hereges recusaram-se a ouvi-lo. Santo Antonio dirigiu seu sermão aos peixes, os quais deram mostra de escutá-lo com atenção. Tal milagre ocasionou inúmeras conversões.

A tradição nos conta que, estando o Santo recolhido no convento, em oração e entregue ao estudo das Sagradas Escrituras, o Menino Jesus lhe apareceu, estreitando-o com seus braços, entre ósculos e carícias.

Na cidade francesa de Arles, enquanto ele pregava contra os hereges a respeito de Cristo Redentor, São Francisco de Assis, que se encontrava na Itália, apareceu pairando no ar com os braços em forma de cruz, como que a confirmar o ensinamento de Santo Antonio.

Em outra cidade da França, Montpellier, deu-se uma bilocação, isto é, o milagre de se estar em dois lugares ao mesmo tempo. Numa igreja, como de costume repleta de fiéis, enquanto pregava do púlpito Santo Antonio se deu conta de que estava incumbido de acolitar a Missa no convento, e que se esquecera completamente de providenciar substituto. Com toda naturalidade fez o sermão e ao mesmo tempo acolitou a Missa …

Santo Antonio faleceu em Pádua a 13 de junho de 1231, tendo sido canonizado apenas onze meses após. Pio XII, em 1946, proclamou-o Doutor da Igreja.

De uma pureza angélica, esse teólogo notável possuía uma devoção terníssima a Nossa Senhora enquanto Assunta aos céus, doutrina que seria declarada dogma apenas em 1950. Eis uma das muitas invocações que ele dirigia à Medianeira universal de todas as graças:

“Nós te suplicamos, ó Senhora nossa, afim de que tu, estrela do mar,faças resplandecer a tua luz sobre nós açoitados pelas tempestades, e nos conduzas ao porto, confortando com a tua presença a nossa última hora, para que possamos sair em paz deste lugar e chegar alegres à inefável bem-aventurança do Céu. Assim seja”.

(*) Cátaros (puros, em grego) ou albigenses: designa movimento herético na Europa do século XII. Seus seguidores repudiavam o matrimônio, a autoridade eclesiástica, os Sacramentos; a veneração das imagens etc. Acreditavam na reencarnação. Foram condenados repetidas vezes, e finalmente reprimidos através de expedições militares.

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FONTES DE REFERÊNCIA
Basílica de Santo Antonio sob a neve, Pádua
Pio XI, Carta Apostólica Antoniana sollemnia, de 10 de Março de 1931.
Pio XII, Carta Apostólica Ad perpetuam, de 16 de Janeiro de 1946.
Dom Prosper Guéranger, L’Année Liturgique -le temps apres la Pentecôte, tomo III, Maison Alfred Mame et Fils, Tours, 1922.
Paolo Scandaletti, Antonio de Pádua, Editora Vozes, Petrópolis (RJ), 1993.
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O zero, invenção “sui-generis”

Papa Silvestre II

O zero, invenção “sui-generis”
O Ocidente latino apresenta um certo número de sábios que recolheram e propagaram as ciências matemáticas, tais como as haviam elaborado os antigos gregos e os hindus, e as haviam aperfeiçoado os árabes. Dentre eles foi célebre Gerbert.
Depois de ter aprendido em Barcelona com mestres árabes, tornou-se primeiramente professor em Remis, onde ensinou as ciências exatas. Depois tornou-se arcebispo de Remis e de Ravena, e por fim Papa sob o nome de Silvestre II. Ele compôs uma aritmética (regula de abaco computi), um tratado da divisão e uma geometria.

Atribui-se a ele uma invenção que nos parece hoje muito simples, mas que transformou o estudo dos matemáticos, proporcionando-lhes os maiores progressos: o zero. Esta cifra, que a Antiguidade clássica não conhecia, simplificou os cálculos e tornou facílimas as operações aritméticas. No século XI, o emprego do zero era já universal.

Jean Guiraud, “Histoire Partiale, Histoire Vraie“)
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Santa Isabel da Hungria: nobreza e resignação heróica no infortúnio

Santa Isabel da Hungria: nobreza e resignação heróica no infortúnio
Nos faustos da corte, piedade. Sob a calúnia e a perseguição, magnanimidade. Na opulência, caridade extremada. E, com a morte, a glória dos altares e da felicidade eterna

Por Roberto Alves Leite

A vida de um santo é uma cruzada épica, em que ele põe todas as suas forças físicas e espirituais em ação. Quer se tenha convertido na maturidade, quer tenha sido aquinhoado desde pequeno com grandes dons, a partir do momento em que decidiu aprimorar-se nas virtudes e combater seus defeitos para alcançar a santidade o aspecto heróico passará a ser uma característica predominante em sua vida. Tal aspecto pode manifestar-se, às vezes, de forma surpreendente.
Quando Santa Isabel da Hungria nasceu, em 1207, cessaram todas as guerras em seu país natal. Seu pai, o Rei André II, da dinastia dos Arpades, e sua mãe, Gertrudes de Meran, descendente direta de Carlos Magno, tinham motivos para se alegrar por esta feliz coincidência.

Quatro anos depois, o Duque Herman, da Turíngia, enviou magnífica embaixada à Hungria para solicitar ao Rei a mão de Isabel para seu filho Luís, de onze anos.

Isabel passou a viver então na corte da Turíngia, onde, à medida que crescia, ia manifestando sua profunda piedade, que caracterizava todos os seus atos. Quando atingiu a adolescência, foi alvo de críticas da parte de nobres da corte, que a acusaram de ser muito religiosa, reservada, sem os traços mundanos que eles julgavam necessários para uma duquesa. Também diziam que ela iria arruinar o reino com as esmolas que dava.

Aos 13 anos, casou-se com Luís. Este tinha todas as qualidades de um autêntico cruzado, um verdadeiro defensor da Igreja. Em 1227 partiu para a Terra Santa como cruzado, com a elite de sua cavalaria, viagem da qual não haveria de voltar, pois morreu na mesma.

Hospedada no lugar dos porcos…

Viúva aos 20 anos, Isabel viu então a perseguição abater-se sobre ela e seus quatro filhos, um dos quais recém-nascido. O Duque Henrique, seu cunhado, que jurara protegê-la, expulsou-a do palácio com seus filhos e duas damas de honra, que lhe permaneceram fiéis. E proibiu à população recebê-la em suas casas.

Assim, em pleno inverno, Isabel viu-se obrigada a andar pelas ruas e bater de porta em porta, na esperança de que alguma alma caridosa se dispusesse a recebê-la. Só conseguiu entrar numa estalagem, onde o dono lhe destinou o lugar onde estavam os porcos, que foram removidos para ali ficar com seus filhos uma duquesa e princesa real.

No dia seguinte vagueou desamparada pela mesma cidade onde tantas pessoas se tinham beneficiado das esmolas que distribuíra com a prodigalidade que lhe era peculiar. Finalmente um padre, pobre também, resolve acolhê-la e dar-lhe certa proteção. Para que os filhos não morressem de fome, é obrigada a aceitar o conselho de deixá-los em mãos de outras pessoas.

Aparições do Redentor, de Nossa senhora e de São João Batista

Em sua vida de miséria e desamparo, Isabel sofreu muitas humilhações, tantas vezes vindas daquelas mesmas pessoas a quem muito tinha ajudado quando estavam necessitadas. Mas Nosso Senhor Jesus Cristo, que a ninguém esquece, aparecia para consolá-la em suas aflições. São João Batista vinha confessá-la, e Nossa Senhora muitas vezes a visitava para a instruir, esclarecer e fortificar. Foi nessa ocasião que decidiu viver apenas para Deus.

Tendo chegado aos ouvidos de seus parentes, na Hungria, as provações por que passava, recebeu ela de seu tio, o Bispo-Príncipe de Bamberg, um castelo à altura de sua posição.

Além disso, os vassalos de seu finado marido, o Príncipe Luís, ao voltarem da Cruzada, dirigiram palavras duras ao usurpador, acusando-o de ter ofendido a Deus e desonrado o Ducado da Turíngia.

Isabel foi então reconduzida aos seus domínios, onde passou a exercer a caridade como desejava; e para melhor fazê-lo, decidiu recolher-se como terceira franciscana.

Virtude heróica: exagero para alguns…

Nesta situação, entretinha-se fiando a lã para dá-la aos pobres. Sua paciência e caridade não tinham limites. Nada a irritava ou descontentava. No atendimento aos doentes, nunca se viu tão maravilhoso triunfo sobre as repugnâncias dos sentidos. Era de espantar ver como a filha de um rei e viúva de um duque tratava os indigentes mais miseráveis. Até pessoas piedosas julgavam que ela exagerava em seus cuidados.

Seu pai, ao saber como vivia, enviou-lhe mensageiros para tentar retirá-la desse “estado miserável”. Ela lhes respondeu que, vivendo assim, era mais feliz que seu pai em sua pompa real. E retomou serenamente seu trabalho de tecer a lã.

Ela sabia unir, com rara felicidade, a vida ativa à contemplativa. Apesar das fatigantes obras de misericórdia a que se dedicava, sempre encontrava tempo para passar longas horas na oração e na meditação.

Era incansável na distribuição de benefícios materiais e espirituais. A um surdo-mudo ordenou, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que dissesse de onde vinha; ao que ele imediatamente obedeceu, contando sua história. Do mesmo modo, cegos, possessos e estropiados eram curados.

Milagres atestam santidade antes e depois da morte

Tinha apenas 24 anos quando Nosso Senhor chamou-a a Si para premiá-la com a glória celestial. Na véspera da morte, sua fisionomia transformou-se. Seu olhar tornou-se resplandecente, manifestando uma alegria e felicidade que cresciam a cada instante. Quando exalou seu último suspiro, um delicioso perfume se espalhou pelo ar, ao mesmo tempo que um coro de vozes do Céu se fez ouvir em cânticos de júbilo. Era o dia 19 de Novembro de 1231.

A notícia de sua morte atraiu verdadeira multidão que desejava contemplá-la pela última vez antes de seu sepultamento. Eram pessoas de todas as condições sociais, que não se constrangiam em arrancar-lhe pedaços das vestes, mechas de cabelo, fragmentos de unhas, etc, guardando-os piedosamente como relíquias.

Para atender a todos foi necessário prolongar a exposição do corpo por quatro dias, durante os quais seu rosto se conservava como o de uma pessoa viva. Na noite que precedeu o enterro, o teto da Igreja se encheu de pássaros desconhecidos, que cantavam melodias inefáveis.

Após sua morte verificaram-se muitos milagres atribuídos à sua intercessão, como a cura de cegos, surdos, leprosos, coxos, paralíticos, etc. Isto suscitou um grande movimento popular pela sua canonização, o que muito contribuiu para que o Papa Gregório IX a elevasse sem demora à honra dos altares, fato ocorrido em tocante cerimônia no dia de Pentecostes, 26 de maio de 1235, decorridos apenas três anos e meio de seu falecimento.

Poucos dias depois, em 1º de junho do mesmo ano, o Papa publicou a bula de canonização, que foi logo enviada aos Príncipes e aos Bispos de toda a Igreja.
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Fonte de referência:

Conde de Montalembert, Histoire de Sainte Élisabeth de Hongrie, Duchesse de Thuringe, Pierre Téqui, Paris, 1930.
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A comunhão espiritual – I

Com o nome de Comunhão Espiritual entende-se o piedoso desejo de receber a Eucaristia, quando não se pode recebê-la sacramentalmente.

“De duas maneiras adverte São Tomás pode-se receber espiritualmente a Cristo. Uma em seu estado natural, e desta maneira a recebem espiritualmente os anjos, enquanto unidos a Ele pela fruição da caridade perfeita e da clara visão, e não com a fé, como nós estamos unidos aqui (na Terra) a Ele. Este pão esperamos receber, também nós, na glória. Outra maneira de recebê-Lo espiritualmente é enquanto contido sob as espécies sacramentais, crendo n’Ele e desejando recebê-Lo sacramentalmente. E isto não só é comer espiritualmente a Cristo, mas também receber espiritualmente o sacramento” (III, 80, 2).

Das palavras finais do Doutor Angélico, deduz-se que a Comunhão Espiritual nos traz, de certo modo, o fruto espiritual da própria Eucaristia recebida sacramentalmente, ainda que não seja ex opere operato, mas unicamente ex opere operantis.

Excelência

Pela noção que acabamos de dar, já se pode vislumbrar a grande excelência da Comunhão Espiritual. Foi recomendada vivamente pelo Concílio de Trento (D 881), e tem sido praticada por todos os santos, com grande proveito espiritual.

Sem dúvida, constitui uma fonte ubérrima de graças para quem a pratique fervorosa e freqüentemente. Mais ainda: pode ocorrer que com uma Comunhão Espiritual muito fervorosa receba-se maior quantidade de graças do que com uma Comunhão Sacramental recebida com pouca devoção. Com a vantagem de que a Comunhão Sacramental não pode receber-se mais do que uma só vez por dia, e a Espiritual pode repetir-se muitas vezes.

Modo de fazê-la

Não se prescreve nenhuma fórmula determinada, nem é preciso recitar nenhuma oração vocal. Basta um ato interior pelo qual se deseje receber a Eucaristia. É conveniente, sem embargo, que abarque três atos distintos, ainda que seja brevissimamente:

a) Um ato de Fé, pelo qual renovamos nossa firme convicção da presença real de Cristo na Eucaristia. É excelente preparação para comungar espiritual ou sacramentalmente;

b) Um ato de desejo de receber sacramentalmente a Cristo e de unir-se intimamente com Ele. Neste desejo consiste formalmente a Comunhão Espiritual;

c) Uma petição fervorosa, pedindo ao Senhor que nos conceda espiritualmente os mesmos frutos e graças que nos outorgaria a Eucaristia realmente recebida.

Advertências

1) A Comunhão Espiritual, como já dissemos, pode repetir-se muitas vezes por dia. Pode fazer-se na igreja ou fora dela, a qualquer hora do dia ou da noite, antes ou depois das refeições.

2) Todos os que não comungam sacramentalmente deveriam fazê-lo ao menos espiritualmente, ao ouvir a Santa Missa. O momento mais oportuno é, naturalmente, aquele em que comunga o sacerdote.

3) Os que estão em pecado mortal devem fazer um ato prévio de contrição, se querem receber o fruto da Comunhão Espiritual. Do contrário, para nada lhes aproveitaria, e seria até uma irreverência, se bem que não um sacrilégio.

(Pe. Antonio Royo Marín, OP, “Teología Moral para Seglares Los Sacramentos – BAC, Madrid, 1984, pp. 245 a 247)
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A espada: Símbolo de heroísmo e pompa

A espada: Símbolo de heroísmo e pompa
Hoje em dia a espada está completamente superada como arma de guerra, e nem pode entrar em cogitação a idéia de afiar uma espada para entrar em combate. Atualmente ela não é arma de guerra nem para a agressão nem para a defesa. Pode-se dizer que está praticamente cancelada da lista dos armamentos modernos.

Entretanto, apesar desse fato, em todos os exércitos dos países civilizados os oficiais a trazem consigo nas ocasiões de grande solenidade. Numa época em que o desaparecimento da espada como arma chega ao seu auge, como símbolo ela ainda é tal, que não se compreende um oficial sem a sua espada.

Por outro lado, em vários países existem Academias de Letras nas quais se usam fardões, e os acadêmicos, nas ocasiões de pompa, portam a espada. No momento em que o literato chega ao auge de sua glória e é proclamado “imortal” — da mais mortal das imortalidades — não lhe dão uma grande pena para usá-la como simbólico adorno, pois ficaria uma tralha ridícula. Ele sente-se inibido se não tiver uma espada. De maneira que o literato envergando o fardão, usa a espada.

Até algum tempo atrás, ao fardão dos diplomatas era também incorporada a espada. Atualmente não sei se ainda a conservam (*).

Por que razão isso é assim?

Porque a espada ficou ligada a uma série de aspectos poéticos e heróicos, símbolos da cavalaria e da dignidade humana, que não se dissociam dela.

Por isso nela costumam estar presentes não só a beleza da forma, mas também a excelente qualidade do material utilizado em sua confecção, muitas vezes ornamentado com incrustações de metais nobres e pedras preciosas. E quando seu detentor é possuidor de fé ardente e espírito sacral, não hesita em colocar uma relíquia do Santo de sua maior devoção no punho da mesma.

Na Antiguidade clássica, ainda não se construíra em torno da espada toda a legenda que, sobre ela, formou-se durante a Idade Média. Esta fase histórica soube ver com profundidade a espada, sublimá-la e transformá-la no mais alto símbolo da dignidade humana.

Um rei para ser coroado usa sempre a espada. Para tudo de elevado, de pompa que o igualitarismo moderno ainda deixou de elevado, usa-se a espada.

O que é mais bonito dizer: “Eu herdei de meu pai uma espada” ou “eu herdei de meu pai uma geladeira, um Cadillac ou uma indústria“?

Pode ser mais lucrativo herdar do pai uma indústria, porém há mais beleza em dizer: “Eu herdei de meu pai uma espada que, nos campos de batalha, defendeu a civilização cristã. Ele foi um herói e morreu na guerra. A espada que usava como militar, como combatente, ele me legou!” Uma espada assim deveria ser guardada numa capela. Pois ela transformou-se numa relíquia. Plinio Corrêa de Oliveira
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Santo Odon, Abade de Cluny, restaurador e consolidador dos fundamentos da Idade Média

Santo Odon

Santo Odon, Abade de Cluny, restaurador e consolidador dos fundamentos da Idade Média

Nos séculos VIII e IX, a Europa passou por uma profunda crise religiosa e social, ocasionada, em grande parte, pelas invasões dos vikings que, devastando cidades e queimando igrejas, abalaram as estruturas políticas, sociais e econômicas então existentes.
A par disso, mosteiros e abadias, antes refúgio da piedade, arte e cultura, estavam em decadência, devido a abusos de membros do alto Clero e da nobreza, os quais apoderavam-se de bens e rendimentos eclesiásticos.

Ademais, alguns nobres nomeavam abades, os quais muitas vezes eram leigos, seus apaniguados. “Os monges, se os havia, estavam reduzidos a um canto, deixados à sua própria sorte, sem franca liberdade e sem verdadeira obediência, reduzidos a vegetar”(1). O relaxamento chegou a tal ponto que levou o Papa João XI a exclamar: “Já não há, por assim dizer, um só mosteiro em que a regra seja observada!”

A situação, infelizmente, não era melhor na Sé de Pedro, Cátedra da Verdade e luz dos povos. Atravessava esta uma terrível noite escura, sucedendo-se os Papas em períodos de pouco mais de dois anos, vítimas que eram do veneno assassino ou de trágicos acidentes naturais. Só entre 822 e 894, 32 Pontífices passaram pelo Trono de São Pedro! (2).

Para reverter essa situação, era necessário uma série de Santos suscitados pela Providência divina, os quais por sua ação reformassem a ordem espiritual para que esta permeasse, em toda a ordem temporal e no âmago da vida dos povos, a seiva do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Um deles, e sob certo aspecto talvez o mais providencial, foi Santo Odon (879-942), Abade de Cluny, chamado a restaurar, ordenar e consolidar em seus fundamentos a sociedade temporal de então, para que ela se elevasse e atingisse seu apogeu, merecendo assim o título — que um autor francês atribuiu à Idade Média — de “a doce primavera da Fé”.

Iniciando Santo Odon a chamada reforma cluniacense, imprescindível para mudar aquele estado de coisas, sua profunda e benéfica influência fez-se logo notar nas duas esferas, a temporal e a espiritual, graças ao grande número de Santos e homens providenciais que formou, e o papel que estes desempenharam. Basta lembrar o grande Papa São Gregório VII, o monge Hildebrando saído de uma das abadias reformadas por Cluny.

Cluny tornou possível uma tão profunda mudança, que permitiu à Idade Média merecer de Leão XIII (1878-1903) o célebre elogio:

“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer” (3).

Nascimento de Odon, fruto da oração paterna

O sábio Abon, pertencente à nobreza militar franca e ligado a muitas das casas reinantes da época, mais nobre ainda pela virtude do que pelo brasão de armas, via os anos escoarem-se sem ter filhos. Numa véspera de Natal, cheio de fervor, suplicou com lágrimas ao Divino Salvador que, pela virtude de Seu nascimento temporal e pela fecundidade de Sua Santa Mãe, tornasse fecunda sua esposa, estéril e já passando à maturidade.

No ano seguinte, 879, seus votos foram ouvidos, dando sua mulher à luz um menino, que recebeu o nome de Odon, que ele se apressou em consagrar a São Martinho de Tours, um dos Santos mais populares da época. Quando Odon atingiu a idade da razão, Abon deu-lhe como preceptor um piedoso sacerdote, que o formou na virtude e no rudimento das letras.

Na puberdade, Odon transformara-se em um belo rapaz, cheio de encanto e boa disposição. O pai, por apego, em vez de cumprir o voto que fizera a São Martinho, destinou-o à carreira das armas, enviando-o para a corte de Foulques II, Conde d’Anjou, e depois para a de Guilherme, o Piedoso, Duque da Aquitânia.

Não é de estranhar que, na vida de corte, o jovem Odon, cada vez mais entusiasmado com caçadas, aprendizado das armas e jogos, fosse deixando seus exercícios de piedade. Mas Deus, que o queria para Si, fazia com que, por mais que procurasse, ele não encontrasse nisso senão desgostos. Ao mesmo tempo, sonhos terríveis — nos quais via a punição de uma vida tíbia e relaxada — o aterravam. Angustiado com esse estado de coisas, o adolescente recorreu à Santíssima Virgem: numa noite de Natal suplicou-Lhe instantemente que se apiedasse dele, e o conduzisse pela reta via da santificação.

No dia seguinte, Odon, então com 16 anos, amanheceu com terrível dor de cabeça, incapaz de manter-se de pé. O estranho mal, que durou três anos, foi se agravando de modo a temer-se por sua vida. Foi só então que o pai, assustado e vendo nisso uma punição de São Martinho, narrou ao filho a consagração feita, aconselhando-o a renová-la por si mesmo. Odon o fez, prometendo servir o Santo até o fim da vida. A cura foi instantânea!

Cônego de São Martinho, monge

Agindo em conseqüência, Odon dirigiu-se a Tours para servir a Deus na igreja de São Martinho. Seu antigo protetor, Foulque d’Anjou proporcionou-lhe uma ermida perto da igreja, e fundou nesta uma Canonia para fornecer a Odon a necessária subsistência. Ali, entre a prece e o estudo, Odon passou alguns anos numa vida de austeridade e penitência que emulava com a dos antigos monges do deserto. Partiu depois para Paris, a fim de prosseguir seus estudos filosóficos e musicais.

De volta a Tours, crescendo nele o desejo do isolamento, dirigiu-se para o Mosteiro de Baume, reformado por São Bernon. Este havia obtido do Papa uma bula colocando seu mosteiro e os que viesse a fundar diretamente sob a tutela do Sumo Pontífice. Evitava assim qualquer ingerência do poder temporal. Empenhou-se em que seus monges observassem rigorosamente a Regra de São Bento.

Isso atraiu-lhe muitos varões desejosos de praticar a virtude, entre os quais Santo Odon e Santo Adgrin. O mosteiro já não podia conter tanta gente. Guilherme, o Piedoso, Duque da Aquitânia, veio em seu auxílio, cedendo-lhe uma propriedade que possuía em Cluny. Desse modo, fundava-se em 910 a Abadia que viria a ser como que a alma da Idade Média (4). O exemplo de Guilherme foi seguido por outros potentados, e São Bernon viu-se à testa de seis mosteiros, fundados ou reformados como o de Baume.

O Abade viu logo em Odon qualidades de inteligência e de alma que prometiam assegurar-lhe o futuro de sua obra. Dedicado à instrução dos noviços e numerosos pensionistas do mosteiro, Odon formou-os nas letras humanas e divinas com prudência e raro talento. Como mestre de noviços visava sobretudo incutir-lhes o desapego dos bens terrenos e a procurar em tudo somente Jesus Cristo.

Migalhas de pão transformadas em pérolas

Um milagre que ocorreu nessa época evidencia quanto Odon era dileto ao Criador. Segundo os hábitos do mosteiro, era de regra que os monges pegassem toda migalha de pão que sobrasse ao redor do prato e a pusessem na boca antes de terminada a leitura.

Ora, Odon as havia recolhido, mas absorto com o que era lido, não as levara à boca a tempo. Como, pela regra, não podia comê-las nem deixá-las, não sabendo o que fazer, esperou o término da oração de ação de graças, foi ao meio do refeitório e, prosternando-se diante do Abade, acusou sua falta. Como este não entendeu o que dissera, Odon abriu a mão para mostrar-lhe as migalhas. Estas tinham se transformado em pérolas de especial valor, que foram depois empregadas nos ornamentos da igreja.

Com permissão do Abade, Odon foi à casa paterna dar assistência religiosa a seus idosos pais. Falou-lhes com tanta unção do desapego deste mundo, que ambos, apesar da idade, renunciaram a tudo e entraram num mosteiro para terminar seus dias.

À sua volta o monge, apesar de sua relutância, recebeu o sublime Sacramento da Ordem, tornando-se sacerdote eternamente.

Abade de Casa religiosa esteio de uma época

Antes de falecer, em 927, São Bernon dividiu seus mosteiros entre seu parente Guy e Odon. Este ficou com os de Déols, Massay e Cluny. Foi neste último que ele se fixou, sendo por muitos considerado seu fundador, pois foi quem organizou e desenvolveu a fundação nascente.

Se São Bernon tornara suas abadias conhecidas na Aquitânia e Borgonha, Santo Odon dar-lhes-ia reputação universal.

Prevendo o papel que a Providência Divina reservava a seus mosteiros, procurou ardentemente aumentar a santa milícia que os compunha e dar-lhe formação proporcional ao papel que desempenharia no futuro.

Nesse trabalho o Abade unia, ao mesmo tempo, intransigência férrea, bondade profunda e um humor sempre alegre que conquistava seus monges: “no recreio faz-nos rir até as lágrimas”, dizia um deles. Mas era sempre ele o primeiro no exemplo da observância às regras, na mortificação e nas mais humilhantes penitências.

O silêncio era tão rigoroso em Cluny, que os monges haviam se acostumado a falar por gestos, e o faziam mesmo quando estavam em missão fora do mosteiro, ou como no caso de dois aprisionados pelos Normandos, na prisão onde se encontravam.

A fama de Odon atraiu ao redor de Cluny muitos anacoretas, desejosos de aproveitar sua direção e conselhos.

O Império monástico cluniacense: sustentáculo do apogeu medieval

“Tudo, nesse grande Santo, tinha proporções admiráveis: sua influência, suas boas obras, sua energia” (5). Por isso, muitos Senhores feudais pediam-lhe que aceitasse abadias para reformar, ou fundasse novas em seus domínios. Assim, o abade de Cluny tornou-se tão grande Senhor temporal, que concorria para a paz da Europa, na qualidade de pacificador e conselheiro, procurado como árbitro entre litigantes.

Desse modo visitou Roma três vezes a pedido dos Papas Leão VII e Estêvão VIII. Foi-lhe solicitado, numa das vezes, que reconciliasse o Príncipe de Roma, Alberico, com seu sogro Hugo, Rei dos Lombardos. Se não obteve deles uma paz definitiva, entretanto ambos foram concordes em testemunhar-lhe grande veneração. Alberico estabeleceu Odon como Arquimandrita de todos os mosteiros situados na vizinhança de Roma, incumbiu-o de reorganizar o Mosteiro romano de São Paulo-fora-dos-Muros, ocupar-se de Subíaco, de Santa Maria no Aventino, de São Lourenço e outros famosos mosteiros romanos ou das cercanias.

Em suas constantes viagens apostó1icas, o Abade de Cluny visitou com sucesso Pavia, Monte Gargano, Salerno etc. Mas nada obteve em Farfa, devido à oposição de dois de seus monges, assassinos do último Abade. Somente após a morte do Santo é que uma expedição militar conseguiu instalar ali um reformador.

Assim, Odon percorreu praticamente toda a França e parte da Itália acrescentando casas religiosas a seu imenso império monástico.

Em cada comunidade, nova ou reformada, o Santo passava uma temporada, fazendo observar a regra cluniacense, seus usos e costumes. Conquistava primeiro os religiosos mais antigos e os de boa vontade, e depois, pouco a pouco, os demais.

Para isso, convocava cada manhã os monges para um capítulo, no qual ia lendo e comentando a Regra, respondendo perguntas e aplainando dificuldades. Dessa forma, com suave firmeza, atraía todos para o mais alto. Quando constatava já progressos, deixava alguns dos seus monges continuando sua obra, e passava a outro mosteiro. De tempos em tempos, voltava para reafervorar os tíbios e estimular os fervorosos.

Para preservar a unidade de regime, de estatutos, de regra e de disciplina nessas abadias, era sempre o Abade de Cluny que as governava através de um Prior local. Cluny tornou-se assim a metrópole e cabeça desse sistema abacial, modelo depois seguido por outras abadias, principalmente por Cister.

Em viagem, era comum ver o poderoso Abade descer de sua cavalgadura para socorrer um necessitado, e, muitas vezes, colocá-lo na cavalgadura, puxando ele a rédea até a localidade mais próxima. Sua caridade não conhecia limites. Mandava que os restos de pão e de vinho que sobrassem no refeitório fossem distribuídos aos pobres peregrinos. Cluny alimentava 18 pobres por dia, sendo que, durante a Quaresma, chegava a distribuir víveres para mais de 7 mil indigentes.

Grande músico, Odon compôs 12 antífonas a São Martinho, um hino ao Santíssimo Sacramento, uma antífona a Santa Maria Madalena, tendo escrito também um trabalho teórico sobre música. Conta-se que nas viagens o santo Abade ensinava os pastores a cantar suas antífonas, presenteando-os quando o faziam bem.

“Nunc dimmitis”, após concluída a obra

Enfim, a obra providencial de Santo Odon estava terminada. Dera o impulso inicial desse verdadeiro império monástico, no qual se praticava a observância mais estrita: “De Benevento ao Oceano Atlântico os mais importantes mosteiros da Itália e das Gálias felicitavam-se de estar submissos a seu comando” (6) Ele podia cantar o seu “Nunc dimittis” (Levai-me agora, Senhor), como o Profeta Simeão após conhecer o Redentor. Estando em Roma, grave doença fez-lhe pressentir que seu fim estava próximo. Odon pediu então muito a seu patrono, São Martinho, que lhe fosse concedido morrer junto a seu túmulo, tendo este Santo lhe restituído a saúde. Depois dos muitos sofrimentos e fadigas de tão longa viagem em lombo de burro e a pé até Tours, lá chegou no próprio dia da festa de São Martinho.

Santo Odon celebrou a Missa com um fervor extraordinário, oferecendo-se a Deus como vítima imolada à Justiça Divina. Três dias depois, caiu novamente de cama, e começou a preparar seus filhos espirituais para prosseguirem sua obra em meio a lamentações e preces de milhares deles provenientes de várias casas. Assim entregou sua alma de fogo ao Criador.

Santo Odon selecionara e formara os discípulos na escola que criara. Cluny continuaria por mais de um século a ser dirigida por discípulos que deram origem à famosa série dos “Santos Abades de Cluny”. Esta começa por seu sucessor direto, Beato Aimar, substituído por São Maiolo, elevando-se depois Santo Odilon, para culminar com aquele que talvez foi o maior de todos eles: São Hugo, que levou Cluny a seu apogeu.

Notas
1. Cfr. Vie des Saints et des Bienheureux, RR. PP. Bénéditins de Paris, Éditions Letouzey et Ané, 1954, tomo IX, pp. 624-25.
2. Santos de Cada Dia, Organização do Pe. José Leite, S. J., Editorial A. O., Braga, 1987, vol. III, p.326.
3. Encíclica Immortale Dei, 1-11-1885, Bonne Presse, Paris, Vol. II, p. 39.
4. Cfr. Celso da Costa Carvalho Vidigal, Cluny, Alma da Idade Média, in Catolicismo nº 61, janeiro de 1956.
5. Les Petits Bollandistes, Vie des Saints, d’après le Père Giry, par Mgr Paul Guérin. Typographie des Célestins, Bar-le-Duc, 1874, tomo XIII, p. 495.
6. Idem.
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