Santa Hildegarda (1098 — 1998): luz animada pela inspiração divina

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Santa Hildegarda (1098 — 1998): luz animada pela inspiração divina
Cresce em todo o mundo o interesse pela apaixonante vida dessa que foi uma das maiores Santas da Alemanha na Idade Média, reunindo ao mesmo tempo as qualidades de mística, profetiza, escritora, pregadora, conselheira, médica e compositora.

Por Atílio Faoro
Frankfurt

— Após nove séculos, continua viva na memória dos católicos, especialmente os alemães, essa grande Santa — São Bernardo chamou-a luz animada pela inspiração divina– , que aconselhava Papas, Bispos e Imperadores.

Neste nono centenário do nascimento da grande mística do século XII, vários estudos e publicações sobre sua vida e obra têm sido editados na Alemanha. Catolicismo, não poderia deixar de abordar esse importante tema na seção Vida de Santos, tendo em vista que a festa litúrgica de Santa Hildegarda comemora-se a 17 do corrente.

Estamos no ano de 1097. A Cristandade, Oriente e Ocidente unidos, está dominada por um só pensamento: libertar a Terra Santa! Reinos católicos inteiros engajam-se numa enorme mobilização que ficará conhecida na História como as Cruzadas. Há pouco, em 1095, multidões tinham aclamado com entusiasmo o Papa Urbano II que, em Clermont-Ferrant, França, havia exortado os cristãos a socorrer seus irmãos oprimidos em Jerusalém.

Após um período de confusão e desordens, uma nova era de fervor religioso parece começar. Em 1098, o monge beneditino Robert de Solesmes funda a Abadia de Citeaux, como resultado da reforma gregoriana. Desta abadia sairá o monge Bernardo, que funda por sua vez, em 1115, a Abadia de Claraval. Ela atrairá tantas vocações que, na morte deste campeão da Cristandade, em 1153, a Ordem de Citeaux contará com 343 mosteiros, dos quais 167 saídos de Claraval. Os cartuxos, fundados por São Bruno em 1104, e os premontratenses, fundados por São Norberto, são outros sintomas do fervor religioso que anima esta época.

Menina predestinada de origem nobre

Neste mundo assim florescente e em ebulição, no ano de 1098, nasce uma menina que recebe o nome de Hildegarde von Bingen. Seus pais, Hildeberto e Matilde, provavelmente originários de Bermerschein, no Condado de Spanheim, pertencem à nobreza local do Palatinado.

Aos três anos de idade eu vi uma tal luz que incendiava minha alma. Aos oito anos, consagrei-me a Deus e até os 15 anos eu via em minha alma muitas coisas que escondia dos outros, pois notava que eles não tinham este tipo de visões.” Assim começa a vida mística de Santa Hildegarda, que aos oito anos foi confiada a um mosteiro, para ali ser educada — prática que era comum naquela época. O mosteiro escolhido foi o de Disibodensberg, onde vivia uma religiosa de nome Jutta, filha do Conde de Spanheim, que tomou a si o encargo de cuidar dessa menina que dava sinais de uma grande vocação.

Foi Jutta que ensinou a Hildegarda o canto dos salmos e a arte musical. Naquele tempo, dizia-se “aprender a ler é aprender a salmejar.” Deste período de sua vida, sabe-se apenas que ela tinha uma saúde muito frágil e que sempre era favorecida por visões, narradas com discrição apenas a sua tutora e a um dos monges do mosteiro de Santo Disibold, chamado Volmar, que depois exercerá, durante 30 anos, o ofício de seu secretário.

Aos 12 anos, idade em que uma moça era então considerada maior, a jovem mística pede para fazer os votos religiosos no convento em que vivia. Sua virtude sobressai de tal modo que, aos 39 anos, quando morre Jutta, as religiosas elegem Hildegarda como Abadessa. Em breve um grande acontecimento decisivo na sua existência vai engajá-la numa vida totalmente nova.

Vocação semelhante à dos Profetas do Antigo Testamento

Aos meus 40 anos, tive uma visão onde uma voz dizia: ‘Diga o que viste e entendeste, não à maneira de outro homem, mas segundo a vontade dAquele que sabe, vê e dispõe todas as coisas no segredo de seus mistérios'”. Tratava-se de uma ordem decisiva que indicava a vocação de Hildegarda, semelhante à dos profetas do Antigo Testamento, os quais eram as bocas de Deus. Sobre esta vocação, Hildegarda insistirá dizendo que “uma voz do Céu mandava-me tudo dizer e escrever, tal qual ouvia e era-me ensinado.” Esta voz apresentou-se a ela como “a Luz viva que ilumina o que é obscuro.” Santa Hildegarda põe-se então a escrever o seu primeiro livro Scivias (Conheça as vias do Senhor), trabalho que levará 10 anos para ser executado.

As visões e atividades da nova Abadessa chamam a atenção das autoridades eclesiásticas, preocupadas com o eco dessas revelações e da perplexidade que alguns sentiam em face delas. O Arcebispo Henri, de Mainz, Diocese onde localizava-se o convento de Hildegarda, quer aproveitar a presença do Papa Eugênio III em Trier, onde, em 1147, deve reunir-se um Sínodo preparatório do Concílio de Reims. O cenário é grandioso. Trier, a cidade do Imperador Constantino, que ali residiu com sua mãe Santa Helena até o ano 316. O Papa – um cisterciense de Claraval, formado por São Bernardo – reunia Cardeais, Bispos e Abades para um alto tema, qual seja, confirmar mais uma vez as reformas empreendidas pelo Papa São Gregório VII. Entre os assistentes, a maior figura da Cristandade: São Bernardo de Claraval.

Santidade atrai multidões de fiéis

Nessa importante assembléia, outro tema entra na pauta: a ortodoxia das visões da Abadessa de um obscuro convento às margens do Reno. O Papa designa dois Prelados, o Bispo de Verdun e seu Bispo-Auxiliar para irem ao convento e informarem-se sobre a conduta, escritos e vida dessa religiosa. Em poucos dias, voltam eles para apresentar um relato da visita, trazendo ao Papa as partes já escritas do livro Scivias. Cena impressionante: o Pontífice resolve ler em público as revelações da Abadessa. Atribui-se a São Bernardo a conclusão da assembléia: “É preciso impedir que se apague uma tão admirável luz animada pela inspiração divina.”

O Papa pessoalmente escreve a Santa Hildegarda: “Nós ficamos admirados, minha filha, que Deus mostre em nosso tempo novos milagres. Nós te felicitamos pela graça de Deus. Conserve e guarde esta graça.” A carta é uma das 390 que aparecem no livro recentemente publicado na Alemanha sob o patrocínio da Abadessa Walburga Storch OSB, da própria Abadia de Santa Hildegarda, em Rüdesheim-Eibingen.

A partir desse episódio, começou uma nova vida para Santa Hildegarda, cuja fama difundia-se além do Reno. Fama não só devido a seus escritos, mas também aos milagres. Narram as crônicas o episódio do monge de Saint Disibold, chamado Arnold, que se opôs à mudança das religiosas para um novo local que Deus havia indicado em uma visão para a Santa. O monge levanta uma querela contra Hildegarda até o dia em que é atacado por um tumor na língua, que o impede de fechar a boca e mesmo falar. Tomado de pavor, promete não mais opor-se à vontade de Santa Hildegarda. Imediatamente o tumor desaparece e o monge, arrependido, é o primeiro a se apresentar para trabalhar na construção do mosteiro que será fundado em Rupertsberg, a 30 quilômetros de Bingen.

De toda a França e da Alemanha milhares de pessoas afluem ávidas para ouvir um conselho ou exortações de Hildegarda. Muitos pedem que ela cure as enfermidades do corpo, o que ela faz dando sua bênção. A Santa Abadessa tem a capacidade de penetrar nos pensamentos dos peregrinos e afastar-se dos que se aproximam com más intenções ou para provar sua virtude. Judeus vêm ouvi-la e ela exorta-os à conversão à Fé verdadeira. Hildegarda chega mesmo a livrar do demônio uma possessa de Colônia, espírito imundo este que os sacerdotes da Abadia de Brauweisler não tinham conseguido expulsar.

Repreensões a supremas autoridades nos planos espiritual e temporal

Se os milagres provaram a santidade de Hildegarda aos olhos de seus contemporâneos, mais ainda o fizeram suas obras, sua enorme correspondência, como também pregações que foi convidada a fazer em importantes cidades da Alemanha.

A correspondência de Santa Hildegarda surpreende pela dignidade dos destinatários e dos remetentes de cartas e pedidos: Papas, Bispos e um grande número de altas autoridades temporais, como, por exemplo, os Imperadores Conrado III e Frederico Barbaruiva, da Alemanha.

Frederico, que será conhecido na História como Barbaruiva, pede que a Santa o visite em seu palácio de Ingelheim, perto de Mainz. São conhecidos detalhes desse encontro pelo conteúdo das cartas do Imperador e das respostas de Santa Hildegarda. Esta, não se deixando intimidar pela alta posição do Soberano, increpa-o em termos proféticos: “Sê vigilante, porque presentemente todas as regiões do Reino estão dominadas por falaciosos que destroem a justiça…. Saiba, pois, que o Rei supremo te olha; e não sejas acusado diante dEle de não ter exercido corretamente teu oficio e não venhas assim a envergonhar-te.”

Pede ela também que o Imperador “vele pelos costumes dos Prelados que caíram na abjeção”, exortando-o a que “tome cuidado para que o Supremo Rei não te lance por terra por culpa da cegueira de teus olhos. Seja tal, que a graça de Deus não te falte!”

Compreende-se o tom dessa missiva pelos fatos que se seguiram. O Imperador retoma a luta contra o Papado, destitui o Arcebispo de Mainz, fiel a Roma, manda suas tropas arrasar Milão e nomeia nada menos do que quatro antipapas apenas durante o pontificado de Alexandre III.

Outro é o tom da correspondência mantida com o santo monge Bernardo de Claraval, que lhe escreve em termos elogiosos e sobrenaturais: “Agradeço a graça de Deus que está em ti. Eu te suplico de lembrar-te de mim diante de Deus….” A esta missiva, depois de descrever como ela se sentia tomada pela graça de Deus nas revelações que recebia, responde: “Sinto-me consolada por tua sabedoria em coisas de que os homens estão cheios de erros. Tive uma visão, na qual te vi como um homem que olha o Sol sem medo e com audácia. Meu bom pai, pede a Deus por mim, tu que és como uma águia que olha o Sol….”

Ao Papa Anastácio IV, eleito em 1153, Hildegarda escreve em termos duros: “Por que não cortais a raiz do mal que sufoca a erva boa? Por que negligenciais a justiça que vos foi confiada? Como permitais que esta filha de Rei seja jogada por terra e que seus diademas e ornamentos de sua túnica sejam destruídos pela grosseria dos homens? Vós que pareceis ter sido constituído pastor, levantai-vos e correi em direção à justiça de modo que, diante do Médico supremo, não sejais acusado de não ter purificado os teus campos das imundícies. Vós, homem, mantende-vos no bom caminho e sereis salvo!”

Como se nota em suas cartas, Hildegarda recebeu a vocação de aconselhar, segundo os caminhos de Deus, os potentados e as mais altas autoridades da época. Mas, igualmente inúmeras pessoas simples, que a ela recorriam pedindo um conselho. A todos Hildegarda respondia com esse tom solene, humilde e severo, que caracteriza o seu estilo.

Nas pregações: reprimendas ao Clero e ao povo

Não é de estranhar que uma tão grande personalidade, alcandorada pela santidade, fosse convidada por Bispos para falar em suas Dioceses, sem abandonar seu estado de religiosa de clausura. São conhecidos os textos dessas alocuções, uma vez que, posteriormente , os Bispos pediram-lhe que as escrevesse: “Porque Deus está em vós, e Suas palavras saem de vossa boca, nós imploramos vossa dileção maternal para que nos escrevais expondo o que nos dissestes de viva voz”, escreve o Cura de catedral da Trier, em nome de todo o clero da Arquidiocese.

Santa Hildegarda havia ensinado nessa catedral, a mais antiga da Alemanha, construída pelo Imperador Constantino, no início do século IV. Suas palavras constituem uma verdadeira obra de teologia e apologética, que abrange desde a criação do mundo até a vinda do Messias. Tudo isto com vistas a mostrar que, em seu tempo, rejeitando a graças de Deus, “doutores e mestres recusam-se a soar a trombeta da justiça, o que acarretará, em breve, a destruição de cidades e claustros. E aqueles que se deixarem levar pelas fraquezas de mulheres serão punidos!”

Ela não poupa advertências à cidade de Trier, que diz ver animada por um fogo novo, mas “atualmente dominada pelos erros, pelos maus costumes e afligida por todos os tipos de males que só serão afastados pela penitência, como ocorreu no tempo do Profeta Jonas.”

Mais tarde, encontraremos Santa Hildegarda dirigindo-se a Mainz, viagem expressamente mencionada no livro em que narra sua própria vida. Posteriormente empreenderá uma viagem à Colônia, com escalas em Boppard e Andernach. Em Colônia, repete-se a solicitação do Cura de catedral de Trier: que ela escreva o que havia dito. Sem hesitação, ela responde: “Vejo que sois constituídos como o sol que deve brilhar para os homens pelo fogo da verdadeira doutrina e pelo brilho de uma boa reputação. Vós deveis ser luz, mas sois noite. Escolhei de que lado quereis ficar!” Palavras corajosas e vigorosas, especialmente por serem dirigidas não só ao povo, mas também ao Clero…

Santa Hildegarda, compositora musical

Outra surpreendente qualidade quis Deus dotar Santa Hildegarda: o dom da música. Autora de 77 sinfonias, de um estilo semelhante ao do gregoriano, apresenta ela o que se poderia chamar uma teologia da música. Em carta ao Bispo de Mainz, diz: “Lembremo-nos que, com o pecado, Adão perdeu sua inocência e, em conseqüência, perdeu também a voz que antes possuía, semelhante à dos Anjos do Céu. Tendo perdido esta capacidade de louvar a Deus, os Profetas, inspirados pelo Espirito Santo, inventaram os salmos e os cânticos para incitar os homens a se voltarem para esta doce recordação do louvor que gozava Adão no Paraíso. Também os instrumentos de música, pela emissão de múltiplos sons, podem instruir interiormente os homens.”

Essa visão teológica desdobra-se numa luta entre o bem e o mal: “O diabo enganador, tendo ouvido falar que o homem, sob inspiração de Deus, havia começado a cantar os salmos e, por esta maneira era convidado a se lembrar da suavidade da pátria celeste, ficou aterrorizado. E, imediatamente, começou a procurar, na sua maldade, de que maneira podia multiplicar no coração dos homens más sugestões e pensamentos imundos, perturbando ou impedindo a beleza dos cânticos e hinos espirituais.”

Denúncia da heresia dos cátaros e vitória da Igreja

E como sempre antecipando-se ao futuro, anuncia a eclosão de uma terrível heresia que sublevará o povo contra o Clero, pelo fato de que este “tinha uma voz e não ousou levantá-la”, o que permitiu ao inimigo “oferecer os seus próprios bens, enchendo os olhos, as orelhas e o ventre de todos os vícios!”

De fato, pouco tempo depois, explode a heresia dos cátaros, a qual ela descreve com um luxo de detalhes que deixa surpresos os historiadores . Entre outras coisas diz: “Minha estadia entre vós foi curta, mas não sem frutos. A verdade que por nós foi manifestada, não somente por palavras mas por atos (fazia ela alusão a seus milagres), desmascarou os lobos que, sob pele de ovelha, devoravam vosso povo. Eles estão desmascarados, mas não presos. Sob aparência de piedade, eles rejeitam a virtude, misturando palavras celestes com novidades profanas. Desconfiai deles!”

A profecia de Santa Hildegarda vai além, prevendo a vitória da Igreja sobre essa heresia. Uma aurora de justiça surgirá “no povo espiritual, o que começará por um pequeno número que, sem ter riquezas dirá: piedade para nós, porque pecamos.”

Pode-se perguntar se ela também não anuncia, com essas palavras, uma era de fervor – que realmente se verificou no século XIII – representada especialmente pela fundação de Ordens religiosas como a dos franciscanos e dominicanos. Após esta estadia em Colônia, Hildegarda empreenderá ainda duas missões, uma à cidade de Mainz, e outra ao Ducado da Suábia, provavelmente no ano de 1170.

Morte plácida e glorificação póstuma

Esta grande figura religiosa – mística, profetiza, escritora, pregadora, conselheira, médica e compositora – passa seus últimos anos no convento de Eibingen, o terceiro que fundou, na outra margem do Reno, e o único que se salvou dos saques dos bárbaros e das devastações das guerras. A respeito desses anos, pouco se conhece. Encontrou-se apenas um relato de uma das religiosas, que narra a morte de Santa Hildegarda: “Nossa boa Mãe, depois de combater piedosamente pelo Senhor, tomada de desgosto da vida presente, desejava cada dia mais evadir-se desta Terra para unir-se com Cristo. Sofrendo de sua enfermidade, ela passa alegremente deste século para o Esposo celeste, no octogésimo ano de sua existência, no dia 17 de setembro de 1179.”

Suas filhas, chorando amargamente a separação, foram consoladas pelos prodígios e fatos extraordinários que se seguiram. Sobre a casa onde jazia seu corpo, durante a noite, dois arcos brilhantes e de diversas cores aparecem no céu, dilatando-se de tal maneira, que se estenderam sobre os quatro pontos cardeais. No centro, os dois arcos se uniam. Nesta luz, viu-se uma cruz, pequena no início e depois grande como um sol, cercada de muitas outras pequenas cruzes, que iluminavam a Terra por trás do convento onde Santa Hildegarda havia vivido.

Por esse sinal, quis Deus certamente manifestar as luzes sobrenaturais que havia concedido à sua dileta filha, hoje, na glória celeste, e que se tornou famosa no mundo por ter manifestado aos homens Aquele que é a Sabedoria Encarnada, Nosso Senhor Jesus Cristo.

A medicina de Santa Hildegarda
Embora não se tenha informações de que a Santa tenha feito estudos da ciência natural, botânica ou medicina, escreveu ela um Manual de medicina, publicado na Alemanha pelos doutores Gottfried Hertzka e Wighard Strehlow. O que maravilha os leitores da obra é a extraordinária quantidade de comentários e a diversidade de conhecimentos revelados por Santa Hildegarda, nos ramos acima indicados.

O conjunto de sua obra demonstra grande conhecimento da natureza humana. Como poderia ela, sem sair de seu convento, adquirir tal conhecimento? Não existe resposta para esta indagação. Sabe-se que ela descreve o valor das águas, observando, por exemplo, que “a água do Rio Glan é boa para preparar alimentos, beber, banhar-se e lavar o rosto”, enquanto a do Mosele “não é boa nem para cozer, nem como bebida, porque ataca as vísceras do homem por sua acidez.”

De maneira subtil, ela comenta o valor curativo ou simplesmente o efeito saudável de incontáveis plantas, pedras preciosas, frutas, animais e peixes. Para a Santa, cada elemento da natureza possui um valor, salutar ou maléfico. Sua medicina tem em vista o homem, o corpo e também a alma, elementos que ela nunca separa. Assim, a título de exemplo, indica plantas “que podem curar a melancolia”, ou manda evitar as que “engendram humores maus, donde resultam problemas de metabolismo e que conduzem à depressão.”

Santa Hildegarda indica também em que consiste uma boa alimentação, ressaltando que “a saúde humana mantém-se por uma boa alimentação.” Dentre seus conselhos, um para afastar a cólera: “Pegar uma rosa, reduzi-la a pó e, no momento de cólera, apresentar esta rosa em pó diante das narinas.”

Tudo isso, que pode parecer um pouco simplista, chama hoje a atenção de renomados médicos que vêem, nesta medicina, a vontade de tratar o paciente por meios naturais, com o cuidado manifestado continuamente pela religiosa de “curar o doente e não a doença.”

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NOTA: Aos leitores que desejarem aprofundar seu conhecimento sobre Santa Hildegarda, recomendamos: Hildegarde de Bingen, de Régine Pernoud, Éditions du Rocher, Paris, 1994; Hildegard von BingenIm Feuer der Taube/Die Briefe, Pattloch Verlag, Augsburg, 1997; Bernard Gorceix, Hildegarde de Bingen – Le livre des oeuvres divines/Visions,, Albin Michel, Paris, 1982.
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A devoção medieval a Nossa Senhora

Nossa Senhora de Rocamadour, Imagem venerada por São Luiz IX, Rei da França

A devoção medieval a Nossa Senhora

A devoção à Virgem predispõe os medievais ainda um tanto rudes à delicadeza, à piedade, à proteção dos fracos, ao respeito das mulheres. Traz em si uma virtude de civilização e de cortesia. Os testemunhos disso são infinitos e encantadores. Imagine-se que no século XII um monge de Saint-Médard, Gautier de Coinci, relatou em trinta mil versos os milagres de Nossa Senhora. E que milagres primorosos, dignos da Légende Dorée!
Lá, um monge ignorante que sabe recitar apenas duas palavras AVE MARIA , e que por sua ignorância é desprezado. Ele morre, e de sua boca saem cinco rosas em honra às cinco letras do nome MARIA.

Uma freira, tendo abandonado o convento para se entregar ao pecado, volta após longos anos e encontra a Virgem a quem ela nunca cessara, até nos piores pecados, de dirigir cada dia uma oração ocupando durante todo esse tempo o seu lugar no ofício, de forma que ninguém percebeu sua ausência.

Um cavaleiro, em troca da fortuna, prometera ao demônio entregar-lhe sua mulher. Enquanto ele a conduzia, ela entrou por um momento numa capela da Virgem, e é então a Virgem que saiu da capela em seu lugar e puniu o demônio.

Um outro cavaleiro, indo ao torneio, esqueceu-se do tempo e ficou rezando a Nossa Senhora numa Igreja. Nossa Senhora, enquanto isso, combatia em seu lugar sob sua armadura, e ganhava para ele o prêmio do torneio.

Vale lembrar o famoso jogral de Nossa Senhora, de quem Ela enxugava o suor: o conto e o teatro se apoderaram desta história.

Essa devoção à Virgem contribuiu sem dúvida para a formação do senso de honra, purificando e enobrecendo a rudeza desses cavaleiros, desses soldados, dessa gente de guerra ou do campo. Foram levados a tratar a mulher com mais respeito.

A honra que daí decorre é uma espécie de galanteria da alma, que nos leva à defesa dos fracos, ao esquecimento de nossos interesses, à generosidade, ao respeito à palavra dada, quaisquer que sejam as conseqüências.

(Henry Bordeaux, “Vie, mort et survie de Saint Louis, roi de France” – Librairie Plon, Paris, pp. 34-35)
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Quero salvar a minha alma

São Dositeu

>Quero salvar a minha alma Era o sexto século do Cristianismo. No Monte das Oliveiras, perto de Jerusalém, um moço elegantemente vestido mantinha os olhos fixos num quadro que representava as penas do inferno, os tormentos dos condenados. Uma sensação de horror passava por todo o corpo daquele jovem nobre e molemente educado. Reunindo todas as forças, tentava voltar as costas àquela cena horrível, quando uma veneranda senhora que o observava com atenção, e lera em seu rosto a salutar impressão produzida pelo quadro aproximou-se e descreveu-lhe ao vivo as penas reservadas aos pecadores impenitentes. E acrescentou:

Depressa, filho, salva a tua alma!

Sim, quero salvá-la disse o jovem comovido; mas que devo fazer?

Se queres salvar a tua alma, vive na oração, no jejum, na continência.

Aquele moço mole e delicado se viu de repente envolvido nos mais sérios pensamentos. Uma completa revolução se efetuara em seu coração. Dirigindo-se incontinenti a um convento situado perto de Gaza, bateu à porta e pediu humildemente que o recebessem na comunidade. O abade, à vista daquele jovem delicado e elegantemente vestido, teve lá suas dúvidas sobre a vocação dele. Não se trataria de uma exaltação passageira? Julgou mais prudente diferir a admissão, mas confiou o moço ao monge Doroteu, o mais pio dos religiosos, para que o examinasse com cuidado. Doroteu fez ao jovem diversas perguntas, mas a resposta era invariavelmente:

Quero salvar a minha alma. Este é o meu único desejo.

Doroteu levou ao abade a resposta, e aconselhou-o a não diferir por mais tempo a aceitação do postulante. Admitido entre os religiosos, aquele jovem serviu de edificação a todos, por sua vida exemplaríssima. Cinco anos apenas foram suficientes para completar a sua carreira e ter a morte dos justos.

Esse jovem, que a consideração das penas do inferno levara à vida religiosa, é conhecido no catálogo dos santos com o nome de São Dositeu.

(Pe. Francisco Alves, C.SS.R., “Tesouro de Exemplos” – Vozes, Petrópolis, 1960)
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O Clemens, O Pia, O Dulcis Virgo Maria!

O Clemens, O Pia, O Dulcis Virgo Maria!A Salve Regina é uma lembrança da antiga França. Atribui-se ao bispo de Puy, Adhemar de Monteuil, membro do Concílio de Clermont, onde foi resolvida a primeira Cruzada. Adhemar seguiu a Cruzada na qualidade de legado apostólico e compôs a Salve Regina para que se tornasse o canto de guerra dos cruzados. A princípio, a antífona acabava por estas palavras: nobis post hoc exilium ostende. A tríplice invocação que a termina presentemente foi acrescentada por São Bernardo, e merece ser narrado como se fez.

Na véspera do Natal do ano de 1146, S. Bernardo, mandado para a Alemanha como legado do Papa, fazia sua entrada solene na cidade de Spire, depois de uma viagem memorável na qual os milagres foram numerosos. O bispo, o clero, os cidadãos todos, com grande pompa vieram ao encontro do santo e conduziram-no, ao toque dos sinos e dos cânticos sagrados, através da cidade até a porta da capital, onde o imperador e os príncipes germânicos o receberam com todas as honras devidas ao legado do Papa.

Enquanto o cortejo penetrava no recinto sagrado, o coro cantou a Salve Regina, antífona predileta do piedoso abade de Claraval. Bernardo, conduzido pelo imperador em pessoa e rodeado da multidão do povo, ficou profundamente comovido com o espetáculo que presenciara. Acabado o canto, prostrando-se três vezes, Bernardo acrescentou de cada vez uma das aclamações, enquanto caminhava para o altar sobre o qual brilhava a imagem de Maria: O clemens! O Pia! O dulcis Virgo Maria!
Ó clemente! Ó piedosa! Ó doce Virgem Maria!

(“Maria ensinada à mocidade” – Livraria Francisco Alves, Rio, 1915)
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Santo Estanislau Kostka: nobreza e juventude aliadas à virtude exímia

Santo Estanislau Kostka: nobreza e juventude aliadas à virtude exímia

Uma das glórias da Companhia de Jesus, Santo Estanislau Kostka, é um dos santos não-mártires mais jovens da Igreja, pois faleceu aos 18 anos incompletos, tendo entretanto vivido, para a virtude, como um ancião

Por Plinio Maria Solimeo

“Ajoelha-te, ajoelha-te; vê que Santa Bárbara, acompanhada de dois Anjos, traz-me a Comunhão”, exclamou Estanislau moribundo no leito, dirigindo-se a seu preceptor, quando estudante no colégio jesuíta de Viena.

E o preceptor completa sua narração com as seguintes palavras: “E levantando-se, pôs-se de joelhos na cama. Depois disse três vezes: ‘Senhor, eu não sou digno…’ Abriu a boca… e estendeu a língua com profundíssima humildade”. Mas não foi ainda desta vez que Estanislau morreria.

Esse episódio é emblemático da vida inteiramente excepcional deste Santo, cuja festa comemora-se a 13 de novembro, dia em que seu corpo foi exumado e encontrado sem nenhuma forma de corrupção.

Das mais nobres famílias da Polônia

Estanislau nasceu em 1550 no castelo de Rostkow, de uma família das mais nobres da Polônia, que se “distinguia pela invariável fidelidade à antiga fé católica, diante das tempestades luteranas e renascentistas”. Seus pais foram João Kostka, Senador do Reino, e Margarida Kriska, de estirpe não menos ilustre que o marido.

Estanislau foi dessas almas que parecem ter, desde o berço, correspondido a todas as graças especialíssimas com que Deus as cumula, percorrendo em pouco tempo, na santidade, uma carreira que muitos levam a vida inteira para atingir.

De uma pureza extrema, qualquer palavra mais livre fazia o menino enrubescer e até mesmo perder os sentidos. Quão diferente da perversão infantil que grassa em nossos dias! “Falemos doutra coisa, costumava dizer o velho pai, senão o nosso Estanislauzinho levantará os olhos ao céu, para dar em seguida com a cabeça no chão”. A par dessa extrema delicadeza de consciência, o menino foi, desde cedo, também modelo de sabedoria e honestidade.

Na capital do Império Austro-Húngaro

Foi-lhe dado como preceptor um jovem cavaleiro, João Bilinski, para ensinar-lhe as primeiras letras. Aos 14 anos seu pai enviou-o com este, e com o irmão mais velho, Paulo, para Viena, onde o Imperador Fernando tinha fundado um colégio jesuíta para a educação da juventude de língua alemã. Foram recebidos na qualidade de internos; e quando Maximiliano I fechou o internato, foram viver na casa de um luterano, o Senador Kimberker. Para a consciência reta de Estanislau, o viver sob o teto de um herege era um contínuo tormento.

Entre seus condiscípulos, Estanislau logo se fez notar “por seu belo espírito, assiduidade ao estudo e raras virtudes. …. Ele fugia cuidadosamente da conversação dos escolares libertinos e de tudo que não o incitasse à devoção e ao amor de Jesus Cristo …. O recolhimento e o silêncio faziam suas delícias; e, quando falava, era sempre com tanta modéstia e discrição, que, era perceptível, não dizia nada precipitada ou irrefletidamente”.

Ora, nunca dois irmãos foram tão diferentes como Paulo e Estanislau. O primogênito era amante da boa-vida, mundano, dado aos prazeres que a grande capital podia oferecer. O caçula não vivia senão para as coisas celestes. E com isso era, mesmo sem o querer, uma censura muda e constante ao modo de ser do irmão. Evidentemente tinham que surgir atritos, que Paulo resolvia segundo a “lei do mais forte”, chegando muitas vezes a agredir Estanislau. Este entretanto tinha uma fortaleza de alma que se sobrepunha à moleza produzida pelos vícios no irmão.

Nossa Senhora lhe entrega o Menino Jesus

Certo dia Estanislau adoeceu tão gravemente, que os médicos declararam nada mais ser possível fazer, e que a medicina já não podia salvá-lo. O doente suplicou então ao irmão e ao preceptor que chamassem um sacerdote para ministrar-lhe os Sacramentos, ao menos a Sagrada Comunhão. No entanto, os dois, temendo desgostar o luterano que jamais permitira a entrada de um sacerdote católico em sua casa, optaram por fazer ouvidos moucos. Estanislau resolveu então apelar para o Céu; lembrou-se de ter lido certa vez que os que se recomendavam a Santa Bárbara não morriam sem receber os Sacramentos. Com fervor, pediu então a intercessão dessa Santa em seu favor. O que ocorreu a seguir, narrado por seu preceptor, depois ordenado Sacerdote, vem descrito no início deste artigo.

Pouco depois ele recebia também a visita de Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços e colocando-O nos de Estanislau. Ao despedir-se, a Mãe de Deus recomendou-lhe que entrasse para a Companhia de Jesus. No mesmo momento, Estanislau sentiu-se inteiramente curado.

Dois Santos o auxiliam a realizar sua vocação

O adolescente quis obedecer imediatamente o conselho de Nossa Senhora. Foi procurar o Pe. Provincial dos jesuítas na Áustria, mas este negou-lhe admissão sem a autorização do pai; recorreu ao Legado Papal, que também não quis comprometer-se. Aconselhado então pelo Pe. Francisco Antônio, confessor português da Imperatriz, fez o voto de peregrinar de casa em casa da Companhia pelo mundo, até encontrar uma que o admitisse sem condições.

Para isso teve que sair escondido de casa e tomar a estrada para Augsburgo. Doou seus trajes de seda a mendigos, e vestiu-se com uma grosseira túnica adrede preparada. Entrementes seu irmão e o preceptor, dando-se conta da fuga, partiram de carruagem atrás do fugitivo. Quando dele se aproximaram, Estanislau, como um pobre peregrino, pediu uma esmola. Sem se darem conta, jogaram-lhe uma moeda e continuaram o caminho…

Como o Provincial de Augsburgo encontrava-se em Dilingen, para lá se dirigiu o jovem polonês. Ora, este não era senão o grande São Pedro Canísio, que reconquistaria para a verdadeira fé quase metade da Alemanha, pervertida pelo ímpio Lutero. Como os Santos se entendem, foi sem dificuldade nenhuma e com grande alegria que ele recebeu o jovem postulante. E, para livrá-lo da possível perseguição do pai, enviou-o com outros dois pretendentes à casa mãe, em Roma.

Outro grande Santo, São Francisco de Borgia, então terceiro Geral dos jesuítas, recebeu Estanislau na Cidade Eterna com os braços abertos dizendo-lhe: “Estanislau, eu te recebo, e não te posso negar este gosto, porque tenho muitas provas de que Deus te quer em nossa Companhia”.

Assim via Estanislau atendidos seus votos, entrando para o noviciado de Santo André do Quirinal a 28 de outubro de 1567.

O Anjo do Noviciado

Em pouco tempo o jovem polonês mereceu de seus condiscípulos o cognome de o Anjo do Noviciado. “Apoiado no conhecimento de si mesmo, quer dizer, de seu nada [sem a graça divina], de suas fraquezas, de sua incapacidade para todo bem e de sua corrupção original, ele tinha uma humildade que os louvores não podiam alterar, e que as reprimendas mais humilhantes não podiam exasperar”. Seu amor a Deus era tão veemente, que abrasava-lhe o peito. Um dia, o Padre-ministro encontrou-o muito cedo no pátio, perto da fonte, refrescando-se. – “Que fazes aqui numa hora tão matinal?” perguntou-lhe. Respondeu o noviço: – “Padre, meu peito ardia muito e vim buscar um pouco de alívio”.

Devoção especialíssima à Mãe de Deus

Estanislau tinha a mais profunda devoção a Maria Santíssima. Estudava e compilava os textos mais belos em seu louvor, e as passagens mais próprias a demonstrar sua grandeza. Em sua honra rezava, desde pequeno, o Rosário. A quem lhe perguntava por que amava tanto a Maria, respondia: “Como não A hei de amar, se é minha Mãe?”

Foi por insistência sua que se instituiu o costume de os noviços todas as manhãs, logo ao acordarem, porem-se de joelhos voltados em direção da Basílica de Santa Maria Maior, e pedir a Nossa Senhora sua bênção. O mesmo fariam à tarde, logo depois do exame de consciência. Esse costume manteve-se depois no Noviciado.

O desejo de Estanislau era o de morrer na véspera do dia de gloriosa Assunção de Maria ao Céu, e ele teve uma revelação de que seu voto seria atendido.

No dia de sua festa, Maria Santíssima vem buscá-lo e o leva ao Céu

Como era costume em diversas comunidades religiosas, no fim do mês de julho foi distribuído a esmo, no noviciado jesuíta, o nome de um Santo daquele mês que cada religioso deveria venerar e honrar de modo mais especial durante o mês entrante. Coube a Estanislau, para agosto, o do grande mártir São Lourenço. No dia 8, na vigília da festa do Santo, Estanislau quis honrá-lo de uma maneira particular, fazendo um ato de humilhação pública. Após ter dito suas faltas no refeitório, osculou os pés de cada religioso, disciplinou-se, e pediu a cada um de esmola um pequeno pedaço de pão para sua refeição. Depois foi ajudar na cozinha onde, à vista do fogo, começou a meditar nos sofrimentos de São Lourenço, assado vivo em uma grelha. Isso o impressionou tanto, que caiu desmaiado. Levado à sua cela, veio-lhe à boca um fluxo de sangue. Soube então que seu desejo de morrer no dia da Assunção seria satisfeito. E isso ele o dizia a todos.

Na vigília dessa gloriosa festa, pediu para lhe serem administrados os Sacramentos, que recebeu angelicamente. E às três horas da manhã do dia 15, Nossa Senhora, acompanhada por uma multidão de Anjos, veio receber a virginal alma de Estanislau Kostka. Ele morria aos 18 anos incompletos, tendo passado apenas 10 meses no noviciado jesuíta.

Acorreu tanta gente a seu enterro, que levou seu médico, Dr. Francisco Tolet, depois nomeado Cardeal, a exclamar: “Eis uma coisa verdadeiramente maravilhosa: um pequeno noviço polonês que morre; faz-se honrar pela cidade de Roma como um Santo!”.

A glorificação post mortem

Enterrado na igreja Santo André monte Cavallo, em Roma, começaram a ocorrer milagres em seu túmulo. Sua fama difundiu-se, primeiro por sua pátria, e depois por toda a Europa. Na Polônia “não havia Prelado ou grande senhor que não quisesse ter [sua estampa], e o próprio Rei colocou-o em sua galeria junto às imagens dos santos”.

Beatificado em 1604, Estanislau foi canonizado em 1726.

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Fontes:
Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, 3ª edição, vol. III, p. 294
Lês Petits Bollandistes, Viés dês Saints, d’après de Père Giry, par Mgr. Paul Guérin, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, vol. XIII, p. 388.
Abbé Croisset, Año Cristiano, tradução espanhola do Pe. José Francisco de Islã, Saturnino Calleja, Madri, 1901, tomo IV, p. 497
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Uma aparição da mãe de São João Bosco

Uma aparição da mãe de São João Bosco
A 25 de novembro de 1865 morreu santamente Margarida Bosco. Quatro anos mais tarde, quando o santo passava junto à igreja da Consolata, numa esquina da rua, de repente viu adiante de si a mãe.
─ A senhora por aqui, minha mãe? A senhora não morreu?
─ Morri, sim, mas estou viva respondeu a mãe.
─ E a senhora é feliz?
─ Felicíssima.

O filho perguntou-lhe então se voara ao Céu logo depois da morte, e ela respondeu que não. Perguntou-lhe sobre as almas de alguns meninos falecidos no Oratório, e soube que estavam salvos.

─ E agora conte-me o que a senhora goza no Céu.
─ Não lhe posso explicar, meu filho.
─ E a senhora não pode dar-me uma idéia, fazer-me experimentar ao menos uma gota da sua felicidade?
─ Posso. Veja!

E o santo viu como ela se transfigurou: uma luz esplêndida a envolveu, as suas pobres vestes tornaram-se preciosíssimas, a sua fronte tomou um ar de sublime majestade, e de seus lábios irrompeu um canto… Mas que canto! Parecia uma harmonia, uma melodia de mil vozes, ou antes mil graduaçöes de vozes, de uma suavidade tão grande que o filho ficou extasiado. A última saudação da mãe foi:

─ Eu o espero no céu.

(Pe. Francisco Alves, C.SS.R, “Tesouro de Exemplos” – Vozes, Petrópolis, 1957, vol. II, p. 109)
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Oração preparatória para a meditação

Oração preparatória para a meditação
(Para recitação privada)
Coloco-me mais especialmente, neste momento, em vossa presença, pedindo-Vos vossa assistência, vossa graça, para, por meio de vossa intercessão, fazer bem esta meditação.

Vós bem conheceis, minha Senhora, todas as dificuldades que terei para ela, em virtude de minha preguiça mental, de minha dissipação constante, de meu relaxamento interior.

Suplico-Vos, portanto, ó Esposa sem mancha do Divino Espírito Santo, vossas luzes, vossas graças, vossa misericórdia, para que eu possa tirar proveito desta meditação, para maior honra, glória e serviço vosso.
Assim seja.

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Ave Maria, Filha bem amada do Padre Eterno.
Ave Maria, Mãe admirável de Deus Filho.
Ave Maria, Esposa fidelíssima do Espírito Santo.

Ave, minha Mãe e minha Senhora, Soberana do mundo, Rainha dos Corações e auxiliadora onipotente de todos os que a Vós recorrem e em Vós confiam.

Maria, a Grande Senhora

Maria, a Grande Senhora


Maria, a Grande Senhora
Santo Estevão, rei da Hungria, não menos célebre pela sua terna piedade para com Maria do que pelas eminentes qualidades que praticou no trono, tinha tão profundo respeito pelo nome sagrado da Mãe de Deus, que não ousava nem mesmo pronunciá-lo: chamava Maria a Grande Senhora. Todos os seus súditos, a seu exemplo, davam-lhe o mesmo título. E se acontecia que na sua presença se pronunciasse o nome de Maria, logo todos dobravam o joelho, para testemunhar sua veneração por um nome tão augusto.
(“Maria ensinada à mocidade” – Livraria Francisco Alves, Rio, 1915)

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Nossa Senhora da Caridade do Cobre – Padroeira de Cuba

Nossa Senhora da Caridade do Cobre – Padroeira de Cuba
Regime comunista não consegue esmagar devoção à Padroeira do povo cubano

Que motivo há para Nossa Senhora querer aparecer a certas pessoas? Ou para aparecer em certa data e não em outra? Difícil a resposta, pois, exceto algumas poucas aparições, na imensa maioria delas os motivos para Nossa Senhora ter escolhido tal data ou esse ou aqueles videntes permanecem envoltos em mistério que teremos a alegria de desvendar no Céu.

Essa foi a questão que me veio à mente após a leitura da aparição da imagem de Nossa Senhora da Caridade – Padroeira da desditada Cuba, outrora conhecida como Ilha da Ave Maria. Primeiro, pelos felizes protagonistas do milagre: dois irmãos indígenas, João e Rodrigo de Hoyos, e um crioulo, João Moreno, todos eles adolescentes e trabalhadores numa fazenda. Portanto nada revelavam de especial. Por que motivo foram escolhidos? Mistério…

Em segundo lugar, pela forma mediante a qual foi encontrada a imagem: boiando no mar sobre uma tábua, na qual estava escrita: “Eu sou a Virgem da Caridade”. E o mais impressionante é que nem sequer a orla de seu vestido estava molhada! Fato este tanto mais digno de atenção quando se considera que os três rapazes tinham ido buscar sal na costa e viram-se obrigados a permanecer três dias numa cabana, devido à turbulência do mar. Se uma canoa não podia navegar sem afundar, como explicar que uma imagem de 30 cm ficasse boiando em águas bravias sem se molhar? Um mistério a mais…

Elucidação de alguns fatos não esclarece mistérios…

Na feliz época em que a imagem apareceu, no início do século XVII, a situação era muito diferente da nossa, encharcada de ateísmo. O sobrenatural era levado muito a sério. Assim, por exemplo, não se pense que os três rapazes narraram o episódio da aparição e tudo ficou nisso – acreditasse quem quisesse. Nem falar! Nesse tempo ninguém iria tolerar falsas “aparições”, feitas sob encomenda para chamar a atenção sobre os “videntes” e suas “mensagens” intermináveis.

Foi por isso que, apenas conhecida a notícia da aparição na fazenda onde trabalhavam os três jovens, o superior da propriedade rural enviou um mensageiro para avisar a autoridade imediata, à qual devia obediência. Tratava-se do Administrador Real das minas da vila de Cobre – assim chamada devido à abundância desse metal –, Dom Francisco Sánchez de Moya, o qual indicou as primeiras normas a serem seguidas no trato com a imagem.

Devia ser construída, logo de início, uma pequena ermida para abrigá-la, tendo ele enviado uma lâmpada de cobre para iluminar a pequenina imagem. A seguir, foi nomeada uma comissão formada por pessoas competentes e presidida pelo sacerdote da Vila do Cobre, que deveria elucidar tudo e elaborar um relato sobre tão extraordinário fato.

Para tristeza dos ateus e incrédulos do século passado e do atual, que sempre negaram qualquer seriedade à aparição da imagem, há algum tempo foram encontrados em Sevilha (Espanha), pelo historiador cubano Dr. Levi Marrero, os relatórios originais da aparição…

Após interrogar os três rapazes, para ver se caíam em contradição ou se declaravam algo contrário à doutrina católica, a comissão nada encontrou que desmentisse o relato da aparição. Contudo, ninguém conseguia explicar como a imagem da Virgem aparecera no mar.

Milagre indica local escolhido pela Virgem

Após os interrogatórios, cabia decidir onde deveria ficar a imagem. “Na fazenda”, diziam alguns; “Na vila do Cobre”, afirmavam outros. A rigor, ela tinha aparecido no mar, perto da fazenda; mas era inegável que seu culto seria maior na vila, onde era maior o número de habitantes. Entretanto a imagem ficara na pequena ermida.

Certa noite Diego de Hoyos, irmão dos descobridores da imagem, foi acender a lâmpada da ermida quando notou que a virgem não estava mais lá… Incontinenti, correu para avisar os moradores da fazenda. Após uma intensa busca, nada encontraram. Na manhã seguinte a imagem encontrava-se no seu local, na ermida…

Esse prodígio repetiu-se por três vezes. O que significava? Mais provavelmente que a imagem queria estar noutro lugar. Por isso foi trasladada à Vila de Cobre. Entretanto Nossa Senhora havia escolhido outro local, perto da cidade.

Uma menina da região, de nome Apolônia, comunicou ter visto a efígie da Virgem nas colinas atrás da Vila. Para assegurar-se de que era esse o local onde ela desejava ser venerada, foi realizada uma Missa. À noite, foram vistas três colunas de fogo no mesmo local onde a criança dizia ter visto a imagem.

Como o fenômeno repetiu-se nas duas noites seguintes, não restou a menor dúvida. E até hoje lá se encontra a veneranda imagem.

Como surgiu a Imagem?

Persiste até nossos dias um debate sobre a origem da imagem, pois numa época em que ninguém no Caribe teria capacidade de realizar uma escultura daquela categoria, necessariamente teria ela sido trazida de algum outro local. A opinião mais aceita era que o conquistador Alonso de Ojeda a tivesse deixado em poder dos índios, quando esteve nas costas de Cuba ao início do século XVI.

Com efeito, esse audaz navegador, após sobreviver a um naufrágio em região de pântanos e ver morrerem de fome e cansaço vários de seus homens, foi encontrado pelos índios Cueiba, com os quais estabeleceu boas relações. Para agradecer o auxílio concedido, presenteou-lhes uma imagenzinha que tinha trazido da Espanha, ao mesmo tempo em que procurou ensinar-lhes as verdades elementares de nossa Religião. Infelizmente a barreira da língua dificultou muito esse trabalho. Mas Ojeda conseguiu que os nativos, sempre que lhes indicava a imagem, repetissem Ave Maria. Por isso, durante certo tempo a ilha de Cuba foi conhecida como Ilha da Ave Maria.

Nem a perseguição comunista conseguiu apagar a veneração à imagem
A imagem de Nossa Senhora da Caridade do Cobre sempre ocupou destaque especial na devoção dos católicos cubanos, a ponto de ser proclamada, em 1916, Padroeira da Ilha. Se de um lado os milagres operados por ela foram numerosos, infelizmente também contra ela se manifestaram o ódio e o desprezo. Em 1899, seu Santuário foi profanado por bandidos, que roubaram as jóias mais valiosas e cortaram a cabeça da sagrada imagem para retirar um diamante.

Muito pior entretanto é a política satânica do regime de Fidel Castro contra a imagem, o que tem despertado reação e atos de desagravo. Não se trata agora de retirar suas jóias, mas pior: impedir a aproximação de almas que lhe são devotas – verdadeiras jóias espirituais. O governo cubano não autoriza muitas peregrinações ao local, vigiando de perto os visitantes. Estes podem ser privados da educação universitária, ou ver-se privados de seu trabalho, o que – num país onde o único patrão é o Estado – representa uma tragédia. Além disso, o regime castrista promove todo tipo de imoralidades entre os jovens para afastá-los das práticas religiosas. Mas mesmo assim não conseguiu extinguir a devoção à Padroeira de Cuba.

Peçamos a Nossa Senhora que proteja seus filhos fiéis na ilha-prisão, não permitindo que essa bela devoção caia no olvido. Pois um país que perde a devoção à sua Padroeira entra em agonia. E nosso anelo é que Nossa Senhora da Caridade do Cobre volte a reinar na antiga Ilha da Ave Maria!

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Fontes de referência:
Maria e seus gloriosos títulos, Editora Lar Católico, 1ª edição, 1958.
Rubem Vargas Ugarte S.J., Historia del Culto a Maria en Iberoamérica, Talleres Gráficos Jura, Madrid, 3ª edição, 1956.
D. Eugenia Guzmán, A Virgem da Caridade e o futuro de Cuba, CubDest, 1999.
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São Vicente de Paulo, coluna da Igreja e do Estado

São Vicente de Paulo, coluna da Igreja e do Estado
Amparou pobres e nobres empobrecidos, foi conselheiro de soberanos, defendeu a Igreja contra as heresias da época.

Roberto Alves Leite

– Quanto tens em caixa?
– O necessário para alimentar a comunidade durante um dia.
– Isto quer dizer quanto?
– Cinqüenta escudos.
– Ah, bem! Dê-me, pois estou precisando.
E lá se foram os cinqüenta últimos escudos, para os nobres da Lorena.

O elitista francês que desta maneira raspou a caixa da Instituição para dar o dinheiro aos nobres empobrecidos da Lorena, nasceu em Dax, próximo da Espanha, em 24 de abril de 1581. Sabe-se que São Vicente de Paulo era de família humilde, e que trilhou descalço os caminhos, cuidando dos seus animais. Sua infância é praticamente desconhecida.

Ordenado sacerdote com 19 anos, desempenhou um papel importantíssimo na história da Igreja na França. Em 1610, a Rainha Margarida de Valois, cuja piedade se igualava ao mundanismo, aceitou-o entre seus conselheiros e capelães esmoleres. Nessa época fez o propósito de dedicar o resto da vida aos necessitados, entretendo seu amor ao próximo no Coração de Jesus Cristo e em uma profunda devoção a Nossa Senhora, que honrava de mil maneiras por numerosas preces e peregrinações.

Em 1615 foi atingido por uma doença que afetou seus joelhos até o final da vida.

Filipe Emanuel de Gondi, Tenente-General do Rei nos mares do Levante, o teve comp preceptor do primogênito. A esposa, Françoise-Margherite de Silly, era mulher virtuosa, cujos escrúpulos faziam sofrer o confessor tanto ou mais do que a ela própria. Quando o zeloso sacerdote se deslocava pelas numerosas terras do General Filipe de Gondi, dava assistência às suas populações e às da vizinhança, trocando a magnificência dos salões pela rudeza dos campos. Nelas instituía, invariavelmente, a Confraria da Caridade.

Enquanto esteve nessa família, tomou o hábito de ver no General a Nosso Senhor, e em sua esposa Nossa Senhora. O que não o impedia de dar-lhes caritativos conselhos.

Sustentáculo da Igreja

Serviu o Santo durante um ano na paróquia de Châtillon. Ao sair, um ano mais arde, deixou-a enlutada, o que, aliás, ocorreu em todas as paróquias em que esteve. Todos queriam uma lembrança sua, tendo seu chapéu sido arduamente disputado; deixou para os paroquianos suas roupas. Só os heréticos ficaram contentes, dizendo que os habitantes de Chântileon haviam perdido o sustentáculo e a melhor pedra da Religião católica.

Em 1933, funda as Filhas da Caridade, constituída de mulheres unidas por votos, mas sem serem religiosas. Mademoiselle le Grass, nascida Luísa de Marillac, foi a primeira. Era o começo de uma obra que proporcionou socorro a milhões de necessitados pelo mundo inteiro.

No ano seguinte, nascia a instituição Damas da Caridade, em Paris. Em poucos meses tinha mais de cem membros, quase todos portando grandes nomes, como a Princesa Luísa-Maria de Gonzaga (depois Rainha da Polônia), a Princesa de Condé, as duquesas de Nemours, d’Aiguillon, de Ventadour, de Verneuil, etc.

São Vicente vivia entre nobres, entre pobres e entre santos. Conheceu Santa Luísa de Marillac como esposa do secretário das Ordens da Rainha regente, Maria de Médicis. São Francisco de Sales, segundo ele, era o homem que melhor espelhava o Filho de Deus vivendo sobre a Terra.

Reformador do clero

Poderia parecer que a preocupação com os pobres absorvia todo o seu tempo, mas São Vicente trabalhava também para reformar a Igreja na França. “A Igreja — dizia ele — vai à ruína em muitos lugares por causa da má vida dos padres; são eles que a perdem e a destroem”. Os resultados dos retiros espirituais para os novos sacerdotes foram fundamentais para reconduzir a classe sacerdotal ao lugar que merece na sociedade.

Os mosteiros também receberam seu valioso auxílio, pois era amigo, ajudante e conselheiro de reformadores de ordens monásticas. Não havia, praticamente, reunião sobre assuntos de piedade a que não estivesse presente. Mesmo altos personagens — Núncios, Bispos, Magistrados — vinham lhe submeter suas dúvidas.

Nomeado membro do Conselho de Consciência de Luís XIII, contribuiu decisivamente para a reforma do Episcopado, sendo sempre consultado pelo Rei nas indicações. Após a escolha, conversava com o eleito sobre seus deveres e não o perdia de vista: continuava seu guia e advogado.

Não foi somente reformador, mas um inovador e um criador, instituindo ousadamente as Irmãs de Caridade, sem véu, para atuar entre os doentes e mesmo entre os soldados; e também os missionários, que não são religiosos mas têm votos.

Protetor dos nobres empobrecidos

A maior parte dos nobres da Lorena havia emigrado, para não morrer de fome; sua miséria era a pior, porque não ousavam estender a mão. Ninguém os socorria, porque não eram vistos como necessitados. São Vicente tomou conhecimento dessa situação, e os socorreu. Comentou que sentia muito contentamento nisso, porque era de justiça assistir e aliviar aquela pobre nobreza, para honrar Nosso Senhor, que era muito nobre e muito pobre ao mesmo tempo. Chegou a dar-lhes o dinheiro que havia recebido para a compra de um novo cavalo, porque o seu morria de velho. Seguindo esse belo exemplo, essa nobreza fez o mesmo, durante mais de 20 anos, com os nobres que fugiram da Inglaterra e da Escócia, perseguidos por Cromwell.

Escravo da verdade

Com a morte de Luís XIII, em 1643, voltou ao Conselho de Consciência a pedido da Rainha regente, Ana d’Áustria. Pode-se dizer que a Igreja da França saiu regenerada e rejuvenescida, pois ele não negligenciou nada para salvaguardar ou restaurar o dogma, a moral e a disciplina. É lícito afirmar que nada de importante foi feito contra o jansenismo e outras heresias na França sem sua intervenção. Os ataques violentos, sobretudo depois de sua morte, e os obstáculos que colocaram no processo de sua canonização, demonstram como foram profundas as feridas que receberam os hereges.

Dispensado do Conselho, pois Mazarino não simpatizava com São Vicente, dedicou-se ele especialmente a defender sua obra contra as influências jansenistas, e o fez com extremo sucesso. Os poucos que perdeu eram doentes.

Para ele, bastava que a Igreja tivesse falado. Apoiado sobre essa autoridade, dizia: “Eu tenho a verdade. Para que procurar?”. A fé penetrava-o por inteiro. Tudo nele indicava um amor intenso a Deus: o calor com que falava da majestade e da santidade dEle, seu fervor durante os exercícios de piedade e até, suas genuflexões, bem como sua atitude diante do Santíssimo Sacramento.

Perfeito homem de ação

Ninguém serviu o Rei com mais fidelidade, e a Hierarquia eclesiástica com mais respeito, do que o simples Pe. Vicente. Possuía todas as qualidades que caracterizam um homem de ação: iniciativa, ousadia, gênio organizativo, prudência, bom senso, desinteresse, paciência e obstinação. Seu espírito prático e minucioso pesava bem os prós e os contras, tanto em seu conjunto como nos detalhes. Quando entrava por uma via, não parava, não olhava para trás; não destruía num dia o que havia construído na véspera; nada o fazia recuar.

Incansável, vemo-lo limpar o Mediterrâneo dos piratas que o infestavam e multiplicar as negociações para realizar uma expedição afim de bombardear Alger.

Temperamento ordenado pela virtude

Sua mortificação igualava a piedade. Mostrava-se agradecido por qualquer mínimo favor: uma vela que se acendia, um livro que se lhe dava, uma porta que se lhe abria recebia de sua parte um agradecimento. E com tanta graça o fazia, que as pessoas procuravam o menor pretexto para servi-lo. Seu temperamento naturalmente bilioso e melancólico havia cedido lugar à bondade, que lembrava o doce São Francisco de Salles.

Faleceu no dia 27 de setembro de 1660. Em 1737, 27 cardeais, centenas de Prelados, o Rei da Inglaterra, embaixadores e a nobreza romana assistiram à solene canonização de São Vicente de Paulo, no pontificado de Clemente XII.

Fonte de referência:

Pierre Coste, Padre da Missão — Monsieur Vincent, le grand saint du grand siècle — Desclée de Brouwer et Cie., Paris, 1932.
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