A vocação de São Mateus

São Mateus

A vocação de São Mateus

E, depois disto, saiu Jesus, e viu sentado no telônio um publicano, chamado Levi, e disse-lhe: Segue-me. E ele, deixando tudo, levantando-se, O seguiu. E Levi deu-lhe um grande banquete em sua casa, onde concorreu grande número de publicanos e de outros que estavam sentados à mesa com eles.

E os fariseus e os escribas murmuravam dizendo aos discípulos de Jesus: Por que comeis e bebeis vós com os publicanos e com os pecadores? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos. Não vim chamar os justos, mas os pecadores à penitência. (Lc. 5, 27-32)

Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino na Catena Aurea

Santo Agostinho –– Depois da cura do paralítico, o Evangelista segue falando da conversão do publicano, dizendo: “E depois disto saiu e viu um publicano, chamado Levi que estava sentado no telônio”. São Mateus é esse Levi.

São Cirilo –– Levi era, pois, publicano, homem avarento, desenfreado no que diz respeito às coisas supérfluas, que apetecia o alheio (este é, pois, o oficio dos publicanos); mas dos escritórios da malícia é arrancado pelo chamado de Cristo; de onde segue: “E disse-lhe: Segue-me”.

Santo Ambrósio –– Manda que o siga, não com o movimento do corpo, mas com o afeto da alma. E assim chamado ele por meio da palavra, abandona o que era próprio, aquele que antes tomava o alheio. De onde prossegue: “E levantando-se, deixou todas as suas coisas e o seguiu”.

São João Crisóstomo –– No que se pode ver o poder daquele que chama e a obediência do que é chamado. E não resistiu, nem sequer vacilou, mas imediatamente obedeceu; e não quis sequer voltar à sua casa para contar à sua família o que sucedia. .

São Basílio –– E não só abandonou a arrecadação dos impostos, mas tampouco menosprezou os perigos que podiam vir ao seu encontro, tanto a ele como à sua família, por não prestar em devida forma as contas da arrecadação.

São João Crisóstomo –– O Senhor honrou o chamado de Levi, aceitando imediatamente o convite que este lhe fez; isto lhe inspirava mais confiança. Pelo que segue: “E lhe fez Levi um grande banquete em sua casa”.

E não estava só com Ele, mas havia muitos outros mais. Pelo que segue: E assistiu a ele um grande número de publicanos e de outros que estavam com eles à mesa”.

Tinham vindo os publicanos à casa de Levi para ver seu companheiro e a um homem de sua mesma classe, mas Levi, gloriando-se da presença de Jesus Cristo os convidou a todos para comer.

Jesus Cristo empregava todo o gênero de meios para obter a salvação dos homens; e assim não só disputava, e curava as enfermidades, mas também repreendia aos que tinham inveja; e mesmo quando estava comendo, corrigia também os erros de alguém; ensinando-nos assim que qualquer ocupação e qualquer tempo pode ser-nos útil.

Não evitou a companhia dos publicanos, pela utilidade que se seguiria; como um médico que não curaria a enfermidade se não tocasse a chaga.

(Respondendo à acusação dos fariseus) o mesmo Senhor fez voltar o argumento contra eles, manifestando que não era pecado tratar com os pecadores, mas sim conforme a misericórdia, de onde prossegue: “E Jesus lhes respondeu, e lhes disse: Os sãos não necessitam de médico e sim os enfermos”. No que lhe adverte que eles também pertencem ao número dos paralíticos; mas que Ele é o verdadeiro médico. E prossegue:

“Eu não vim para chamar os justos à penitência e sim os pecadores”. Como que dizendo: Não detesto os pecadores, porque só vim para o bem deles; não para que continuem pecando, mas para que se convertam e se tornem bons.

Comentários do Padre Luís Cláudio Fillion

Depois deste grande milagre (a cura do paralítico de Cafarnaum) dirigiu-se Jesus para a margem do lago. Ali também se aglomerou a multidão de novo, e depois de distribuir-lhe o pão da divina palavra, prosseguiu seu passeio pela margem.

Vendo então sentado em seu escritório de cobrador de impostos o publicano Levi, filho de Alfeu, mais conhecido no Evangelho com o nome de Mateus, lhe disse: Segue-me, chamando-o assim para ser seu discípulo.

Não era a primeira vez que se conheciam; a obediência, pois, imediata e generosa de Levi se explica por si mesma. E ainda que sua conversão tivesse sido obra de um só instante, o fato psicológico estaria de acordo perfeito com o poder admirável de atração que Jesus exercia nos corações.

Pouco depois, este publicano, chamado à dignidade de Apóstolo e evangelista, deu em honra de seu novo mestre um banquete solene ao qual convidou seus antigos colegas e amigos.

Ocasião esta que foi bem oportuna para manifestarem os fariseus sua animosidade contra Jesus. Sem ousar dirigir-se a Ele em pessoa, os fariseus, castigados por suas respostas arrasadoras, perguntaram aos discípulos que estavam presentes ao banquete: ‘Por que vosso mestre come e bebe com publicanos e pecadores?’Entre os judeus de então, publicanos e pecadores eram sinônimos.

O Salvador, que havia ouvido a pergunta insidiosa e pérfida de seus adversários, se encarregou de responder-lhes por si mesmo. ‘Não são os que estão bem de saúde, e sim os enfermos os que necessitam de médico’. Ide e meditai o que significa esta palavra: Quero a misericórdia e não o sacrifício. ‘Pois não vim chamar os justos e sim os pecadores’.

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Pe. Luís Cláudio Fillion, Nuestro Senõr Jesucristo según los Evangelios, Editorial Difusión, Tucumán, 1859, pp. 125-126.
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Senhor Bom Jesus de Tremembé

Senhor Bom Jesus de Tremembé

Senhor Bom Jesus de Tremembé
(Fonte: Revista Catolicismo)
A seis quilômetros de Taubaté, no Vale do Paraíba, situa-se a antiga e pitoresca cidade paulista de Tremembé.

Seus trinta e dois mil habitantes, ainda cheios de religiosidade, cresceram dentro de um cenário rico em tradições que se mantém vivas, graças ao espírito familiar que os caracteriza e os irmana.

Sua história tão encantadora faz jus à cidade e a seus arredores. Tudo remonta ao aparecimento miraculoso da imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembé.

A fundação da vila deu-se no ano de 1669, quando o capitão-mor Manuel da Costa Cabral obteve permissão para erigir uma capela ao Senhor Bom Jesus, em terras de sua propriedade.

Conta-nos a legenda ter, certo dia, aparecido no arraial um velho peregrino de todos desconhecido. Construiu para si uma pequena cabana na qual se trancou, pouco saindo e com ninguém mantendo contacto.

Ali, permaneceu a sós, longe dos olhares; numa rotina de mistérios, mas nem por isso deixando de chamar enormemente a atenção da circunvizinhança.

De repente, desapareceu o velho sem deixar vestígios nem de onde viera nem para onde partira.

Curiosos, os vizinhos dirigiram-se à choupana abandonada e encontraram – para surpresa e alegria geral – uma imagem do tamanho natural de um homem, de belas linhas anatômicas contrastando com expressiva fisionomia de dor, que caracterizam exatamente a atual imagem do Senhor Bom Jesus de Tremembé.

Havia se operado evidente milagre, levando a crer tratar-se de um enviado de Deus o velho peregrino, que deixou na vila uma dádiva do Céu.

Os fiéis, cheios de fervor, para melhor venerarem a imagem, edificaram nas cercanias uma ermida, onde o Senhor Bom Jesus prodigalizava seus favores. Prodígios e milagres que prosseguem até nossos dias, como se pode constatar visitando a sala de milagres existente no próprio edifício da majestosa igreja matriz ou Santuário Menor.

Outro milagre deu-se por ocasião do traslado da imagem da cabana até à ermida. No local onde o Senhor Bom Jesus pousava seus pés, brotou uma fonte cristalina que constitui a atual fonte santa, cujas águas possuem o dom da cura das enfermidades.

No início deste século, ocorreu outro prodígio por ocasião da “gripe espanhola” que assolou Taubaté, causando entre seus habitantes grande número de vítimas. Tendo os fiéis dessa cidade pedido que a imagem venerável do Senhor Bom Jesus viesse em seu socorro, a fim de protegê-la da epidemia que ceifava inúmeras vidas, ficou ela exposta à veneração pública durante dias seguidos.

Não tardou, com efeito, o termo da enfermidade para alegria e conforto de todos. Após esse fato extraordinário, a imagem desapareceu inexplicavelmente para reaparecer, dias depois, na igreja matriz de Tremembé, em seu altar de costume.

O povo acorreu pressuroso ao templo para tomar conhecimento do ocorrido. Após uma análise cuidadosa da imagem, nada de estranho se notou nela, salvo seus pés cheios de barro e poeira da estrada que ligava as duas cidades.

Soube-se, pouco depois, que moradores das margens do caminho tinham visto o Senhor Bom Jesus caminhando em direção à sua cidade e matriz de origem.

Embora não encontrássemos referências escritas a esse último prodígio, ele constitui voz corrente, voz do povo dos dois municípios.

Conhecemos tais pequenas jóias em viagem por essa aconchegante região e contactando pessoas das mais gradas às mais simples daquele bom povo de Deus.

Se ao deixarmos Tremembé sentimos saudades, ganhamos, em contrapartida, um ornamento para nosso espírito. Não são as saudades o ornato da vida?

Praza a Deus possa o leitor sentir, em alguma medida, semelhantes saudades que gostaríamos de compartilhar com cada um pessoalmente, evocando esta pequena história.

Se puder, vá algum dia a Tremembé e recorde-a durante a visita. Reze ao Senhor Bom Jesus, pedindo-lhe que proteja . sempre o Brasil; e reze sobretudo, para que nós brasileiros tenhamos saudades da casa paterna da qual nunca deveríamos ter saído.

Certamente sentirá saudades ao sair de Tremembé. Reconforte-se pois com este ornamento para toda a sua vida. Afinal, as boas saudades configuram um sentimento próprio do Brasil real, do Brasil brasileiro.

Ladainha do Senhor Bom Jesus

Senhor, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós.

Bom Jesus, Filho do Deus vivo, tende piedade de nós.
Bom Jesus, imagem do Pai,
Bom Jesus, Sabedoria eterna,
Bom Jesus, esplendor da luz eterna,
Bom Jesus, Palavra da vida
Bom Jesus, Filho da Virgem Maria,
Bom Jesus, Deus e homem,
Bom Jesus, Sumo Sacerdote,
Bom Jesus, anunciador do Reino de Deus,
Bom Jesus, caminho, verdade e vida,
Bom Jesus, pão da vida,
Bom Jesus, verdadeira videira,
Bom Jesus, irmão dos pobres,
Bom Jesus, amigo dos pecadores,
Bom Jesus, médico das almas e dos corpos,
Bom Jesus, salvação dos oprimidos,
Bom Jesus, refúgio dos desamparados,
Bom Jesus, que viestes a este mundo,
Bom Jesus, que libertastes os oprimidos pelo demônio,
Bom Jesus, traído e aprisionado,
Bom Jesus, atado com cordas,
Bom Jesus, flagelado com açoites,
Bom Jesus, coroado com espinhos,
Bom Jesus que levastes a cruz às costas,
Bom Jesus, que por nós foste crucificado,
Bom Jesus, que aceitastes a morte por amor a nós,
Bom Jesus, que foste depositado no sepulcro,
Bom Jesus, que descestes à mansão dos mortos,
Bom Jesus, que ressuscitastes no terceiro dia,
Bom Jesus, que subistes glorioso aos céus,
Bom Jesus, que estais sentado à direita do Pai,
Bom Jesus, que enviastes o Espírito Santo,
Bom Jesus, que vireis julgar os vivos e os mortos,
Bom Jesus, ouvi-nos. Bom Jesus, ouvi-nos.
Bom Jesus, atendei-nos. Bom Jesus, atendei-nos.
Cordeiro de Deus , que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos Senhor.
Cordeiro de Deus , que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos Senhor.
Cordeiro de Deus , que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.

Oremos: Deus eterno e onipotente, que, para dar ao gênero humano um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se encarnasse e sofresse o suplício da cruz, concedei em vossa bondade que recolhamos as lições de sua paixão para que mereçamos ter parte em sua Ressurreição. Pelo mesmo Cristo, Senhor nosso. Amém.

Oração ao Senhor Bom Jesus de Tremembé

Ó meu bom e dulcíssimo Jesus, flagelado para minha salvação, sois uma chaga viva ante os meus olhos; fito vosso belo rosto, mas, ai! ele perdeu sua beleza, é horrível de ver-se, manchado como está, de sangue, machucaduras e escarros.

Quanto mais desfigurado vos vejo, ó meu Salvador, tanto mais belo vos acho e digno de amor!

Que são, de fato, estas chagas e contusões, senão sinais de vossa ternura para comigo?

Amo-vos, ó meu Jesus, ferido e dilacerado por mim!

Quisera ver-me também todo em chagas por vós, como tantos mártires.

Mas se não vos posso oferecer agora chagas e sangue, ofereço ao menos todas as penas que tiver de sofrer; ofereço meu coração e a vós quero amar o mais ternamente que me for possível.

Ah! a quem deve, pois, minha alma ter amor mais terno que a um Deus flagelado e esgotado de amor por ela?

Amo-vos, ó Deus de amor, amo-vos, ó bondade infinita, amo-vos, meu amor, meu tudo; amo-vos, e quero repetir sem cessar nesta vida e na outra: Eu vos amo, eu vos amo!
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Vitorino Coelho de Carvalho, Subsídios à histórla de Tremembé, Gráfica São Dimas, São José dos Campos (SP). 1957.
As orações e a foto foram publicadas em
http://www.bomjesusdetremembe.org.br/ora.htm
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A miraculosa arte de Santo Antonio de Santana Galvão

Imagem de Santo Antonio e do Menino Jesus à qual Santo Antonio de Santana Galvão aplicou a sua arte. Clique para ampliar

Entre os prodígios atribuídos a Santo Antonio de Santana Galvão, está o ocorrido com uma das imagens conservadas na capela do Mosteiro da Luz, conforme uma narrativa:

“Sobre as imagens da Igreja, há interessante tradição a respeito da de Santo Antonio. Assim como algumas outras, foi feita pelas antigas Irmãs. A escultora fora pouco feliz quanto à posição do Menino Jesus que não ficara voltado para o Santo e sim para a frente.

“Quando Frei Galvão a viu, achou melhor corrigir o defeito, e para tanto bastou tomar a cabecinha do Menino Jesus e voltá-la para a direção desejada; obedeceu-lhe a matéria insensível, e permaneceu a imagem como até hoje a vemos na igreja do Convento.

“Não sabemos quanto há de historicamente verdadeiro nesta ingênua tradição. Uma coisa chama-nos fortemente a atenção: é a graciosíssima expressão do Menino Jesus, muito diferente do ar um tanto inexpressivo de Santo Antonio; diferença motivada, talvez, pelo vestígio da miraculosa arte do Servo de Deus”

A salvação do mundo por meio das preces de Maria Santíssima

A salvação do mundo por meio das preces de Maria Santíssima
Todos os teólogos são acordes em afirmar que, se a salvação raiou para o mundo na época do imperador Augusto, devemo-lo às preces onipotentes de Maria, que conseguiu antecipar o dia do nascimento do Messias.

Ninguém pode dizer quantos anos ou quantos séculos teria ainda demorado a Redenção, sem as preces de Maria.

A reorganização do mundo não veio daqueles que, no tempo de Augusto, se agitavam nas praças públicas ou nos conciliábulos políticos.

Ela veio da oração humilde e confiante da Virgem Maria, inteiramente ignorada por seus contemporâneos e vivendo uma existência contemplativa e solitária, no pequeno recanto onde a Providência a fez nascer.

Sem desmerecer por pouco que seja a vida ativa, é preciso notar que foi por meio da oração e da contemplação, que se antecipou o momento da Redenção.

E os benefícios que o gênio de Augusto, o tino de todos os grandes políticos, de todos os grandes generais, financistas e administradores de seu tempo não puderam dar ao mundo, Deus os dispensou por meio de Maria Santíssima.

Quem mais beneficiou o mundo não foi quem mais estudou, nem quem mais agiu, mas quem mais e melhor soube orar.
(Plinio Corrêa de Oliveira no “Legionário, 25-12-1938”)

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Quando as mães têm Nossa Senhora como modelo

Nossa Senhora é Mãe das mães

Quando as mães têm Nossa Senhora como modelo

Constitui poderosa ajuda, para se ter uma correta devoção marial, o poder beneficiar-se de uma formação familiar psicologicamente adequada a isso, procurando as mães assemelharem-se a Maria Santíssima

Enquanto dava uma aula de catecismo, deparei-me com um sério e complicado problema da vida moderna. Explicava aos meus ouvintes — um grupo de jovens em torno de 17 anos — a gravidade do pecado cometido por Caim contra Abel. Examinei com eles não só o pecado de inveja, e o fato de Caim oferecer a Deus frutos secundários e não os melhores, mas concretamente o crime de assassinar o próprio irmão.
Para minha surpresa, não os sensibilizava a circunstância de que o assassinato, em si gravíssimo, revestia-se de uma gravidade ainda maior sendo um fratricídio. Concordaram em que todo assassinato é ruim, mas não lhes impressionava em particular o fato de ter sido praticado por um irmão.

Nesse momento veio-me a idéia de perguntar quantos deles tinham irmãos. A maioria tinha somente um, geralmente uma irmã, ou não tinha nenhum. Ou seja, a muitos deles faltava o ponto de referência elementar para melhor entender o problema.

Aquela convivência varonil entre irmãos, a confiança recíproca, a união de esforços, a certeza de apoio mútuo, eles não tinham. Conseqüentemente, faltavam a eles pressupostos para entender certas matérias.

Algum leitor poderá achar exagerado levantar esse problema, e argumentar que sempre na História houve filhos únicos, e a eles não faltou a capacidade de sentir ou entender o que é um irmão. É verdade que sempre houve filhos únicos, mas as famílias geralmente eram numerosas, ou até numerosíssimas.

Os que não tinham irmãos, certamente tinham primos, ou então amigos que tinham irmãos, e com isso não lhes faltavam os modelos em que se basear para entender o significado de um irmão. Mas hoje, em famílias modernas com um ou poucos filhos, virou uma regra muito generalizada a falta de irmãos, e até a falta de primos.

Na alma dos jovens a quem eu procurava instruir, faltava um elemento para apreciar o que significa em profundidade esse fato concreto, que é alguém eliminar violentamente um ser tão próximo como um irmão.

Mãe: insubstituível missão

Mas o problema não parou aí. Imediatamente me veio à mente uma outra hipótese: Será que eles entendem corretamente o que significa ser Nossa Senhora nossa mãe? Será que expressões como doçura materna, bondade de mãe, solicitude maternal ou desvelo materno têm para eles o mesmo sentido que para outras gerações? Obviamente, toda precaução é pouca, quando se trata de tema tão delicado.

Perguntei-lhes: Quando vocês estiveram doentes, quem foi a pessoa do sexo feminino que mais se esforçou por tratá-los melhor? Muitos respondiam que fora a mãe, outros mencionavam a irmã, uma enfermeira, uma avó ou até uma vizinha.

Outra pergunta: Quando choraram a última vez, quem foi a pessoa que mais procurou consolá-los? As respostas foram as mesmas, só que apareciam também uma amiga ou uma colega de aula. Mais uma pergunta: Quando tiveram um problema que não queriam contar a seu pai, a quem o contaram? De modo geral, a proporção foi a mesma: metade recorria à mãe, e os outros a outra pessoa.

Família normalmente constituída

Depois, ao longo do tempo, nas conversas individuais que ocasionalmente se apresentavam, indaguei discretamente sobre o que pensavam seus pais de tal ou qual problema. As respostas eram boas por um lado, mas por outro deixaram-me com uma sensação de profunda melancolia, ao constatar que a atual geração, por assim dizer, conhece pouco o que é uma família normal na sua plenitude.
Alguns tinham pais separados, divorciados, ou nem conheceram o pai. A mãe tinha que ser a figura que impunha a disciplina, e ao mesmo tempo a que representava a misericórdia. Outros tinham parentes altamente exigentes, que freqüentemente os obrigavam a estudar, e estudar muito, afirmando que, após a morte deles, o jovem teria que se arranjar sozinho no mundo.

Outros viam pouco seus pais, pois as condições da vida moderna exigiam-lhes trabalhar muito, e às vezes em horários nada favorecedores ao convívio familiar. Os pais de alguns pareciam preferir que eles não crescessem, e que fossem sempre meninões.

A outros, os pais exageravam na proteção, a ponto de nem deixá-los sair com amigos. Em todos os casos pesavam sobre as famílias as condições desfavoráveis da vida moderna nas grandes cidades.

Uns pelos outros, é como se a palavra mãe perdesse algo do significado que tinha para as gerações anteriores. A falta de uma Civilização Cristã, na qual as exigências da vida sejam adequadas à Religião e à moral (não só à economia e ao prazer) produz também no santuário do lar os seus frutos amargos.

A Mãe de todas as mães

Por outro lado, a graça de Deus atua nas almas para contrabalançar tais efeitos. Há mães que, apesar de terem necessidade de trabalhar longas horas fora de casa, ou cuidar elas sozinhas de sua prole, nem por isso lhes falta a dedicação, a entrega, o desvelo pelos filhos. São mães que se sacrificam por eles. Por pouco que fosse o tempo disponível para dedicar a seus filhos, estes notavam o carinho, e o comentavam.

Sob certo ponto de vista, a dedicação materna ajuda na formação religiosa dos filhos, pois para eles a idéia de que Nossa Senhora é nossa mãe, que a cada momento nos protege e cuida de nós, os enche de consolação. No fundo, a concepção que aqueles jovens tinham de Nossa Senhora dependia muito da idéia que faziam da própria mãe.

Daí a séria responsabilidade que têm as mães em serem virtuosas, pois, entre outras coisas, estarão colocando a cada dia, a cada minuto, na cabeça de seus filhos, os pontos de referência a partir dos quais eles vão entender depois as verdades da nossa Religião.

E não é só na cabeça dos filhos, pois muitas vezes elas são também os modelos admirados por outros jovens ou crianças que com elas tomam contato. Pode ser que elas mesmas não notem, ou que jamais alguém mencione para elas esse fato, mas diante de Deus isso tem um valor enorme.

Fica aqui este ponto de meditação para todas as mães. Na medida em que elas se esforçam para ser como que um reflexo de Nossa Senhora, fazem um apostolado da maior importância. E a Virgem Santíssima, Mãe de todas as mães, saberá premiar tão excelente esforço.
(Valdis Grinsteins)
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Devoção ao Anjo da Guarda e aos Santos

Anjo da Guarda

Devoção ao Anjo da Guarda e aos Santos

Devoção ao Anjo da Guarda

“Havemos de venerar e invocar devotamente o santo anjo da guarda porque:

1. Ele é um eminente príncipe da corte celeste;

2. Ele nos foi designado por Deus como nosso companheiro, protetor e guia.

Lembra-te sempre de sua presença, e nunca faças à vista dele o que não ousarias fazer à vista de tua mãe.

Em todos os perigos corporais e espirituais, invoca-o e segue suas inspirações. Não te esqueças de que também o teu semelhante tem o seu anjo custódio. Saúda também a este anjo muitas vezes, e regula o teu procedimento com o próximo de conformidade com essa verdade.

Devoção aos santos

Havemos de venerar também os santos, porque:

1. São amigos prediletos de Deus;

2. São modelos proeminentes da perfeição;

3. São poderosos e pressurosos intercessores.

A mais excelente devoção aos santos consiste, também neste caso, em lhes imitar as virtudes. Há entretanto, na vida dos santos, certos exercícios que mais são para admirar do que para imitar. As vidas dos santos constituem ótima leitura espiritual. Lendo-as, devemos ter em vista sobretudo nossa edificação e o afervoramento na prática das virtudes.

Uma devoção muito especial devemos ter a São José, ao santo de nosso nome, ao de nossa paróquia, enfim, àqueles santos que se distinguiram nas virtudes que mais nos faltam”.
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Fonte: Fr. Antônio Wallenstein, O.F.M., Catecismo da Perfeição Cristã, Editora Vozes, Petrópolis, 1956, III edição.

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O Sacerdócio visto por São João Maria Vianney (Santo Cura d’Ars)

São João Maria Vianney padroeiro dos sacerdotes

O Sacerdócio visto por São João Maria Vianney (Santo Cura d’Ars)

“Se tivéssemos fé, veríamos Deus oculto no sacerdote, como a luz por trás da vidraça, como vinho misturado na água.”

“Devemos considerar o padre quando está no altar e no púlpito como se fosse o próprio Deus”

“Oh! como o sacerdote é algo sublime! Se ele se apercebesse morreria… Deus lhe obedece: diz duas palavras e Nosso Senhor desce do céu.”

“Se não tivéssemos o sacramento da Ordem, não teríamos Nosso Senhor. Quem o colocou no tabernáculo? O padre. Quem foi que recebeu nossa alma à entrada da vida? O padre. Quem a alimenta para lhe dar força de fazer sua peregrinação? O padre.

“Quem a preparará para comparecer perante Deus, lavando a alma pela última vez no sangue de Jesus Cristo? O padre, sempre o padre. E se alma vier a morrer, quem a ressuscitará, quem lhe dará a calma e a paz? Ainda o padre.”

“O Sacerdote não é para si, mas para vós…

“Quem recebeu vossa alma à sua entrada na vida? É o sacerdote. – Quem a sustenta para dar-lhe a força de fazer sua peregrinação? O sacerdote. – Quem há de prepará-la para se apresentar diante de Deus, purificando-a pela última vez no sangue de Jesus Cristo? O sacerdote, sempre o sacerdote. –

“E se a alma morrer quem há de ressuscitá-la? Ainda o sacerdote. – Não há benefício alguma de que vos lembreis sem ver logo ao lado desta recordação a figura do sacerdote. – O sacerdote tem as chaves dos tesouros celestiais; é o procurador de Deus, é o ministrador de seus bens.”

“Só no céu compreenderemos a felicidade de poder celebrar a Missa.”

“O padre não é para si. Não dá a si a absolvição. Não administra a si os sacramentos. Ele não é para si, é para vós.”

“Se um padre vier a morrer em conseqüência dos trabalhos e sofrimentos suportados pela glória de Deus e a salvação das almas não seria nada mal.”

“O Sacerdote só será bem compreendido no céu… Se o compreendêssemos na terra, morreríamos, não de pavor, mas de amor.”

“Se não fosse o padre, a morte e a Paixão de Nosso Senhor de nada serviriam.”

“O Sacerdote é o amor do Coração de Jesus. Quando virdes o padre, pensai em Nosso Senhor Jesus Cristo.”

São João Maria Vianney é padroeiro dos sacerdotes e a Igreja celebra sua festa no dia 4 de agosto.

(São João Maria Batista Vianney)
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A “Salve Rainha”, canto de guerra para as Cruzadas completado por São Bernardo

Salve Rainha, Mãe de misericórdia

A “Salve Rainha”, canto de guerra para as Cruzadas completado por São Bernardo
Quantas vezes dos lábios piedosos a todo momento, um pouco por toda parte, se levanta ao Céu a oração Salve Rainha! Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, Salve, etc., etc.

Mas, quantos sabem qual é a sua origem? Sabem que foi composta especificamente como um canto de guerra para os Cruzados?

Pois bem, eis a origem dela.

Ela é atribuída ao bispo de Puy, Dom Adhemar de Monteuil, membro do Concílio de Clermont, onde foi resolvida a primeira Cruzada. Adhemar seguiu a Cruzada na qualidade de legado apostólico e compôs a Salve Rainha, ou Salve Regina em latim, para que se tornasse o canto de guerra dos cruzados.

A princípio, a antífona acabava por estas palavras: nobis post hoc exilium ostende. A tríplice invocação que a termina presentemente foi acrescentada por São Bernardo, e merece ser narrado como se fez.

Na véspera do Natal do ano de 1146, S. Bernardo, mandado para a Alemanha como legado do Papa, fazia sua entrada solene na cidade de Spire, depois de uma viagem memorável na qual os milagres foram numerosos.

O bispo, o clero, os cidadãos todos, com grande pompa vieram ao encontro do santo e conduziram-no, ao toque dos sinos e dos cânticos sagrados, através da cidade até a porta da capital, onde o imperador e os príncipes germânicos o receberam com todas as honras devidas ao legado do Papa.

Enquanto o cortejo penetrava no recinto sagrado, o coro cantou a Salve Rainha, antífona predileta do piedoso abade de Claraval.

Bernardo, conduzido pelo imperador em pessoa e rodeado da multidão do povo, ficou profundamente comovido com o espetáculo que presenciara.

Acabado o canto, prostrando-se três vezes, Bernardo acrescentou de cada vez uma das aclamações, enquanto caminhava para o altar sobre o qual brilhava a imagem de Maria: O clemens! O Pia! O dulcis Virgo Maria! — Ó clemente! Ó piedosa! Ó doce Virgem Maria!

(“Maria ensinada à mocidade” – Livraria Francisco Alves, Rio, 1915)
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São Francisco de Assis servo perfeito da Dama Pobreza

São Francisco de Assis

São Francisco de Assis servo perfeito da Dama Pobreza

Uma das maiores vocações da História da Igreja, o fundador da Ordem Franciscana recebeu os estigmas do Redentor e tornou-se um sustentáculo da Igreja universal; modelo de despojamento total, não desprezava os ricos; possuía a alegria que deriva da pureza do coração e da constância na oração

São Francisco de Assis, um dos santos mais populares do mundo, marcou profundamente não só a vida da Igreja, mas também a sociedade temporal de sua época. Comemoramos sua festa no dia 4 de outubro.

Poucos santos exerceram uma influência tão determinante na história civil e eclesiástica de seu tempo como o Poverello de Assis. E poucos terão levado as máximas evangélicas tão longe quanto esse homem que se identificou tanto com Nosso Senhor Jesus Cristo crucificado, que mereceu receber em seu corpo os sagrados estigmas da Paixão.

Francisco nasceu em 1182 na pequena e poética cidade de Assis, situada nos Apeninos. Seu pai foi Pedro Bernardone — que se tornará famoso por sua usura e cegueira em relação ao filho — e sua mãe uma dama de origem francesa, de nobre sangue e grande virtude, chamada Pica.

Narra uma lenda que esta, sentindo as dores do parto, não conseguia dar à luz, até que se trasladou à estrebaria da casa, nascendo assim Francisco, à semelhança do Salvador, sobre a palha, entre o asno e o boi.

Alegre, esbanjador, mas temente a Deus

Nada sabemos da infância do Santo. Na Legenda de São Francisco (ou Dos Três Amigos), escrita por três de seus primeiros discípulos, lemos: “— Já crescido, como era dotado de inteligência viva, dispôs-se a continuar o ofício paterno, isto é, a mercancia, porém com outros entendimentos, pois ele era muito mais alegre e liberal do que o pai: gostava de andar em festiva companhia, quer durante o dia quer durante a noite, pelas estradas de Assis, em divertimentos e cantos, e era tão grande esbanjador, que gastava em reuniões e banquetes tudo quanto ganhava”1. Ao que acrescenta São Boaventura, terceiro geral dos franciscanos, contemporâneo e póstero do Poverello: “Mas, com o auxílio divino, jamais se deixou levar pelo ardor das paixões que dominavam os jovens de sua companhia”2.

O próprio Francisco confessa: “— Eu verdadeiramente creio nunca haver, por graça de Deus, cometido falta sem ter feito disso expiação, confessando o meu pecado e arrependendo-me da minha culpa3.

Alegre, jovial, desprendido, gentil, afável, “— o Senhor incutia em seu coração um sentimento de piedade que o tornava generoso com os pobres. Este sentimento foi crescendo em seu coração; e impregnou-o de tanta bondade, que ele decidiu, como ouvinte atento que era do Evangelho, ser generoso com quem lhe pedisse esmola, sobretudo a quem pedisse por amor de Deus”4, de modo a dar até parte de seu vestuário, se não tivesse mais dinheiro.

A popularidade que Francisco adquirira até então entre seus conterrâneos devia-se mais às suas qualidades morais que às físicas, pois “— era pequeno e de aspecto miserável”5, atraindo pouco a atenção daqueles que não o conheciam.

“Despreza o que amaste” — entrega à Dama Pobreza

Levava ele essa alegre e despreocupada vida, quando teve as primeiras revelações divinas que o chamavam para uma vida mais elevada. Rezando um dia na igreja de São Damião, ouviu o Crucificado pedir-lhe que restaurasse Sua casa, que estava em ruínas. Tomando as palavras literalmente, empenhou-se na reforma não só desse templo, mas de dois outros mais. O Divino Redentor, porém, pediu que sobretudo restaurasse não os edifícios das igrejas, mas a própria Igreja enquanto instituição.

Mas disse-lhe o Salvador: “Se queres conhecer minha vontade, precisas desprezar todas as coisas que até aqui materialmente amaste e desejaste. Quando tiveres feito isto, ser-te-á agradável tudo quanto te é insuportável e se tornará insuportável tudo quanto desejas6.

Foi então que interveio Pedro Bernardone, pois o filho dava de esmola tudo o que tinha e passou a levar uma vida considerada insensata pelo mundo. Ocorreu nessa época o conhecido episódio de o pai apelar ao Bispo para fazer cessar as “extravagâncias” do filho; este se apressa em despojar-se até da roupa do corpo, para satisfazer a ganância do pai. Depois disso Francisco entregou-se inteiramente ao que chamou a Dama Pobreza, seguindo ao pé da letra os conselhos do Evangelho.
Fundação dos Frades Menores

“Como outro Elias, começou Francisco a anunciar a verdade, no pleno ardor do Espírito de Cristo. Convidou outros a se associarem a ele na busca da perfeita santidade, insistindo para que levassem uma vida de penitência. Começaram alguns a praticar a penitência, e em seguida se associaram a ele, partilhando a mesma vida, usando vestes vis. O humilde Francisco decidiu que eles se chamariam Frades Menores” 7.

Surgiram assim os primeiros 12 discípulos que, segundo registram os Fioretti, “foram homens de tão grande santidade que, desde os Apóstolos até hoje, não viu o mundo homens tão maravilhosos e santos”
8. “Aqueles que vinham abraçar esta vida distribuíam aos pobres tudo o que tinham. Contentavam-se só com uma túnica, uma corda e um par de calções, e não queriam mais”, dirá mais tarde Francisco em seu Testamento9.

Os novos apóstolos reuniram-se em torno da pequena igreja da Porciúncula, ou Santa Maria dos Anjos, que passou a ser o berço da Ordem.

O Santo sustém a Igreja Católica

Para obter a aprovação de sua incipiente Ordem, Francisco dirigiu-se a Roma. E o Senhor era com ele, pois, pouco antes de chegar, e para preparar-lhe o terreno, “o Pontífice Romano viu em sonho a basílica de Latrão, prestes a ruir; mas um pobrezinho, homem pequeno e de aspecto miserável, sustentava-a com seus ombros, impedindo que ruísse”10. Quando o Sumo Pontífice viu em sua presença o Poverello de Assis, reconheceu-o, abraçou-o, e disse a ele e a seus companheiros: “Irmãos, ide com Deus e pregai a penitência, segundo vos será inspirada. Quando tiverdes crescido em número e o Senhor aumentado suas graças a vosso favor, tornai a nós, que vos concederemos o que desejardes e ainda mais11.

Munidos dessa aprovação pontifícia, os novos religiosos saíram para pregar, em duplas, percorrendo as cidades da região e mostrando aos seus habitantes, pela palavra e pelo exemplo, o caminho da salvação.

Espírito e força de Elias

Certa noite os frades viram um carro de fogo de um esplendor maravilhoso, com um globo brilhante, parecido com o sol, entrar pelo aposento em que estavam, dando três voltas no recinto. Compreenderam que Deus quisera mostrar-lhes, por aquela figura, “que seu pai Francisco viera ‘no espírito e na força de Elias’. Desde então [Francisco] penetrava os segredos de seus corações, predizia o futuro e realizava milagres. Estava patente para todos que o espírito de Elias, duas vezes mais poderoso, viera habitar nele com tal plenitude, que o mais seguro para todos era seguir sua vida e ensinamentos”12.

Francisco manifestava seu amor a Deus por uma alegria imensa, que se expressava muitas vezes em cânticos ardorosos. A quem lhe perguntava qual a razão de tal alegria, respondia que “ela deriva da pureza do coração e da constância na oração”.

Essa divina loucura da cruz, que assomou Francisco e lhe angariou muitos discípulos, devia atrair também uma jovem, filha do Conde de Sasso Rosso, Clara, de 17 anos. Desde o momento em que ouviu o Pobrezinho pregar, compreendeu que a vida que ele indicava era a que Deus queria para ela. Francisco tornou-se seu guia e pai espiritual de sua alma.

Como os pais tinham outros planos para Clara, foi preciso que ela fugisse para a igrejinha da Porciúncula, onde Francisco cortou-lhe os cabelos e fê-la vestir um simples hábito. Nascia assim a Ordem Segunda dos Franciscanos, a das Clarissas. Duas semanas depois, Inês, irmã de Clara, a seguia no claustro, e mais tarde uma terceira, Beatriz.

Não desprezar os ricos

Apesar de pregar sobretudo aos pobres e com eles identificar-se, “Francisco tinha o hábito de alertar seus discípulos, exortando-os a não condenar e não desprezar ‘aqueles que viviam na opulência e vestiam com luxo’. Dizia que ‘também esses têm a Deus por senhor, e que Deus pode, quando quer, chamá-los, como aos outros, e torná-los justos e santos‘” 13. Um desses nobres deu ao Poverello o Monte Alverne, onde ele receberia a maior graça de sua vida.

Encontro de dois homens providenciais

Em 1217, indo a Roma, Francisco encontrou-se com outro luminar da Igreja da época, Domingos de Gusmão, que também havia fundado uma Ordem religiosa para combater a decadência dos costumes. Os dois santos se abraçaram, estabelecendo uma amizade solidificada pelo amor de Deus.

Pouco depois Francisco recebia em sua Ordem um dos que seriam sua maior glória e se tornaria um dos santos mais populares do mundo, Frei Antônio de Lisboa — mais tarde, também “— de Pádua”.

Dissabores e fundação da Ordem Terceira
Uma das maiores dores de Francisco foi ver surgir uma nova tendência entre seus frades, chefiada pelo Superior Frei Elias, que dava uma orientação diferente da do Santo, principalmente em relação aos estudos e ao modo de se observar a pobreza. Francisco chegou a amaldiçoar Frei Pedro de Stacia, um dos frades da nova tendência.
Por outro lado, eram tantos os leigos que, ligados pelos laços do matrimônio ou com outros encargos terrenos, não podiam observar inteiramente as regras franciscanas, mas queriam pertencer à sua família de almas, que Francisco fundou uma Ordem Terceira para abranger a todos. Muitos grandes personagens — como São Luís, Rei de França, e Santa Isabel, Duquesa da Turíngia — a ela pertenceram.
Recepção dos estigmas

Dois anos antes de sua morte, tendo Francisco ido ao Monte Alverne em companhia de alguns de seus frades mais íntimos, pôs-se em oração fervorosa e foi objeto de uma graça insigne. Na figura de um serafim de seis asas apareceu-lhe Nosso Senhor crucificado que, depois de entreter-se com ele em doce colóquio, partiu deixando-lhe impressos no corpo os sagrados estigmas da Paixão. Assim, esse discípulo de Cristo, que tanto desejara assemelhar-se a Ele, obteve mais este traço de similitude com o Divino Salvador.

Cantando os louvores da “Irmã Morte”

Em sua última doença, e já próximo à morte, queria Francisco que Frei Ângelo e Frei Leão permanecessem junto a seu leito para cantar os louvores da “Irmã Morte”. Àqueles que se escandalizavam com essa atitude, respondia: “Por graça do Espírito Santo, sinto-me tão profundamente unido ao meu Senhor Deus, que não posso deixar de me alegrar nEle14.

“Por fim, tendo-se realizado nele todos os planos de Deus, o bem-aventurado adormeceu no Senhor, rezando e cantando um Salmo” 15, no dia 4 de outubro de 1226, aos 45 anos, sendo canonizado apenas dois anos depois.

Notas:
1. Legenda de São Francisco, escrita pelos três humildes irmãos franciscanos Leone, Rufino e Angelo, no Ano da graça de 1246″, transcrição livre de Brasil Bandecchi, São Paulo, 1957, p. 13.
2. São Boaventura, Legenda Maior e Legenda Menor — Vida de São Francisco de Assis, Vozes, 1979, p. 21.
3. Specumlum Perfectionis, in Johannes Joergensen, São Francisco de Assis, Vozes, 1957, p. 316, nota 345.
4. São Boaventura, id, ib.
5. Id. ib., p. 174.
6. Legenda de São Francisco, p. 25.
7. São Boaventura, op. cit., p. 173.
8. Las Florecillas, Zeus, Madrid, 1963, p. 22.
9. Joergensen, op. cit., p. 137.
10. São Boaventura, op. cit., p. 174.
11. Legenda de São Francisco, pp. 66,67.
12. São Boaventura, id., p. 175.
13. Joergensen, op. cit., p. 216.
14. Id. ib., p. 393.
15. São Boaventura, op. cit., p. 200.
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A extremosa bondade de Maria

Sant�ssima Virgem, socorrei-me

A extremosa bondade de Maria Eis um fato ocorrido em 1894, narrado por Mons. Bruguière, vigário apostólico de Tchen-Ting-Fu. Na sua simplicidade, o fato aterrador é prova da bondade de Maria.

Ia eu crismar numa aldeia do meu vicariato. À minha chegada, os poucos cristãos prestavam-me todas as honras possíveis: “É o grande chefe dos cristãos, é o excelso mandarim que passa” murmuravam os habitantes. Ao meio dia, no momento de tomar uma parca refeição, chegou correndo uma mulher pagã. Apresentou-se de repente, inclinando-se até o chão e cumprimentando-me com os títulos pomposos de grande homem, grande mandarim.

Conhecendo perfeitamente o pouco valor dessas demonstrações exageradas da civilidade chinesa, fiquei desconfiado:

Que queres? perguntei-lhe, com semblante severo.
Grande chefe, peço-vos o favor de ser admitida na catequese dos cristãos.
O que te levou a tomar esta decisão?
Gastaria muito tempo para contar-vos Respondi.
Não faz mal. Tenho muito tempo para escutar-te.

A mulher, de compleição doentia, tinha por marido um sujeito brutal, que estava resolvido a deixá-la morrer, apesar de tudo quanto pudesse acontecer. Abandonou-a, vindo apenas de longe em longe para ver os progressos da doença. A mulher ficou na cama, e acabados os mantimentos e remédios, à sua fraqueza juntou-se o tormento da fome, e aos sofrimentos um isolamento duro e cruel.

Descorçoada e nas portas da morte, amaldiçoou a sua sorte, seu marido e até seus próprios pais. Uma cristã da aldeia levou-lhe um dia uns docinhos e algumas palavras de consolo:

Amiga, se ao menos você fosse cristã. Veja, a dor não pode desanimar-nos, pois sabemos que Deus vê nossos padecimentos e nos recompensará. Também podemos recorrer à Santíssima Virgem, dizendo-lhe: Santíssima Virgem, socorrei-me; Vós, que tanto padecestes, tende dó de mim.

A doente repetiu essas palavras. A caridosa vizinha, antes de voltar para casa, como penhor de amizade, dependurou-lhe ao pescoço o bentinho que trazia:

Olhe, guarde isto. É o vestido de Nossa Senhora, e há de atrair sobre você graças e proteção.

Ficando sozinha, a doente repetia com freqüência: “Santíssima Virgem, socorrei-me”. De repente, uma Senhora vestida de branco apareceu-lhe na pobre choupana, servindo-lhe de enfermeira. Voltou seguidamente vários dias, para prestar-lhe serviços e sem dar-se a conhecer. Seus cuidados, sua bondade, seu brando sorriso reanimaram pouco a pouco a alma e o corpo da infeliz mulher. Restabelecida a doente, a Senhora despediu-se, dizendo:

Vou deixar-te, porque um negócio urgentíssimo me chama à cidade. Toma este remédio, e quando sarares de todo, vem ter comigo. Encontrar-me-ás na igreja da matriz.

A doente tomou o remédio e sarou logo. Era o dia 5 de janeiro, dia da minha chegada à aldeia. Esta mulher pagã falava-me de um modo tão sincero, que não duvidei de suas palavras e aceitei-a na catequese da cidade. Não tinha sossego, tão aflita estava por tornar a ver a sua bela benfeitora. No Sábado de Aleluia, os catecúmenos foram introduzidos na Igreja. Acabava eu de rezar o Gloria in excelsis Deo, os sinos repicavam com alegria, e as imagens já estavam descobertas.

Ei-la! Ei-la! gritou uma mulher, adiantando-se de braços erguidos. Eis a Senhora que me curou.

Os vizinhos lhe disseram:

Você não pode entrar no santuário. Pare aí.

De mãos postas e olhos fitos na imagem, ela ajoelhou-se, soluçando de alegria. Hoje é uma das mais fervorosas devotas de Nossa Senhora.

(“Maria ensinada à mocidade” – Livraria Francisco Alves, 1915)
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