Inscrição na Catedral de Lübeck

Inscrição na Catedral de Lübeck

Na Catedral de Lübeck, Alemanha, encontra-se a seguinte inscrição:

Chamais-me Mestre, e não me ouves;
Chamais-me Luz, e não me vedes;
Chamais-me Caminho, e não me segues;
Chamais-me Vida, e não palpitas com Meu Coração;
Chamais-me Sábio, e não me obedeceis;
Chamais-me Adorável, e não me adorais;
Chamais-me Providência, e não me pedis;
Chamais-me Eterno, e não me procurais;
Chamais-me Misericordioso, e não confias em Mim;
Chamais-me Senhor, e não me servis;
Chamais-me Todo-Poderoso, e não me receais;
Chamais-me Justo, e não vos justificais;
Se Eu vos condenar, não me culpeis, só a vós culpai!
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Santa Escolástica: fundadora das beneditinas


Santa Escolástica: fundadora das beneditinas
Fundadora de Ordem religiosa com mais de 14 mil conventos, a irmã gêmea de São Bento foi exemplo de espírito hierárquico, voltado para as mais altas cogitações

Um dos aspectos mais lamentáveis da profunda crise que se abateu sobre a Igreja em nossos dias é o que ocorre em certos conventos femininos: freiras igualitárias não aceitam superioridades e querem até se tornar sacerdotes.

Bem ao contrário dessas freiras progressistas, Santa Escolástica — cuja festa celebra-se a 10 de fevereiro — constitui magnífico exemplo de espírito hierárquico, amando as desigualdades queridas por Deus, voltada para as mais altas cogitações e praticando pureza ilibada.

De nobre estirpe

Nascida em 480 na cidade de Núrsia, na Úmbria (região central da Itália), de família nobre, Santa Escolástica era irmã gêmea do grande Patriarca dos Monges do Ocidente, São Bento.

Logo depois que seu santo irmão abandonou o mundo e foi para a gruta de Subiaco (próxima de Roma), imitou-o, guardando a virgindade, e levando vida de oração e recolhimento.

E quando São Bento fundou a Abadia de Monte Cassino, Santa Escolástica, acompanhada de muitas outras virgens, foi procurar o irmão para pedir-lhe conselho.

Rigor de São Bento

Tal era a vigilância de São Bento que não permitia a nenhuma mulher entrar no Mosteiro, nem mesmo sua irmã. Assim, atendeu-a do lado de fora, e indicou-lhe o fundo de um vale como local para ali se estabelecer com suas filhas espirituais.

Com a maior humildade, Santa Escolástica aceitou a orientação do irmão e, juntamente com as outras virgens, passou a viver num mosteiro construído no local escolhido por São Bento. Assim nasceu a Ordem segunda dos beneditinos, da qual Santa Escolástica é Fundadora. Tal Ordem difundiu-se de modo tão prodigioso que chegou a possuir 14 mil conventos em todo o Ocidente.

Apesar de Santa Escolástica ser sua irmã, o Santo Patriarca permitia ser visitado por ela apenas uma vez por ano. A santa aceitava essa restrição com espírito humilde e submisso.

Para tais conversas São Bento ia sempre acompanhado por monges e Santa Escolástica por monjas. Exemplo de castidade ilibada, meticulosa e vigilante da parte de ambos os santos. Aplica-se-lhes literalmente o antigo e sábio adágio: “Entre santa e santo, muro de cal e canto”.

Tempestade miraculosa

A última conversação que Santa Escolástica manteve com seu irmão é narrada por São Gregório Magno na esplêndida obra Vida e Milagres de São Bento.

“Um dia — escreve São Gregório Magno — veio ela como de costume, e seu venerável irmão desceu a vê-la acompanhado de alguns discípulos. Passaram todo o dia em louvores ao Senhor e em santas conversações, e ao anoitecer tomaram juntos uma refeição.

“Estando ainda sentados à mesa, como cada vez mais se prolongasse a hora naquele santo colóquio, Santa Escolástica rogou a São Bento: “Suplico-te que não me deixes esta noite, para que possamos falar até amanhã das alegrias da vida eterna”. Mas ele repondeu: “Que estás dizendo, irmã? De modo algum posso permanecer fora do mosteiro”.

“O céu estava tão sereno que nenhuma nuvem se avistava em todo o firmamento. A santa religiosa, ao ouvir a negativa do irmão, entrelaçando sobre a mesa os dedos das mãos, apoiou nelas a cabeça para orar a Deus todo-poderoso. Quando a levantou, era tal a violência de raios e trovões, e tal a enxurrada que a chuva produzia, que nem São Bento nem os irmãos que o haviam acompanhado podiam sequer transpor os umbrais do local em que estavam abrigados.

“Efetivamente, a devota mulher, quando apoiou a cabeça sobre as mãos, havia derramado sobre a mesa uma torrente de lágrimas, as quais tiveram como efeito fazer com que a serenidade do céu se transmutasse em chuva copiosa.

“Vendo então o homem de Deus que em meio a tantos relâmpagos e trovões, e com a chuva torrencial, não lhe era possível regressar ao mosteiro, entristecido começou a queixar-se: “Que Deus onipotente te perdoe, irmã. Que foste fazer?” E ela: “Ora, pedi a ti, e não me quiseste escutar; pedi então ao Meu Senhor e Ele me ouviu” …

“E assim foi que passaram toda a noite acordados, nutrindo-se ambos na mútua conversação e em santos colóquios sobre a vida espiritual”.

No local onde ocorreu o milagre da tempestade, foi depois erigido um oratório que recebeu o nome de Capela do Colóquio.

Conversas sérias, fruto de altas cogitações

Não podemos deixar passar o fato sem um breve comentário. Os temas das conversas dos santos irmãos eram sublimes porque provinham de altíssimas cogitações. Que diferença com certas conversas de religiosos ou religiosas progressistas em que se proferem tantas palavras ociosas! E o que dizer da introdução da TV dentro de tantos conventos?

Lembremo-nos sempre de que no dia do Juízo Deus nos pedirá conta de toda palavra ociosa.

Na Ladainha de todos os Santos há esta belíssima invocação: “Para que Vos digneis elevar as nossas almas às coisas do Céu, nós Vos rogamos, ouvi-nos”.

Era esse desejo das coisas celestes que ardia nas almas de São Bento e Santa Escolástica e produzia conversas tão cheias de unção.

Três dias depois, aos 67 anos morte de Santa Escolástica

No dia seguinte a venerável fundadora beneditina voltou à sua morada, retornou também à sua o servo de Deus.

Três dias depois, estando São Bento no mosteiro, levantando os olhos ao céu viu a alma da irmã, desprendida de seu corpo, penetrar em forma de pomba nas regiões celestiais.

Compartilhando com ela a alegria por tanta glória, deu graças a Deus onipotente com louvores e cânticos, anunciou a sua morte aos monges, e enviou-os logo para que trouxessem o corpo ao mosteiro, onde o depositaram na sepultura que ele havia preparado para si mesmo.

Era 10 de fevereiro de 547. São Bento morreu 40 dias depois, em 21 de março. Em 1997, portanto, comemorar-se-ão 1.450 anos da morte de ambos os santos. Quase um milênio e meio do falecimento de dois grandes Fundadores, cujas Ordens masculina e feminina constituíram dois pilares religiosos na formação da Cristandade medieval.

Que do alto do Céu Santa Escolástica reze por nós e nos obtenha da Santíssima Virgem o amor às justas desigualdades, à pureza, bem como a recusa completa ao igualitarismo e à sensualidade reinantes neste triste final de século. Peçamos-lhe também livrar-nos do espírito prosaico, e conseguir que nossas mentes estejam sempre voltadas para o desejo das coisas celestes.

Fontes de referência:

São Gregório Magno, Vida e Milagres de São Bento, Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda., São Paulo, 1995.
– Pe. José Leite, SJ, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, Portugal, 1987.
Enciclopédia Cattolica, Cidade do Vaticano, 1953, Vol. XI.
http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/90C2BE7F-3048-560B-1CA1404EE632ABF6/mes/Fevereiro1996 Cadastre seu email para receber atualizações gratuitas desta página

Alguns sites que ilustram a Cultura Católica

Hoje vou a mostrar alguns sites que ilustram o que são os frutos da Civilização Cristão e portanto da Cultura Católica:

http://oracoesemilagresmedievais.blogspot.com/ Orações Medievais

http://ascruzadas.blogspot.com/ As Cruzadas

http://castelosmedievais.blogspot.com/ Castelos Medievais

http://gloriadaidademedia.blogspot.com/ Idade Média

Boas leituras!
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São Boaventura, Doutor Seráfico


São Boaventura, Doutor Seráfico

Profundidade de pensamento filosófico e fecundidade das obras na vida de um devotíssimo Doutor da Igreja

por Luis Carlos Azevedo
No dia 15 de julho de 1274, aos 53 anos de idade, após receber a Extrema Unção das mãos do Papa Gregório X, falecia em Lyon (França) São Boaventura, íntimo amigo de São Luís IX, Rei de França, de Santo Anselmo e de Santo Tomás de Aquino.

Nasceu ele em 1221, em Bagnoregio, cidade da Toscana que pertencia então aos Estados Pontifícios. Aos quatro anos de idade, caindo gravemente enfermo, sua mãe, Rebela, levou-o a São Francisco de Assis, implorando sua intercessão. O Poverello tomou o menino nos braços e o abençoou. Tendo-o curado milagrosamente, devolveu-o à mãe, dizendo: “ó buona ventura” . Assim passou a ser chamado, não obstante ter sido João seu nome de batismo. A mãe, em reconhecimento, consagrou-o a Deus pelo voto de fazê-lo ingressar na Ordem Franciscana.
“Nele, Adão não pecou”

Efetivamente, aos 21 anos ingressou na Ordem de São Francisco, demonstrando desde logo grande fervor. Dois anos depois era enviado à Universidade de Paris, para completar seus estudos sob a orientação do grande mestre Alexandre de Hales. Este, vendo como, em meio à multidão de estudantes, o novo aluno conservava a alma tão pura, dizia com admiração: “Nele, parece que Adão não pecou” .

Teologia do Amor

No campo da produção intelectual deixou vasta obra teológica, bíblica e ascética. Costuma-se dizer que enquanto Santo Tomás cultivou o amor da teologia, São Boaventura cultivou a teologia do amor.

São Luís IX, o Rei cruzado, tinha particular estima por São Boaventura. A seu pedido, o Santo compôs um ofício da Paixão de Jesus Cristo. Redigiu também uma regra para um convento, fundado por Santa Isabel, irmã do rei.

Em 1257, com apenas 36 anos de idade, foi eleito Mestre Geral da Ordem de São Francisco, que contava mais de 20 mil membros, em cerca de mil conventos por toda a Europa. Ocupou este importante cargo durante 17 anos.

Devoção à Virgem

São Boaventura discorreu magistralmente sobre a Mediação Universal de Maria. Colocou os franciscanos sob a proteção especial da Mãe de Deus, traçando um plano de devoções regulares em sua honra, e compôs o famoso “Espelho da Virgem”, onde se estende sobre as graças, as virtudes e os privilégios de Nossa Senhora. Determinou que os frades rezassem o Angelus todas as manhãs, às seis horas, para honrar o mistério da Encarnação.

Nomeado Cardeal e dirigente de um Concílio

Quando morreu o Papa Clemente IV, em 1272, São Boaventura foi procurado pelos cardeais para que indicasse o sucessor. Foi eleito, assim, Tebaldo Visconti, sob o nome de Gregório X, o qual logo depois nomeou São Boaventura Cardeal e Bispo de Albano.

O Papa encarregou-o da preparação e direção do Concílio Ecumênico de Lyon, que devia reaproximar de Roma, embora temporariamente, a igreja cismática do Oriente.

Após a terceira sessão conciliar, caiu enfermo e mal pôde assistir à seguinte, na qual o chanceler de Constantinopla abjurou o cisma, com a aprovação de todo o alto clero greco-bizantino (50 metropolitas e mais de 500 bispos).

No dia 24 de junho, o Papa celebrou solene missa, na qual a Epístola, o Evangelho e o Credo foram cantados em latim e em grego. Os delegados gregos repetiram três vezes em sua própria língua: “Qui ex Patre Filioque procedit”. Ou seja, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, que era um dos pontos chaves do cisma. Em seguida São Boaventura pronunciou inflamado sermão.

Seu estado geral, contudo, agravou-se, e veio a falecer na passagem de 14 para 15 de julho de 1274. Foi sepultado no convento dos franciscanos em Lyon. Canonizado em 1482, teve seu nome inscrito, em 1588, entre os Doutores Maiores da Igreja, ou seja, ao lado de São Gregório Magno, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo e Santo Tomás de Aquino.

Infelizmente, protestantes huguenotes profanaram seu túmulo no século XVI. Os ossos foram incinerados e as cinzas jogadas ao rio. Com muito custo, somente seu crânio foi salvo.

Um fato pitoresco

A Crônica dos Gerais franciscanos conta que um frei de nome Egídio propôs o seguinte problema a São Boaventura: Quando se pensa nas luzes que os doutores de tua categoria recebem do céu, como pretender que os ignorantes como eu venham a conseguir a salvação? O essencial para a salvação respondeu o Doutor Seráfico – é amar a Deus. Apesar disso – insistiu Frei Egídio – poderá um inculto amar a Deus tanto como um sábio? E São Boaventura confirmou: Não só O pode amar tanto, mas ultrapassar nesse amor até mesmo os maiores teólogos.

Passava justamente na estrada, junto ao convento, uma pobre carregando um feixe de lenha. Frei Egídio não se conteve e gritou-lhe: Alegra-te, boa velhinha! Acabo de saber que depende só de ti amares a Deus ainda mais do que Frei Boaventura. Logo depois, Frei Egídio caiu em êxtase, que durou três dias.

Reflexões finais

Santo Tomás de Aquino, visitando-o um dia, perguntou-lhe em que livros aprendera sua ciência sagrada. “Eis respondeu, apontando para o crucifixo – a fonte de meus conhecimentos. Estudo Jesus, e Jesus crucificado!”

Temia o Doutor Seráfico comungar com freqüência, por humildade, considerando-se o mais vil dos pecadores. Após ter passado vários dias sem se aproximar da Sagrada Mesa, ao assistir à Missa a Hóstia que o padre consagrara partiu-se e, pelas mãos de um Anjo, foi levada a São Boaventura. Este milagre levou-o a comungar mais freqüentemente, e cada uma de suas comunhões era acompanhada de indizíveis consolações.

A exemplo de São Boaventura, poderíamos fazer quanto esteja ao nosso alcance (vide quadro) para receber Nosso Senhor Sacramentado de modo recolhido e digno, removendo absolutamente de nossas almas tudo quanto possa desagradar o divino hóspede.

Com o intuito de incitar os leitores a esse ardor na devoção eucarística, reproduzimos uma oração composta pelo Doutor Seráfico, cuja festa celebramos a 15 de julho.

Oração de São Boaventura para a Santa Comunhão

Feri, ó dulcíssimo Senhor Jesus, o mais íntimo e profundo de meu ser com o dardo suavíssimo e salutar do Vosso amor, com aquela verdadeira, inalterável, santíssima e apostólica caridade, a fim de que a minha alma se enlanguesça com o único desejo de sempre crescer em vosso amor.

Que eu vos ame intensamente, que desfaleça nos vossos átrios e deseje dissolver-me em vós e ser um convosco.

Que minha alma tenha fome de Vós, ó Pão dos Anjos, alimento das almas santas, Pão nosso de cada dia, supersubstancial, que tem toda doçura e sabor, e todo deleite de suavidade. Ó Vós a Quem os Anjos desejam contemplar!

Que o meu coração sempre tenha fome e se alimente de Vós, e que as entranhas do meu ser sejam repletas com a doçura de vosso sabor.

Que só de Vós tenha sede, ó fonte da vida e da sabedoria e da ciência e da luz eterna, torrente de delícias, riqueza da casa de Deus.

Só por V ÓS anseie, só a Vós procure, só a Vós encontre, só para Vós tenda e vos alcance. Só medite em Vós, só de Vós fale, e tudo o que fizer seja para louvor e glória do vosso nome, com humildade e discrição, com amor e deleite, com bondade e afeto, com perseverança até o fim.

Sede, Senhor, minha única esperança, toda minha confiança, minhas riquezas, meu deleite, meu encanto, minha alegria, minha quietude e tranqüilidade, minha paz, minha suavidade, meu perfume, minha doçura, meu pão, meu alimento, meu refúgio, meu auxílio, minha sabedoria, minha partilha, meus bens, meu tesouro.

Somente em Vós minha alma e meu coração estejam radicados de modo fixo, firme e inamovível. Assim seja.
FONTES DE REFERÊNCIA:
Enciclopedia Cattolica, Cidade do Vaticano, 1949, p.1838 e ss.
Catechismo Maggiore promulgato da San Pio X, Edizioni Ares, Milão, 1979, p.l44 e ss.
http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/3DA8103E-C09F-3428-CEABA26A3FA05C1D/mes/Julho1995
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Isto eu pedi a Deus

Isto eu pedi a Deus
Eu pedi fortaleza e Deus me deu dificuldades para fazer-me forte.
Eu pedi sabedoria e Deus me deu problemas para resolver.
Eu pedi prosperidade e Deus me deu a inteligência e capacidade para trabalhar.
Eu pedi coragem e Deus me deu perigos a superar.
Eu pedi amor e Deus me deu pessoas problemáticas para eu ajudar.
Eu pedi favores e Deus me deu oportunidades…

Eu não recebi o que queria…..
Eu recebi tudo que precisava!
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São Benedito, patrono da raça negra

sao benedito, rogai por nos


São Benedito, patrono da raça negra

Mais de um século antes de ser canonizado, no Brasil ele já tinha muitos devotos

Luiz Carlos Azevedo

Corre o ano de 1589. Em uma pobre cela no convento franciscano de Santa Maria de Jesus, a três quilômetros de Palermo, sul da Itália, o enfermeiro observa o irmão leigo, iletrado, que faz alguns movimentos no leito de dores em que se encontra há dois meses.

Seu rosto, alquebrado pela fadiga de 63 anos transcorridos em meio a intensas atividades apostólicas, em dado momento ilumina-se. Sua boca se abre e os olhos tornam-se fixos e extáticos. “É o fim, o irmão está cruzando o limiar da eternidade” – pensou o enfermeiro. E sai correndo a fim de chamar outros frades para as derradeiras orações que se fazem pelos agonizantes.

O doente, entretanto, terminado o êxtase e após o retorno do enfermeiro, diz-lhe: “Fique tranqüilo. Eu o avisarei do dia e hora da minha morte. Vou falecer no dia 4 de abril”. Ao que o enfermeiro retruca: “Imagine, Frei, como esta casa ficará cheia!” Pois ele bem conhecia a extraordinária fama de santidade daquele frade, a qual foi tão grande por toda parte, quando ainda vivo, que raramente se encontra algo semelhante na História da Igreja.

– “Pode ficar sossegado, não virá ninguém”, garantiu-lhe o Santo. As duas profecias cumpriram-se ao pé da letra.

Com efeito, no dia da morte e do sepultamento houve um grande afluxo de gente para a festa do Divino, numa igreja do Espírito Santo, nos arredores de Palermo, e por isso ninguém foi ao convento.

No dia aprazado, o Santo recebeu o consolo dos Sacramentos da Igreja: confissão, comunhão, extrema-unção, inclusive a bênção papal.

O enfermo senta-se na cama e, olhando para o céu, reza e contempla. Invoca seus santos padroeiros: São Francisco de Assis, São Miguel Arcanjo, os Apóstolos São Pedro e São Paulo.

Em determinado momento das orações, e depois de uma visão de Santa Úrsula, Benedito – é esse o nome do moribundo – pronuncia em alta voz: “Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito”. Em seguida, deita-se, fecha os olhos e dá o último suspiro.

Naquele exato momento, não longe dali, Benedita Nastasi, de 10 anos de idade e sobrinha do Santo, observando uma pombinha que entrara dentro de casa, ouviu a voz do tio:

– “Benedita, queres alguma coisa de lá.

– “De lá, onde, meu tio?” – indaga a menina.

– “Lá do Céu, minha filha” – completa a conhecida voz. E a pombinha desaparece …

Nosso tão popular São Benedito, o Negro, chamava-se Benedito de São Filadelfo, pois tal era o nome da localidade (hoje San Fratello) perto de Messina (Sicília) onde ele nasceu, em 1526. Era filho de escravos etíopes, comprados pela família Manasseri.

Sabe-se que o Santo foi pastor, tornando-se depois eremita. Para obedecer a uma ordem do Papa, ingressou posteriormente como irmão leigo na Ordem Franciscana, no convento de Santa Maria de Jesus, nas imediações de Palermo. Ali notabilizou-se como cozinheiro milagroso, pois, com freqüência, os Anjos do Céu desciam para ajudá-lo na preparação das refeições.

Apesar de iletrado e de ser apenas irmão leigo, eram tais os dons e carismas com os quais a Divina Providência ornou sua alma, que foi eleito Superior e Mestre de Noviços do convento.

A exemplo do Seráfico Pai São Francisco, seu Fundador, o sem número de milagres e prodígios operados já em vida por São Benedito constituem também verdadeiros fioretti. Impossível referi-los todos. Resta-nos mencionar ao menos alguns.

Cura de cancerosa

Antes de fixar-se no convento de Santa Maria, Benedito levou vida eremítica em Nazana, durante oito anos, e em Mancusa, na região de Palermo.

Então, sua fama de santidade já ia alta. Certo dia em que atravessava Mancusa, chamaram-no para ver uma doente num casebre. “Não posso fazer muita coisa por ela, pois não sou sacerdote. Mas posso fazer-lhe uma visita e rezar por ela”, respondeu. “Me acode, Frei”, gritava a pobre mulher, roída por um câncer no seio, que se alastrava terrivelmente. “Me dá uma bênção, por amor de Deus!”

Condoído pelas dores da enferma e pela aflição de seus familiares, o Santo aproximou-se do leito, rezou com todos os presentes, animou a enferma a ter Fé em Deus, e depois, a pedido dela, traçou o sinal da cruz sobre a chaga do seio. Instantaneamente foi curada, restando-lhe uma cicatriz apenas! Logo em seguida, Benedito bateu em retirada, para fugir de qualquer agradecimento ou louvor.

Ressurreição de mortos

Certa vez, quatro senhoras de Palermo – Eulália, Lucrécia, Francesca e Eleonora, esta última com o filho de cinco meses nos braços vieram visitar o Santo no convento de Santa Maria. De regresso à cidade, ainda perto do convento, a carroça virou e prensou a criança, que teve morte instantânea. Os frades vieram socorrê-las, e Benedito deparou-se com a patética cena da mãe abraçada ao corpinho disforme.

Benedito aproximou-se e disse: “Pare de chorar. A criança não está morta; pode dar-lhe de mamar”. Os circunstantes pensavam que o Santo delirava. Entretanto, mal a mãe lhe obedecera, a criança começou a sorrir, deixando a todos atônitos.

Fato análogo sucedeu com o filho de João Jorge Russo. Quando visitava o convento com sua esposa e alguns parentes, a carroça em que viajavam caiu de uma ponte e a criança ficou esmagada.

“Tenham muita confiança em Nossa Senhora. Vamos rezar”. Esse recurso à mediação da Santíssima Virgem, aliás, era uma constante em todas as intervenções de São Benedito.

Todos se ajoelharam e começaram a rezar; ato contínuo, a criança abriu os olhos, despertando do sono da morte.

Antes mesmo de fazer-se eremita – e talvez este tenha sido o primeiro milagre operado por São Benedito -, trouxeram à sua presença uma criancinha morta.

Condoído, o Santo tomou aquele corpo inanimado em seu braço esquerdo, e com a mão direita fez o sinal da cruz sobre a pequena fronte enregelada. Após os presentes rezarem o Pai Nosso e a Ave Maria, o milagre da ressurreição se realizou!

Milagre das flores

São Benedito tinha o costume de recolher os restos de comida do convento em seu avental de cozinha, para distribuí-los depois aos pobres.

Certa vez o Santo encontrou-se com o vice-rei da Sicília, Dom Marcantonio Colonna, que, atraído pela fama de sua santidade, veio visitá-lo. Curioso, o ilustre visitante perguntou a Benedito o que levava com tanto cuidado. Ele simplesmente abriu o avental e mostrou … flores, tão frescas e aromáticas, que o vice-rei levou-as para o altar de sua capela particular.

Peixes que aparecem e pães que se multiplicam

Em certa ocasião acabaram as provisões do convento. Era inverno e chovia torrencialmente. E os religiosos não tinham sequer condições de sair para pedir esmolas.

Benedito pediu a um frade, que o auxiliava na cozinha, que abrisse os Santos Evangelhos em qualquer lugar e lesse o que estava escrito. A seguinte passagem foi lida: “Não vos preocupeis com a vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai celeste as alimenta” (Mt 6,25-26).

Iluminado por essas palavras e movido pela sua heróica confiança na Providência, o Santo pôs-se a agir. Encheu com água todas as panelas, tachos e latas grandes que havia no convento. Na manhã seguinte, estavam cheios de peixes frescos, muitos deles vivos.

Em outra ocasião em que Benedito, então superior do convento, deu ordem ao irmão porteiro, Vito da Girgenti, de distribuir pão aos pobres, o religioso, vendo que a fila era enorme, reservou no fundo do cesto alguns pães para os frades. O fato chegou ao conhecimento de Benedito, que intimou o porteiro a chamar de volta todos os pobres que ficaram sem pão: “Dê aos pobres tudo o que estiver na cesta mandou Benedito -, pois a Providência nos socorrerá”.

Ao obedecer, o irmão Vito notou maravilhado que o pão da cesta não se acabava mais; quanto mais ele tirava, mais aparecia!

Os frades relapsos

Certa vez, três noviços resolvem fugir do convento e voltar para casa. De madrugada galgam o muro, e na rua, quando cantam vitória pela pseudo-façanha, divisam um vulto que vinha ao seu encontro. Era Frei Benedito, que os interpela: “Que jazem aqui a estas horas? Voltem já para o convento!” E os aconselhou a rezar muito pela perseverança na vocação.

Meses depois, eles caem de novo na tentação de fugir, e tomam o maior cuidado para que ninguém saiba de nada. Quando novamente ganham a rua, dão de frente com Frei Benedito, que abre os braços, dizendo: “Alto lá, onde pensam que vão?” Os três reconhecem um sinal de Deus a fim de perseverarem, pedem perdão ao Santo, prometendo não mais reincidir na falta.

“O Santo, o Santo” …

A cada milagre que acontecia, o povo acorria à portaria do convento, aclamando e louvando o Santo. Sua popularidade e veneração se tornaram tais que ele acabou, certa vez, transtornando uma procissão de “Corpus Christi”. Nessa ocasião, os frades tomaram parte na procissão da Catedral de Palermo. E São Benedito foi designado para portar a cruz processional, à frente do cortejo. Ao fixar os olhos no Crucificado, sentiu-se arrebatado pelo amor a Nosso Senhor e entrou em êxtase. Seu corpo passou a deslizar suavemente, sem que ele movesse os pés.

Ao ver aquilo, o povo irrompeu em gritos de admiração: “Olhem o Santo, o Santo!” As filas da procissão se desorganizaram completamente. Os encarregados da ordem gritavam para que as pessoas se enfileirassem. Mas não houve jeito, e a procissão retomou logo para a Catedral…

O corpo incorrupto

Quando, após as comemorações do Divino Espírito Santo, o povo ficou sabendo que Benedito havia falecido e já estava sepultado, todos se dirigiram para Santa Maria de Jesus. O túmulo estava em local de difícil acesso, e o grande afluxo de peregrinos perturbava a vida dos frades. E o seu número crescia a cada dia, na proporção em que se difundia a notícia dos milagres operados junto à sepultura.

Começaram a implorar relíquias do Santo. Suas vestes e as roupas da cama onde faleceu foram transformadas em tiras. Até mesmo sua cama e colchão foram reduzidos a pedacinhos, avidamente disputados pelos visitantes.

A 7 de maio de 1592, três anos após sua morte, seu corpo, incorrupto e exalando suave perfume, foi colocado numa uma instalada em cavidade aberta em parede da sacristia da igreja de Santa Maria de Jesus. Entretanto, a sacristia logo transformou-se em capela, com o povo cantando, rezando, pagando promessas. Isso durante dezenove anos a fio.

No dia 3 de outubro de 1611, com a presença do Cardeal Dória, o corpo de São Benedito foi transladado novamente para magnífica urna de cristal numa capela lateral da própria igreja de Santa Maria de Jesus, no antigo convento franciscano, a três quilômetros de Palermo, cidade que, antes mesmo do reconhecimento oficial da Igreja, tomou-o por Padroeiro, em 1652.

São Benedito foi declarado bem-aventurado em 1763, por Clemente XIII, e canonizado pelo Papa Pio VII em 25 de maio de 1807.

Culto no Brasil

O Estado da Bahia foi o pioneiro na devoção a São Benedito em terras brasileiras. Já antes mesmo de sua canonização havia lá uma irmandade em sua honra. Simultaneamente, a devoção ao Santo deitou profundas raízes no Maranhão. Sabe-se da existência de imagens de São Benedito pelo menos desde 1680, em Olinda, Recife, Igaraçu (PE), Belém do Pará e Rio de Janeiro.

O mesmo sucedia em São Paulo. Um século antes de ele ser declarado santo pela Igreja, já era venerado como tal nas igrejas freqüentadas pelos membros da Venerável Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (1707). E hoje a devoção ao Santo já é um fenômeno nacional. Não faltam pelo Brasil afora paróquias, capelas, ou ao menos um altar com a imagem do Santo Negro.
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OBRA DE REFERÊNCIA
Pe. Aloísio Teixeira de Souza, Vida de São Benedito, Editora Santuário, Aparecida (SP), 1992.
http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/7461C4E5-3048-560B-1C255007C3C567B6/mes/Outubro1995
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Venerável Maria Clotilde de Bourbon, Rainha da Sardenha


Venerável Maria Clotilde de Bourbon, Rainha da Sardenha
Por Julio Loredo

Uma admirável e infelizmente pouco conhecida irmã de Luís XVI – o rei-mártir, vitima da Revolução Francesa –, falecida a 7 de março de 1802, e em vias de ser beatificada, soube aliar os esplendores de sua ascendência principesca e a condição de rainha com a heroicidade das virtudes.

Visitando recentemente uma igreja moderna em Nápoles, chamou-me a atenção a homilia que o sacerdote fazia durante a Missa. Falava ele de uma rainha santa enterrada nessa cidade, figura histórica muito popular entre os napolitanos.

Vivamente impressionado pela personagem, objeto de tanta devoção popular, dirigi-me à velha igreja de Santa Catarina a Chiaia para onde, em número cada vez maior, acorrem os fiéis a fim de venerar os restos mortais de Maria Clotilde de Bourbon, Rainha da Sardenha (17591802), hoje em processo de beatificação.

É evidente que há um trabalho da Providência”, explica-me o Pe. Antonino d’Chiara, jovem e dinâmico vigário de Santa Catarina. “A devoção à Venerável Clotilde de Bourbon estava praticamente moribunda. Porém, de alguns anos para cá, assistimos a uma verdadeira explosão de entusiasmo para com a Rainha perseguida pela Revolução Francesa “.

– “A que atribui o Sr. esta explosão?”, indago curioso.

– “Estamos numa hora histórica muito especial” – responde o sacerdote -;

– “Uma série de preconceitos contra a nobreza estão desaparecendo. Agora começa-se a compreender que pode haver, e de fato houve, muita santidade entre os nobres, mesmo de estirpe real. Eu mesmo estou compreendendo cada vez mais as inter-relações entre nobreza e santidade. A Venerável Maria Clotilde não foi santa apesar de ser rainha. Ela foi santa e rainha. Sua condição de rainha foi vivida com profunda Fé e espírito de sacrifício. Agora esperamos vê-Ia elevada à honra dos altares”.

Maria Clotilde Adelaide de Bourbon nasceu em 23 de setembro de 1759, em meio aos esplendores do Palácio de Versalhes. Neta do Rei Luís XV, filha do Delfim Luís de França, irmã do futuro Rei Luís XVI, Maria Clotilde estava destinada a um porvir à altura de sua condição de princesa real.

Na Corte, a princesinha era como um raio de luz. Escrevendo a sua mãe Imperatriz Maria Teresa, a futura Rainha Maria Antonieta dizia: “A Clotilde é a doçura personificada, composta, sensível e sempre com um sorriso de bondade à flor dos lábios”.

Muito cedo deu mostras de elevada piedade. Aos três anos lia diariamente o Catecismo. Pouco depois, vendo uma tia – a Princesa Luíza, filha de Luís XV – abandonar a vida da Corte para tomar o hábito de carmelita, manifestou o desejo de imitá-la. A razão de Estado, porém, lhe reservara outro destino.

Em 1775, com apenas 16 anos, uniu-se em casamento com Carlo Emanuele de Savóia, Príncipe do Piemonte, herdeiro do trono da Sardenha trasladando-se para Turim, capital’ de seu novo reino. A Providência lhe foi benigna, pois seu real consorte era também fervoroso católico.

Maria Clotilde logo cativou os corações de seus novos súditos, edificados em ver tanta piedade na jovem princesa vinda da França. As memórias da época são unânimes em ressaltar seu requinte e grandeza, como também sua extraordinária humildade e seu espírito de mortificação. Quando a família real saía à rua para dirigir-se à igreja ou a alguma função de protocolo, o povo se apinhava gritando:

“Vamos ver nossa santa passar!” O próprio Príncipe do Piemonte freqüentemente pedia que as pessoas se encomendassem à sua esposa, pois “ela é iluminada e mantida pelo Céu”.

“Tanta espiritualidade numa princesa e numa rainha não nos deve espantar”, escreve um biógrafo da santa, o Pe. Giovanni Parisi. “A alta aristocracia e a nobreza em geral conservavam – mesmo nos faustos indispensáveis da vida de corte – ainda íntegros os princípios da moral, da retidão, da devoção à Igreja. Isto é largamente demonstrado pela longa lista de santos e beatos entre as casas reais da Europa. A Casa de Savóia não estava, neste ponto, em último lugar” (1).

Com apenas 24 anos, tendo perdido toda esperança de dar um herdeiro ao trono dos Savóia, de acordo com seu consorte a Venerável fez voto de castidade e decidiu viver com seu esposo na mais perfeita continência. Os dois perseveraram em tal estado até a morte.

Fortaleza diante do tufão revolucionário
A via crucis da
Princesa iniciou-se em 1789. Nesse ano, eclodiu a Revolução Francesa que logo começou a perseguir sua família e a trabalhar pela ruína da monarquia estabelecida numa nação cognominada “Filha Primogênita da Igreja”, em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Profundamente devotada aos princípios monárquicos e aristocráticos do Ancien Régime, Maria Clotilde sentiu em sua própria pele, embora à distância, as devastações revolucionárias.

Em agosto de 1789, a Assembléia revolucionária votou a abolição dos direitos feudais. Em 1791 foi a vez do trono cair por terra. Sob a pressão de Robespierre, as prisões começam a encher-se de inocentes cujo único “delito” era ser aristocrata ou ter sido acusado de manifestar simpatias pela aristocracia. Começava o Terror, cujos ecos abalaram seriamente a saúde da Venerável.

Em fins de janeiro de 1793, terrível notícia: seu irmão, o Rei Luís XVI, fora guilhotinado! Com admirável resignação, Maria Clotilde se retirou a seus aposentos para chorar sozinha. Era o fim de uma época. Meses mais tarde, chega a fatídica informação de que também sua cunhada, a Rainha Maria Antonieta, tinha sido vitimada pelo ódio satânico da Revolução.

Maria Clotilde mal havia se refeito desses golpes, quando lhe é comunicado que sua irmã Mme. Elizabeth, da qual ela havia cuidado como mãe após a morte prematura dos pais, tinha sido condenada pelo Tribunal revolucionário de Paris e guilhotinada pelo simples “crime” de ser princesa de sangue real. O próprio Príncipe do Piemonte deu-lhe a notícia. Deixando cair a cabeça, ela apenas suspirou: “O sacrifício foi feito!”, e caiu desmaiada por terra.

Em 1796, a morte do Rei Vittorio Amadeo III eleva ao trono do Piemonte o piedoso casal. De natureza belicosa, Vittorio Amadeo III morreu em meio à dor de ver seu Reino se esfarelar por causa da Revolução Francesa, e a conseqüente política napoleônica de estender suas metástases revolucionárias por toda a Europa, abatendo velhos tronos e dinastias.

O novo Rei, Carlo Emanuele IV, torna-se logo alvo de muitas conspirações, milagrosamente sobrevivendo a vários atentados. A isto se somava a constante pressão externa das tropas revolucionárias francesas.

Abdicação e exílio em Nápoles

No dia 8 de dezembro de 1798, cedendo à dupla ameaça interna e externa, Carlo Emanuele IV é forçado a abdicar do trono por pressão direta da França. Após ter colocado o Santo Sudário – que fazia parte da herança da Casa de Savóia – em lugar seguro, a família real teve que fugir para o Sul, em meio aos rigores do inverno.

Em Florença, devido a uma triste coincidência, encontram-se os soberanos sardos com o Papa Pio VI, também ele fugitivo das tropas revolucionárias que tinham invadido Roma e proclamado uma espúria República Romana. Caindo aos pés do Pontífice, o Rei exclamou: “Ah, Santo Padre. Benditas as nossas desgraças que nos conduziram aos pés do Vigário de Cristo!”

Após desventuras sem fim, que muito abalaram a saúde da Rainha, o casal instalou-se em Nápoles, capital do Reino das Duas Sicílias, onde foram recebidos oficialmente pelo Rei Ferdinando, já então triunfante sobre as forças revolucionárias que o tinham forçado a refugiar-se temporariamente na Sicília.

Em Nápoles, Maria Clotilde afeiçoou-se especialmente à igreja de Santa Catarina a Chiaia, dos padres da Ordem Terceira de São Francisco, fazendo-se ela mesma Terceira Franciscana. O povo napolitano, piedoso e entusiasta, a venerava já em vida como santa. Aos que iam visitá-la, Carlo Emanuele dizia: “Venham, mostrar-lhes-ei meu Anjo”

Morte e glorificação

Porém, chegava a hora do supremo sacrifício. Muito debilitada pelas mortificações, golpeada no mais Íntimo pelas más notícias que lhe chegavam de todas as partes sobre o avanço das idéias revolucionárias, a Rainha Maria Clotilde de Bourbon morreu no dia 7 de março de 1802, com apenas 42 anos de idade. Imediatamente, correu a voz pelas estreitas ruas da cidade: “Morreu uma santa! Ditosa ela que se foi ao Paraíso!” (2).

Enterrada na igreja de Santa Catarina a Chiaia, Maria Clotilde foi logo objeto de devoção popular. O Papa Pio VII a declarou “Venerável” já em 1808. Seu processo de beatificação correu fácil e célere até 1844, ano em que foi bruscamente abandonado por razões políticas, ligadas ao papel que a Casa de Savóia teve na unificação italiana.

Mas o tempo foi deitando sua inexorável poeira sobre os acontecimentos. A causa foi retomada em 1972, e levada a feliz termo dez anos mais tarde pelo infatigável Pe. Gabriele Andreozzi, Postulador Geral das causas dos Terceiros Franciscanos. Nesse ano, a Santa Sé promulgou o decreto sobre a heroicidade das virtudes da Venerável Maria Clotilde de Bourbon, abrindo assim o caminho para sua beatificação.

Apreço atual pela nobreza

Confirmando o clima de renovada veneração pela nobreza que se nota um pouco por toda parte, o fluxo de fiéis à igreja de Santa Catarina não faz senão aumentar. Um Comitê de Honra, do qual fazem parte, entre outros, destacados membros da nobreza napolitana, tomou sobre si a tarefa de difundir o culto à ilustre Rainha.

São realmente muitos os que, nesta belíssima cidade espraiada nas encostas do Vesúvio, desejariam ver elevada à honra dos altares a irmã de Luís XVI, o Rei-mártir da Revolução Francesa. A estes se somam, em todo o mundo, as milhares de almas para quem a Venerável Maria Clotilde de Bourbon-Savóia representa uma excelsa síntese da aristocracia proveniente de seu altíssimo berço e da virtude cristã, fruto de uma piedade que atingiu os páramos da santidade.
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NOTAS:
1. Pe. Giovanni Parisi, T.O.R., La Venerabile Maria Clotilde, Regina di Sardegna, Tipografia Samperi, Messina, 1992, p. 5.
2. O Rei Carlos Emanuele IV posteriormente refugiou-se em Roma, onde viveu uma vida de recolhimento e oração no noviciado dos jesuítas, em Santo Andrea al Quirinale. Teve uma morte edificante em 1819.

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Vem, Menino Jesus! – Parte II

Vem, Menino Jesus! – Parte II
Pouco antes do Natal, no dia 17 de dezembro, a professora inventou um estratagema cruel, com o qual pretendia dar um golpe mortal nas “superstições ancestrais” que infestavam a escola. E preparou a cena com todo o entusiasmo. Naturalmente, a pobre Ângela foi a vítima escolhida. Com voz doce, a professora a interrogou:

Dize-me, minha pequena: quando os teus pais te chamam, o que fazes?
Vou imediatamente respondeu Ângela com timidez.
Muito bem! Tu ouves chamar e vais logo, como filha bem educada e obediente. E se teus pais chamarem um limpa-chaminés, o que acontece?
Ele vem respondeu Ângela. O seu coraçãozinho pulava desordenadamente. Pressentia uma cilada, mas não sabia qual seria.

A professora prepara uma cilada para Ângela

A professora tinha uma expressão falsa, traiçoeira, os olhos brilhavam como os de um gato que brinca com um ratinho. Mais tarde as alunas contaram-me também:

Sentíamos medo. Ela tinha o ar tão mau, tão mau!…

O interrogatório continuou:

Muito bem! Muito bem! Tu vens porque existes. O limpa-chaminés vem, porque existe. Ele existe!

Após um breve e deliberado silêncio, ela prosseguiu:

Mas supõe agora que teus pais chamam a tua avó, que já morreu. Ela vem?
Não, não pode vir…
Bravo! Muito bem! E se eles chamarem o “Barba-Azul”, ou a “Princesa de pele de burro”? Tu conheces essas histórias. Dize-me: eles vêm?
Não, não vêm, porque só existem nas histórias.

Ângela ergueu os olhos para a mestra e baixou-os logo. Sentiu que o olhar dela a transpassava, lhe fazia mal. Mas o diálogo continuou:

Esplêndida resposta! Parece que hoje estás mais esperta… Reparem, minhas filhas, reparem todas: os vivos, os que existem, respondem quando os chamam. Os outros não respondem, não vêm, porque não estão vivos ou porque não existem. Compreendem, não é?
─ Sim! responderam em coro.
Agora vamos fazer uma pequena experiência e voltando-se para Ângela, ordenou-lhe: Sai, minha filha.

A garota hesitou. Depois levantou-se do banco, saiu, e a porta fechou-se pesadamente sobre a sua figurinha miúda.

Agora, meninas, chamem-na!
Ângela! Ângela! gritaram trinta vozes de garotas, convencidas de que estavam participando de uma brincadeira, um jogo que as divertia. Ângela entrou, intrigada, sem saber o que pensar. A professora preparava-se manhosamente para saborear os frutos do seu maquiavélico plano.
Afinal, estamos todas de acordo. Quando chamamos aqueles que vivem, que existem, eles vêm. Quando chamamos os que não existem, eles não podem vir. Ângela está aqui, viva, em carne e osso, ouviu que a chamamos e veio ter conosco. Suponhamos que chamássemos o Menino Jesus. Parece que há entre vós quem acredite nele…

Houve um silêncio, de medo talvez. E aquelas vozes tímidas responderam:

Acreditamos!
E tu, Ângela, crês que o Menino Jesus te ouve, quando o chamas?

A professora pediu a Ângela que chamassee a
Jesus para demonstrar que Ele não existe

Ângela sentiu-se bruscamente esclarecida. Eis a cilada que ela pressentira, mas da qual desconhecia a perversidade, e respondeu com ardente fervor:

Sim! Creio que Ele me ouve!
Muito bem! Façamos a experiência: as meninas viram que Ângela, quando a chamávamos, veio imediatamente. Se o Menino Jesus existe, Ele ouvirá que O chamam. Gritem todas, ao mesmo tempo e com força: “Vem, Menino Jesus!” Vamos! Um, dois, três! Vamos! Chamem!

As crianças baixaram as cabecinhas. Um silêncio pesado, angustioso, desceu sobre elas. Gertrudes soltou uma gargalhada prolongada, diabólica:

Vamos! Eu quero que vocês O façam vir! Quero que me provem que Ele existe!… Ah! Não se atrevem a chamá-lo, porque sabem que o vosso Menino Jesus não virá!… E sabem por que não vem? Porque Ele não existe, não ouve, é como o “Barba-Azul”, como a “Princesa de pele de burro”, que são apenas mitos, histórias para as velhas contarem nos serões. Histórias que ninguém toma a sério!…

Intimidadas, as garotas continuavam caladas. Mas os argumentos da mestra as tinham impressionado, ferido em pleno peito. É preciso desconhecer a psicologia infantil, para não avaliar a angústia dessas crianças ante a argúcia duma mulher experiente e malévola, que executava um plano preconcebido. Em algumas a dúvida surgia, como me confessaram mais tarde.

Sim! insistia a mestra se Ele existe, por que não vem?

Ângela continuava de pé, pálida como uma morta. As suas companheiras receavam, ao vê-la assim, que caísse ao chão. A professora saboreava a aflição das alunas. Enfim, triunfava e esmagava a fé naquelas pequeninas almas…

Ângela chamou: “Vem Menino Jesus
e Ele apareceu!

De repente, o imprevisto se deu. De um salto, Ângela atirou-se para o meio da sala. Nos olhos, tinha um clarão de esperança confiante. Olhou em volta e gritou:

Ouçam-me! Vamos chamá-lo! Gritemos todas: “Vem, Menino Jesus!”.

Num instante, todas se puseram de pé, com as mãos erguidas numa prece, os olhos brilhantes, os corações a pulsar numa imensa esperança. Num uníssono vibrante, as suas vozes se ouviram:

─ Vem, Menino Jesus!

A professora não esperava esta súbita reação. Instintivamente recuou, com os olhos fitos em Ângela. Um silêncio profundo se seguiu, pesado como uma lenta agonia. Depois, de novo se ouviu aquela vozinha de cristal:

Vamos! Chamemos mais! Gritem muito algo!

E um clamor forte, imenso, capaz de transpassar as paredes, vibrou:

Vem, Menino Jesus! Vem, Menino Jesus!

O medo, a dúvida, por um momento jugulados, podiam renascer, mas o sentido da camaradagem deu o impulso que as reuniu em torno daquela que se revelava “chefe” e esperava o milagre. Tinham os olhos fitos, não na porta, por onde poderia entrar o Menino, mas na parede branca, em que se destacava a figurinha de Ângela, e continuavam a repetir:

Vem, Menino Jesus!

Nesse instante a porta abriu-se sem ruído, e as crianças pensaram que toda a luz do dia entrava por ela. Era uma claridade intensíssima, que crescia, crescia, como a chama violenta dum enorme fogo. No meio desse clarão, um globo cheio de luz. O medo invadiu-as, mas nem tiveram tempo para gritar ou fugir: o globo abriu-se e apareceu um Menino lindo e risonho, como nunca tinham visto. O Menino sorria sem proferir uma palavra, e todas sorriram também, tranqüilas e contentes. Algumas garotas esfregavam os olhos, para melhor contemplarem o Menino vestido de luz, outras olhavam-no de olhos espantados, sem pestanejarem. O Menino sorria, não falava, sorria para todas.

Depois o globo fechou-se, de mansinho, e desapareceu devagar. A porta cerrou-se sem que ninguém lhe tocasse, e as crianças emocionadas, os coraçõezinhos inundados de felicidade, sem uma palavra abraçavam-se, a chorar de felicidade. O Menino as ouvira! O Menino viera!

Que tempo durara a aparição? Uns instantes? Uma hora? Cada criança calculava a seu modo, ao testemunhar a aparição do Menino. Todas diziam:

“Estava vestido de branco, e parecia um sol pequenino”.

As crianças olhavam ainda a porta. Subitamente, um grito agudo quebrou a emoção desse silêncio. Aterrada, olhos esgazeados, braços estendidos, mãos enclavinhadas, a professora gritava como louca:

Ele veio! Ele apareceu!

Em seguida fugiu, batendo com força a porta. Ângela mexeu-se, enfim, como quem desperta dum sonho:

Vocês viram?
Sim, vimos!
Ele é que trazia a luz dizia uma.
A luz do dia é negra, comparada àquela claridade acrescentava outra.
Vocês viram? repetia Ângela Ele existe!

Toda a gente falava deste acontecimento, que as crianças contavam maravilhadas. Os pais vieram ver-me, acompanhados das filhas. Interroguei-as, uma por uma. Pois bem, posso declarar, sob juramento, que nas suas palavras não encontrei contradições. Isto surpreendeu-me, tão extraordinário era o que se tinha passado. Uma garota dizia-me, muito satisfeita:

Senhor, nós estávamos com muito medo, e bem precisávamos que o Menino nos acudisse…

O fato ficou famoso e a
professora enloquecceu

O mundo inteiro já conhece este fato. Mas agora devo dar o epílogo. A Sra. Gertrudes deu entrada num manicômio. O cérebro ressentiu-se do tremendo abalo que sofreu, e não cessava de repetir: “Ele veio! Ele veio”. Tentei visitá-la. Em vão, pois recusam absolutamente entrada aos padres nas casas de alienados. É que são freqüentes os casos de obsessão religiosa… Os profanadores de igrejas, em geral, acabam loucos. Todos os dias, ao celebrar a Missa, rezo por ela e por todos.

Concluídos os exames, Ângela foi para casa, ajudar a mãe. É a filha mais velha dum rancho de irmãos. A minha partida precipitada nada mais me deixou saber a seu respeito.

(Maria Minovskca, in “Magnificat”, Ano XVI, Nº 2, fevereiro/março de 1966 – Braga, Portugal)

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São Vicente, mártir: triunfante dos suplícios e de seus perseguidores


São Vicente, mártir: triunfante dos suplícios e de seus perseguidores

O mártir romano, por sua assombrosa fortaleza nos tormentos, fé inabalável e altaneira atitude ante o magistrado pagão é um modelo para os católicos de hoje, imersos num pântano de relativismo religioso e neopaganismo.

Por Paulo Corrêa de Brito Fº

Que rosto é este? Oh vergonha!’ — dizia enfurecido Daciano. O atormentado ri-se e provoca, mais forte que o verdugo”.

Assim o poeta latino cristão Prudêncio descreve, em seu famoso “Peristephanon” ou Hino V, a desafiante posição assumida pelo jovem arcediácono Vicente diante de seu torturador, o juiz Daciano, grande perseguidor dos cristãos na Espanha.

Esse belo hino constitui uma das fontes históricas mais antigas referentes ao glorioso mártir. Seu conteúdo coincide substancialmente com a Passio (Paixão), documento posterior às atas originais do processo de São Vicente, que não chegaram até nós. Apesar de a Passio ter incorporado algo de legendário, na essência ela merece fé.

Segundo tais fontes, Vicente descendia de ilustre estirpe, sendo seus pais fervorosos cristãos. Embora se acredite ter ele nascido na cidade de Huesca, berço natal de sua mãe, recebeu em Zaragoza formação eclesiástica.

Valério, Bispo dessa localidade, nomeou-o arcediácono, o primeiro dos sete diáconos que, segundo a praxe, davam assistência aos Prelados, na Igreja dos primeiros tempos.

Sendo Valério tartamudo, estando assim impossibilitado de pregar e instruir os fiéis, incumbiu Vicente de exercer essa função.

Durante a perseguição do imperador romano Diocleciano, provavelmente em 304, o juiz Daciano passou por Zaragoza, fazendo comparecer à sua presença o Bispo Valério e seu arcediácono.

Precisando, porém, viajar para Valência, ordenou o magistrado que ambos fossem conduzidos àquela cidade, a fim de serem interrogados. Para quebrantar seus ânimos, Daciano ordenou que lhes fornecessem pouca alimentação, devendo eles carregar durante a viagem pesadas correntes, as quais pendiam de seus pescoços e mãos.

Em Valência, o cruel juiz, vendo-os saudáveis, perguntou irado aos carcereiros: “Por que lhes destes mais abundante comida e bebida?” Na verdade, sustentados pelo Céu, os dois heróis da Fé, após a terrível viagem, estavam mais fortalecidos do que antes.

Destemor no suplício

Estando o Bispo Valério impossibilitado, devido ao defeito de sua fala, de responder as questões formuladas pelo tirânico magistrado, Vicente tomou a palavra. Como resultado desse primeiro interrogatório, foi o Bispo condenado ao desterro e o jovem arcediácono, submetido à tortura do cavalete, por meio da qual se desconjuntam os membros do corpo, após serem violentamente repuxados.

O que me dizes, Vicente? Onde já vês teu miserável corpo?” — indagou Daciano durante o suplício.

“Isto é o que justamente desejei; isto foi o objeto de meus mais ferventes desejos” — redargüiu-lhe o arcediácono. E acrescentou, desafiador: ”

Levanta-te pois, e com todo o teu espírito de malignidade entrega-te à orgia de tua crueldade. E já verás como eu, amparado pela força de Deus, posso mais em sustentar tormentos que tu em infligi-los.”

Começou então Daciano a soltar gritos e enfurecer-se contra os verdugos, moendo-os com pauladas.

E Vicente, irônico, dirigiu-se nessa ocasião ao endemoninhado juiz: ”

O que dizes, Daciano? Já me estou vingando de teus esbirros; tu mesmo me trazes a vingança ao castigá-los.”

O pagão reconhece a derrota

O arcediácono foi depois submetido ao suplício do fogo, em um leito incandescente — supremo grau de tortura, explica Prudêncio. Suportou tudo com semblante alegre e ânimo forte.
-“Ai, estamos vencidos!” — exclamou Daciano

O magistrado mandou então lançá-lo num tipo de calabouço estreito, conhecido entre os romanos como Tullianum, assim descrito por Prudêncio, que anos mais tarde o visitou: “Na zona mais baixa da prisão existe um lugar mais negro que as próprias trevas, encerrado e estrangulado pelas estreitas pedras de uma abóbada baixíssima. Ali se esconde a eterna noite, sem que jamais penetre um raio de luz”.

A coroa do martírio

Tanto a Passio quanto Prudêncio relatam esplendoroso milagre ocorrido naquele Tullianum: De repente iluminou-se o calabouço; o chão, coberto de pedras pontiagudas, converteu-se num tapete de flores, enquanto anjos deliciaram os ouvidos de Vicente com suave melodia.

Informado sobre o acontecimento, Daciano deu ordens para que se curassem as chagas do mártir, tendo em vista tentar obter sua apostasia; ou, caso contrário, submetê-lo a novos suplícios.

O carcereiro, já convertido ao Cristianismo, cumpriu com gáudio o ditame de Daciano e, ao mesmo tempo, permitiu a entrada dos cristãos no calabouço. Estes empenharam-se em curar as chagas do mártir, recolhendo, como relíquias panos embebidos em seu sangue.

Em meio a tais demonstrações de carinho e veneração, Vicente exalou seu último suspiro, o que causou redobrada fúria no magistrado perseguidor. Prudêncio, que nasceu cerca de 40 anos depois, sem duvida recolheu e registrou esse episódio com base na tradição oral.

Vitória post-mortem

“Se não pude vencê-lo vivo, ao menos castigá-lo-ei morto” — exclamou Daciano ao tomar conhecimento da morte de seu supliciado.

Ordenou então que o cadáver venerável do mártir fosse jogado em campo raso, a fim de ser devorado por feras e aves.

Deus, porém, mais uma vez velou pela honra e glória de seu fiel servo. Um corvo, pousado próximo aos despojos de Vicente, afugentou aves e até mesmo um lobo, que deles se aproximaram.

-“Penso que já nem morto poderei vencê-lo” — lamuriou-se o despótico juiz, quando se inteirou do novo e estupendo milagre. E determinou: “Ao menos, que os mares cubram sua vitória“.
Assim, encerrado o cadáver dentro de um saco, foi conduzido até alto mar e lançado às ondas.
Novamente a Providência Divina não permitiu que aquela preciosa relíquia se perdesse. O cadáver foi levado milagrosamente à praia, e as areias incumbiram-se de proporcionar um túmulo para sepultar o precioso corpo, encobrindo-o para resguardá-lo da cruel perseguição pagã.

Difusão universal do culto do mártir

Certa viúva cristã chamada Jônica recebeu em sonhos, algum tempo depois, uma comunicação sobre o local onde se encontravam os restos mortais de São Vicente. Acompanhada de muitos cristãos, dirigiu-se a virtuosa anciã para o lugar indicado no sonho, encontrando lá a valiosa relíquia, que foi conduzida a uma pequena igreja. Terminada a perseguição religiosa, e havendo crescido muito a devoção dos fiéis para com o admirável mártir, seu corpo foi transladado para um altar fora das muralhas de Valência.

São Gregório de Tours, em sua História dos Francos (III,29), narra que o rei da Gália merovíngia, Childeberto I, levou da Espanha para a França a túnica do Santo, em 558, depositando-a no mosteiro que mandou edificar em sua honra, posteriormente abadia de Saint-Germain-des-Près, em Paris.

Em Roma, a imagem do Santo foi pintada no século V ou VI, no cemitério de Ponciano.
A fama do mártir alcançou a África já nos séculos IV e V. O grande Doutor da Igreja Santo Agostinho, dedicou a ele quatro sermões, entre os anos 410 e 413. No quadro, encontram-se significativos tópicos de um deles (Sermão 276).

Ao que parece, o Papa São Leão Magno, no século V, também pronunciou um sermão na festa do Santo, em Roma. Nesta cidade, existiam na Idade Média três igrejas em sua honra.

Milão, Cremona e Bari, na Itália, e Regimont, na França, também ergueram templos para cultuar São Vicente.

Monteiros foram a ele dedicados em Mans, Metz e Conques, na França.
A festa do mártir comemora-se a 22 de janeiro.

Atualidade de São Vicente

No Brasil, recebeu o título de São Vicente a primeira vila fundada pelos portugueses, no litoral paulista, em 1532, tornando-se assim a mais antiga cidade do País. De mesmo nome foi também a capitania hereditária entregue a Martim Afonso de Souza, que engloba hoje mais ou menos os estados de São Paulo e litoral do Paraná.

Vicente tem sido também usado no Brasil para nome de pessoas como de família.
Qual a aplicação que o exemplo de um mártir romano — tendo vivido quase dezessete séculos atrás — poderá ter para o homem contemporâneo? Muito grande, desde que se estabeleçam alguns paralelos.

São Vicente enfrentou galhardamente uma perseguição cruenta durante o paganismo antigo, idólatra.

Os católicos, no mundo atual, devem enfrentar uma perseguição mais velada e sutil: a do neopaganismo relativista, que procura dessorar a fé num Deus absoluto, desagregar os imutáveis princípios da moral revelada, poluir e eliminar as tradições da civilização cristã. E aqueles que se opõem a essa onda anticatólica são com freqüência objeto de uma perseguição do ambiente que os cerca, a qual se assemelha ao martírio, embora seja incruenta.

Que o vitorioso mártir nos conceda sua fé robusta, sua fortaleza granítica, para triunfarmos, como ele, sobre todos os fatores modernos de adulteração da Esposa de Cristo, a Santa Igreja, e de sua doutrina.

Excertos do sermão 276 de Santo Agostinho, pronunciado na festa de São Vicente mártir, em 412.

“E como está escrito, com toda a verdade, que o forno do oleiro prova os vasos, e ao homem justo a tentação da tribulação (Eccl. 27,6), Vicente foi provado e cozido por aquele fogo, mas quem ardeu e crepitou foi Daciano. Se, com efeito, não ardia, por que gritava? O que eram as palavras do irado, senão fumo do abrasado? Assim, pois, a nosso mártir que em seu coração sentia refrigério, aplicavam as chamas por fora; mas ele (Daciano), incendiado pelos archotes do furor, ardia por dentro como um forno, e com ele se abrasava seu morador, o diabo. E, de fato, pelas furiosas palavras de Daciano, por seus olhos ferozes e feições ameaçadoras, pelos movimentos de todo o seu corpo, manifestava aquele seu habitante interno, e por esses sinais visíveis, como fendas do seu miserável vaso que arrebentava, e ele se enfurecia, se lhe via o diabo.

Que região, que província das que compreende o Império Romano ou até onde se tenha difundido o nome cristão, não se alegra hoje em celebrar a festa de Vicente? E quem ouviria hoje o nome de Daciano, se não tivesse lido o martírio de Vicente? Vivo, Vicente venceu Daciano; venceu-o também morto. Vivo, pisoteou os tormentos; morto, flutuou através dos mares. Mas Aquele que dirigiu entre as ondas o cadáver, entre as pontas de ferro concedeu ânimo invicto. A chama dos atormentados não dobrou seu coração; a água do mar não submergiu seu corpo”.

Iconografia e culto

Costuma aparecer nas pinturas com as vestes de arcediácono, acompanhado de um corvo ou carregando uma pedra molar, estes símbolos fazem referência a seu longo e penoso martírio.

É padroeiro de Portugal, da cidade italiana de Vicenza, dos vinhateiros e dos fabricantes de vinagre. Na cidade de Valencia, além de ser patrono, São Vicente Mártir é também padroeiro do Grêmio de Alfaiates e Modistas.

O escudo da cidade de Lisboa faz alusão ao relato, que conforme a tradição assinala que dois corvos permaneceram juntos dos restos de São Vicente (padroeiro da cidade) durante o translado a Lisboa desde o Cabo de São Vicente em 1173 por ordem do Rei Afonso Henriques.
Também é conhecido como São Vicente de Zaragoza, ou como São Vicente de Fora

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Fontes de referência
1. Actas de los Martires – B.A.C., Madrid, 1962, pp. 119/120, 995 a 1023.
2. Enciclopedia Cattolica, vol. XII, casa Editrice G. C. Sansoni, Florença, 1954, pp. 1436.
3. Vies des Saints illustrées pour tous les jours de l’année, vol. I, Maison de la Bonne Presse, Paris.
4.
http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/6CA50EC9-3048-560B-1C05209EB807E97E/mes/Janeiro1996

5. Wikipedia

Vem, Menino Jesus! – Parte I

Vem, Menino Jesus! – Parte I
Esta comovedora história é um pouco longa para um post…. assim dividi em dois posts, para seguir o ditado latino Esto brevis et placebis; Se breve e agradaras. Passemos ao relato:

O Padre Norberto, testemunha da insurreição de Budapeste em 1956, fora um dos últimos fugitivos a chegar ao campo de refugiados húngaros. O seu aspecto revelava ainda as privações, as insônias e as provas terríveis por que passara. Tinha as feições crispadas e endurecidas, e nos seus olhos havia uma expressão de fria revolta. Olhando-o, compreendi o choque psicológico que a derrota lhe causara.

Ele chegava da fogueira horrível onde se queimara a seiva ardente de almas sedentas de liberdade e de independência. Nós éramos os que, na retaguarda, nada tínhamos feito. Como começar? Como interrogá-lo? Como quebrar esse ressentimento hostil, que o seu rosto nos transmitia? Tateando, eu lhe fiz meu pedido:

Conheço a tragédia que lhe esmagou a alma, e não quero reavivá-la. Mas peço-lhe que me fale da resistência espiritual do povo húngaro, da sua vivência, a despeito da derrota…

Transcrevo a seguir, com suas próprias palavras, o depoimento do Padre Norberto.

História do Padre Norberto

Vivi horas de esperança e de terror, mas o que mais me impressiona não é o sacrifício heróico dos adultos, e sim a coragem, a resistência das crianças, a grandeza das suas atitudes e das suas palavras. Dão lições aos grandes, e em seguida permanecem pequeninos, simples, humildes.

Eu poderia contar-lhe o que se passou na escola da minha paróquia. Mas para quê? Contar um milagre é, tantas vezes, despertar os sorrisos de vã superioridade de uns ou a incredulidade de outros. Crentes ou descrentes nos escutam, tanto uns quanto outros esquecidos de que o milagre é uma manifestação do poder divino.

Na escola da paróquia da qual fui expulso deu-se um fato surpreendente. O que aconteceu não poderia ser a alucinação coletiva de trinta e duas crianças e da sua professora, mas tem que ser aceito como um fato.

Gertrudes, atéia militante,
contra Ângela de dez anos


Gertrudes, a professora da escola, era uma atéia militante. Todas as suas lições giravam em torno da impiedade e da negação de Deus. Tudo lhe servia para denegrir, ridicularizar ou conspurcar a nossa Religião. O seu programa de ensino era simples: arrancar da alma das crianças a fé e formar legiões de pequeninos “sem Deus”. As crianças, intimidadas, não ousavam defender-se. No entanto, as suas famílias eram católicas e profundamente crentes nas suas práticas religiosas.

Eu era o cura da igreja paroquial, e reunia essas crianças para as lições do catecismo. Na Hungria, como nos outros países além da “cortina de ferro”, o ensino é assim: na família, na igreja, luta-se para que a crença não se perca, mas nas escolas semeia-se e impõe-se o ateísmo. Como pode sustentar-se a criança, nessa situação tão difícil e díspar? É então que a graça se manifesta e ampara as criancinhas.

Mesmo intimidadas, elas não se deixavam convencer com as zombarias que a mestra lhes fazia. Por meu lado, eu lutava para destruir no espírito delas qualquer má semente que tentasse germinar, e as fazia freqüentar os sacramentos. Coisa curiosa: Gertrudes, a professora, parecia adivinhar quais as alunas que tinham comungado, e eram essas as mais perseguidas. Certamente alguém espiava e lhe indicava as crianças… Mas a denúncia não vinha destas, sempre unidas e leais.

Na quarta classe havia uma menina de dez anos, chamada Ângela. Muito inteligente, muito bem dotada, era a melhor aluna da classe e da escola. As condiscípulas não invejavam a sua superioridade, porque ela tinha um coração de ouro e estava sempre pronta a ser prestativa.

Um dia, veio pedir-me licença para comungar diariamente. Perguntei-lhe:

Tu sabes a que te expões?

Ela riu-se, numa expressão alegre, e respondeu:

Senhor Padre, a mestra não conseguirá apanhar-me em falta, asseguro-lhe, e trabalharei melhor. Não me recuse o que lhe peço. Nos dias em que comungo, sinto-me mais forte. O Senhor Padre disse-me que eu devo dar bons exemplos. Para os dar, preciso me sentir forte.

Acedi, mas sentia-me inquieto. Desde esse dia, Ângela viveu um verdadeiro inferno. Apesar de saber sempre as lições, a mestra implicava continuamente com ela. A criança resistia, mas eu a sentia abatida. E perguntei-lhe:

Ângela, a perseguição que sofres é demasiado dura, não é verdade?

Jesus sofreu muito mais, quando O injuriavam. Não se compara com o pouco que sofro.

Ante esta coragem, fiquei maravilhado. Ângela não se queixava, mas as suas condiscípulas vinham contar-me os maus tratos que a mestra lhe infligia. Chorando, diziam que, de dia para dia, Gertrudes se tornava pior. Nem já se preocupava com as lições, o que queria era destruir a fé daquela alma tão forte, que se escondia em tão fraco corpinho.

Ângela sofria as perseguições até ser
conhecida na cidade e nos arrededores

As investidas contra Ângela revestiam-se de crueldade. A mestra esquecia o programa escolar, para espalhar em toda a classe as manhas dos “sem Deus”. Ângela lutava sozinha, e nem sempre sabia defender-se. Então ficava de pé, muda, a cabecinha curvada, o peito cheio de soluços, que vinham morrer-lhe na garganta. Sua fé continuava inquebrantável, mas como podia aquela criança defendê-la, ante a perversidade daquela mulher?

A partir de novembro, as lições da quarta classe passaram a ser autênticos duelos entre a professora e a pequena discípula. Aparentemente, a mestra triunfava e dizia sempre a última palavra. Todavia, a sua irritação era tão grande que até o silêncio de Ângela a punha fora de si. Aterradas, as outras crianças pediam-me que lhes valesse. Mas que podia eu fazer? Graças a Deus, Ângela continuava firme na sua fé, e a nós restava-nos rezar, e rezar com absoluta confiança na misericórdia divina.

O que se passava na escola tornou-se conhecido na cidade e arredores. No entanto, ninguém me censurava por continuar a consentir que Ângela comungasse diariamente. Não era mistério para ninguém que a mestra pretendia apenas roubar àquela frágil criança o tesouro da sua religiosidade. Os próprios pais a encorajavam a resistir, conhecendo bem a perseguição que fazia chorar tantas lágrimas àquela filha querida, e a crueldade que martirizava o seu pequeno coração.

Ângela tornou-se o ídolo de toda a gente. Todos admiravam a sua força de vontade, a persistência da sua crença, mas ela se entristecia, sentindo-se impotente para se defender e receosa de não possuir os argumentos para justificar a sua fé. Compreende-se esse desânimo. Que pode a inocência duma criança contra a astúcia duma mulher mal intencionada?

Continua no próximo post…

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