8 de Setembro – Natividade de Nossa Senhora

Maria Bambina
8 de Setembro – Natividade de Nossa Senhora

No seu Sermão do Nascimento da Mãe de Deus, o Pe. António Vieira diz:

“Perguntai aos enfermos para que nasce esta Celestial Menina. Dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde;

perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios;

perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo;

perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação;

perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres;

perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança;

os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz;

os discordes: para Senhora da Paz;

os desencaminhados: para Senhora da Guia;

os cativos: para Senhora do Livramento;

os cercados: para Senhora da Vitória.

Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho;

os navegantes: para Senhora da Boa Viagem;

os temerosos da sua fortuna: para Senhora do Bom Sucesso;

os desconfiados da vida: para Senhora da Boa Morte;

os pecadores todos: para Senhora da Graça;

e todos os seus devotos: para Senhora da Glória. E se todas estas vozes se unirem em uma só voz (…), dirão que nasce (…) para ser Maria e Mãe de Jesus”.

(Apud José Leite, S. J., op. cit., Vol. III, p. 33.).

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Nossa Senhora de Coromoto: harmonia entre majestade e misericórdia

Nossa Senhora de Coromoto

Nossa Senhora de Coromoto: harmonia entre majestade e misericórdiaA Padroeira da Venezuela, cuja festa se comemora a 8 de setembro, revela especialmente a grandeza da bondade que vence toda ingratidão ao converter o empedernido cacique Coromoto

Por Valdis Grinsteins

Para o comum dos homens, parece muito difícil conciliar certas virtudes. Como combinar, por exemplo, a bondade e a severidade, ou a justiça e a clemência? A idéia que erroneamente alguns têm é a seguinte: se alguém é bondoso não gosta de ser severo, e deixa correr o marfim para não ter que castigar.

Ora, Nosso Senhor Jesus Cristo reúne em Si todas as virtudes. Logo, se Ele é ao mesmo tempo bondoso e severo, bondade e severidade não são contraditórias, existindo entre elas um equilíbrio que permite serem praticadas pela mesma pessoa.

Para melhor entender como podem coexistir numa mesma pessoa virtudes que parecem antagônicas consideremos a foto ao lado. É da imagem de Nossa Senhora de Coromoto, Padroeira da Venezuela.

A majestade expressa numa imagem…

À primeira vista impressiona o porte de Rainha de Nossa Senhora. Não apenas devido à coroa, mas sobretudo à postura ereta da imagem, que reflete a plena consciência que a Virgem Santíssima tem de ser a Rainha dos Anjos e dos homens. Ela tem o direito de ordenar e manda. Ela reflete como Rainha uma visão superior das coisas, pois sabe como estas se coordenam e como fazer para que tudo se ordene.

Por outro lado, é adequado que Nossa Senhora esteja sentada num trono, e que a Sede do Menino Jesus seja Sua própria Mãe, pois, assim, a mais perfeita das criaturas serve de trono ao Criador. Ela sustenta Seu Divino Filho como Rainha, mas também com a delicadeza de Mãe.

Tudo nesta imagem infunde respeito. Qualquer um que se aproxime dEla é colocado em seu devido lugar imediatamente. Por outro lado, na própria fisionomia da imagem transparece sua realeza. Os traços do rosto são finos, delicados, de grande majestade. Se esta é notória na imagem, o que dizer da bondade?

…mas também bondade de Rainha

A consonância entre majestade e bondade é superiormente explicada num comentário do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito da imagem: “Ela está com inteira solicitude para quem está diante dEla, e sendo Nossa Senhora tão superior, dá a impressão de que não nota — porque não quer notar — a extrema inferioridade de quem está na frente. Ela nem faz a comparação, e com isto eleva a pessoa à sua categoria. Ela não faz uma análise de quem está frente a Ela dizendo: ‘Você tem culpa’ ou ‘você é ruim’. Ela só faz uma pergunta: ‘O que você deseja? Você é meu filho e Eu tenho misericórdia. O que você deseja?’ É uma pergunta que, por causa do olhar e da pequena propensão da cabeça para frente, é dirigida de tal forma que dá a impressão de ser Ela toda atenção”.

Tal impressão de bondade é ressaltada quando tomamos conhecimento de tudo o que Nossa Senhora fez para converter o índio Coromoto, na Venezuela do século XVII.

“Catolicismo”, em sua edição de novembro/76, já apresentou a seus leitores a maravilhosa história das aparições da Virgem Santíssima àquele cacique indígena. Voltamos agora, no mês em que é celebrada a festa litúrgica da Padroeira da Venezuela, ao mesmo tema, embora sob nova focalização.

Desvelo maternal diante da rebeldia

O cacique Coromoto diante da nova aparição de Nossa Senhora, bradou: “Até quando hás de me perseguir?” No ano de 1652 o cacique dos índios Coromoto perambulava pelas montanhas da zona de Guanare, na Venezuela, quando uma formosíssima Senhora, sustentando em seus braços um radiante Menino, apareceu-lhe caminhando sobre as águas do rio daquela mesma denominação. A Mãe de Deus dirigiu-lhe a palavra na língua nativa dele, recomendando-lhe que fosse viver junto aos brancos para “poder receber água sobre a cabeça e assim poder ir ao Céu”.

Encantado pela milagrosa aparição, o cacique procurou os espanhóis que colonizavam aquela zona e mudou-se com toda sua tribo para morar no local indicado por eles. Ficou “encomendado” a um espanhol chamado Juan Sánchez, que recebeu o encargo de cuidar da tribo Coromoto e lhe ensinar as verdades da Fé católica.

No início tudo correu bem, pois ainda perduravam na alma do cacique Coromoto os efeitos da visão que tivera de Nossa Senhora. Vários índios foram batizados. Mas, para o cacique, logo veio a provação. Ele abandonou as lições de catecismo e começou a sentir saudades da vida desordenada que levara na selva. Não trabalhava, podia ir e vir a seu bel prazer, não precisava cumprir aqueles mandamentos aparentemente árduos que estabelecia a Religião católica. Ele cultuava seus deuses, quando e como bem entendia. Convertido à verdadeira Religião, devia dominar suas paixões, corrigir seu temperamento, acostumar-se ao trabalho metódico, assistir com regularidade aos atos de culto.

Em sua alma ia se formando uma tormenta instigada pelo demônio, que via escapar de seu domínio aquela alma que antes era sua escrava.

Na tarde do dia 8 de setembro de 1652, o cacique negou-se a assistir aos atos de devoção que Juan Sánchez preparara. Enfurecido, dirigiu-se ao seu bohio (choça), onde se encontrava sua mulher e a irmã desta, Isabel. Ao lado brincava um menino, filho de Isabel. Entrando de mau humor, foi recostar-se, já decidido a voltar à sua vida anterior, e arrastar com ele toda a tribo, que faria apostatar em massa.

Bondade materna vence dureza de coração

É neste momento de suprema revolta que Nossa Senhora aparece-lhe novamente, na porta de seu bohio, em meio a uma luz intensa. Qualquer pessoa, vendo a Mãe de Deus, extremamente linda, boa e maternal, tão disposta a perdoar, teria caído de joelhos e pedido perdão. Entretanto, não foi o que ocorreu com o indígena-cacique, pois o coração humano é capaz de durezas inimagináveis. Pensando que talvez Ela viesse queixar-se dele, o cacique Lhe diz: “Até quando hás de me perseguir? Podes voltar, pois não farei o que me mandas! Por ti deixei minhas terras e conveniências e aqui vim a trabalho!”

Horrorizada com a ingratidão e, ao mesmo tempo, admirada com a Mãe de Deus, a esposa do cacique chamou-lhe a atenção: “Não fales assim com a Bela Mulher, não tenhas mau coração!”

Tais palavras, contudo, enfureceram ainda mais o cacique, que decidiu então lançar uma flecha contra Nossa Senhora. Ao ir pegar seu arco diz: “Matando-te me deixarás!” Mas, neste momento de suprema rebeldia, Nossa Senhora demonstra seu carinho pelo filho revoltoso. Ela entra no bohio e coloca-se junto ao cacique, de tal modo que este não tinha sequer espaço para puxar o arco e disparar a flecha. Mesmo assim o cacique não se comoveu. Jogou arco e flecha no chão e lançou-se contra Nossa Senhora, tentando empurrá-La para fora do bohio. No momento de agarrar Nossa Senhora, Ela sorri e desaparece, deixando nas mãos do índio uma espécie de pedra ovalada, na qual está milagrosamente gravada a imagem da Mãe Deus sentada num trono, tendo o Divino Infante ao colo. É a relíquia que até hoje se venera na Basílica de Guanare, cidade à qual afluem peregrinos de todas as partes da Venezuela.

Na hora extrema, misericórdia sem limites

Depois de tentar em vão agarrar a visão da Mãe de Deus e do evanescimento desta, o cacique Coromoto percebeu em suas mãos a pedra ovalada, com um desenho da Rainha dos Céus e de Seu Divino Filho, que se vê acima

Nem mesmo essa visita de Nossa Senhora conseguiu apaziguar os maus instintos do cacique, que desejava voltar à sua vida selvagem e estava empedernido, ou seja, como uma pedra, nesta resolução. Assim é, por vezes, o coração humano: duro como pedra, impedindo a entrada da graça divina, que o salvaria! Mas… se tão empedernido estava o índio, ainda mais decidida era Nossa Senhora em sua misericórdia!

No dia seguinte ao da aparição, o cacique reuniu os membros de sua tribo e partiu com eles de volta aos montes. Não só abandonou a Fé católica, mas obrigou aos que dele dependiam a fazer o mesmo.

Pouco tempo haviam caminhado de regresso à selva, quando uma cobra muito venenosa picou o cacique Coromoto. Percebendo que morreria em pouco tempo e reconhecendo neste fato um castigo do Céu, por sua péssima conduta em face da Rainha dos Anjos e dos homens, o silvícola começou a arrepender-se. Rogou aos gritos o Batismo, pois sabia que sem “receber água na cabeça” não iria para o Céu, como lhe dissera a “Bela Mulher”. Mas, como conseguir quem o batizasse dentro de 15 a 20 minutos, naquela zona até hoje despovoada? Sua sorte eterna parecia selada! Rejeitou a misericórdia materna quando a tinha à mão! E agora…

Seria não conhecer a misericórdia de tal Mãe imaginar que, tendo Ela se empenhado tanto por uma alma tão ingrata, fosse agora abandoná-la por ressentimento… Pelo contrário, veio Ela em socorro do arrependido, e dispôs que, naquele momento, passasse pelo local um católico da cidade de Barinas. Este ministrou o Batismo, pois em caso de morte ou extrema necessidade qualquer pessoa pode ser ministro desse sacramento.

Nossa Senhora‚ Rainha e Mãe, havia disposto para que tudo corresse segundo a sua incomensurável misericórdia. E para o tão favorecido índio Coromoto melhor não poderia ser, pois é sabido que o Batismo apaga todos os pecados da vida passada. Assim faleceu ele, arrependido e ordenando aos membros de sua tribo que voltassem para junto dos brancos, a fim de conservar a verdadeira Fé católica. Morreu, e foi contemplar eternamente Aquela que o quis salvar apesar de inauditas recusas e ingratidões.

Basta esse exemplo para se compreender a aliança harmônica, na mesma pessoa, dessas duas virtudes que parecem antagônicas: majestade e misericórdia.

Fonte de referência:
Hermano Nectario Maria, Historia de Nossa Senhora de Coromoto, Ediciones de la Presidencia de la República, OCI, Caracas, 1996.
Hermano Nectario Maria, Venezuela Marina, Imprimerie de la Seine, Montreuil, 1930.
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Nossa Senhora da Luz – Padroeira de Curitiba

Nossa Senhora da Luz – Padroeira de Curitiba
Devoção mariana, nascida de milagre em Portugal, floresce no Brasil

Neste mundo neopagão em que vivemos, os homens não entendem o modo de agir divino: se Deus nos prova nesta vida, visa premiar-nos na vida eterna, caso sejamos fiéis. Assim, a história da devoção mariana narrada a seguir nasceu de uma provação, da terrível prova da escravidão.

Pero Martins era um português pobre da vila de Carnide. Dedicava-se à agricultura pelo início do século XV. Tendo trabalhado no sul de Portugal, conheceu Inês Anes, uma moça dona de algum patrimônio com a qual casou. Voltou à sua vila natal e lá levava uma existência tranqüila com sua esposa. Vida ideal segundo muitos… mas não segundo Deus, que desejava muito mais do nosso bom português.

A provação despontou em seu caminho. Caiu ele prisioneiro dos mouros da África. Teria ele participado de alguma das numerosas expedições lusas à África ou sido seqüestrado pelos piratas muçulmanos que saqueavam as costas portuguesas? Não o dizem as crônicas. O fato é que esteve prisioneiro na África.

Que queda espetacular! Passar de senhor de si e de outros, alimentando-se bem, rodeado do carinho de sua família, trabalhando num clima agradável, e sobretudo confortado facilmente pelos auxílios da Religião verdadeira, a católica, para a tristíssima condição de escravo, obrigado a trabalhar num campo alheio, sob clima atroz, para alimentar um grupo de seqüestradores, sem segurança de nenhuma espécie, alheio a todo carinho e compaixão. Exposto a morrer a qualquer momento, sem ter perto um padre para o ajudar a viver e morrer bem e assim poder se apresentar diante do terrível tribunal divino, no qual a sentença é nada menos do que a bem-aventurança eterna ou o inferno eterno!

Realmente, isso é que é prova! Quantos anos durou? Ninguém sabe, mas provavelmente foi um bom tempo. Procurou-se resgatar Pero Martins de seu cativeiro, mas dadas as miseráveis comunicações do tempo, especialmente entre povos inimigos, não se conseguiu pagar o resgate. Assim, teve ele que continuar prestando “serviços” a seus cruéis amos.

Já transcorria o ano de 1463 e nenhuma esperança humana restava ao infeliz cativo. O que fazer nessa terrível circunstância? Abandonar a Fé católica, o que lhe traria a libertação quase automática? Loucura! Seria trocar poucos anos de vida, ainda que em liberdade, por uma eternidade infeliz – o pior negócio desta vida.

Solução milagrosa para situação insolúvel

Pero Martins rezou a Maria Santíssima, a Qual decidiu solucionar sua situação de forma a evidenciar que remove todos os obstáculos postos pelos homens. A Mãe de Deus apareceu-lhe em sonhos durante 30 noites consecutivas e prometeu-lhe que na última noite, ao acordar, estaria em Carnide, sua cidade natal. Acrescentou que, ao chegar ali, deveria buscar uma imagem Sua que fora escondida perto da fonte do Machado, num local que lhe seria indicado por uma Luz. Nossa Senhora pediu, além disso, que construísse uma ermida no lugar em que encontrasse a imagem.

Indescritível a alegria do bom português ao acordar e encontrar-se de volta em sua terra! Parecia mentira! Sair da terrível escravidão de forma tão fácil, só porque Ela, a Rainha do Céu e da Terra, assim o quis! Tomado de emoção, Pero Martins pôs-se imediatamente a procurar a Imagem que Nossa Senhora lhe pedira para encontrar. Não foi difícil que lhe dessem notícias dela, porque já há algum tempo começara a aparecer sobre a fonte do Machado uma luz misteriosa, cuja origem ninguém conseguia descobrir. Até de Lisboa, a capital, curiosos apareceram para ver tão estranho fenômeno.

Saiu então Pero de noite, acompanhado de seu primo Lopo Simões, para procurar a imagem. Ao chegar à fonte viram a Luz, a qual começou a se mover na frente deles. Seguiram-na até parar no meio do matagal, sobre umas pedras. Os dois primos removeram as pedras e encontraram uma imagem de Nossa Senhora, tal como a Virgem havia descrito nos sonhos.

Nasceu assim a devoção a Nossa Senhora da Luz, para a qual foi construída uma ermida e depois uma magnifica igreja no local da aparição.

A nova devoção mariana transfere-se ao Brasil

Menos de 40 anos haviam transcorrido desse fato prodigioso, quando a frota de Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. E, junto com a Religião católica, vieram ao Brasil as devoções mais correntes em Portugal.

Em 1580 já existia em São Paulo uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Luz, transferida em 1603 para o atual bairro da Luz, onde se encontra o Mosteiro concepcionista no qual está enterrado o bem-aventurado Frei Galvão. No Rio de Janeiro havia igualmente um santuário, cuja imagem encontra-se hoje na Matriz do Alto da Boa Vista.

Padroeira de Curitiba

Mas foi especialmente em Curitiba onde Nossa Senhora quis mostrar que sua bondade se estendia à nação filha de Portugal, libertando os pobres índios pagãos, escravos dos pecados e dos vícios.

Por volta de 1650 existia uma capela dedicada a Nossa Senhora da Luz, perto do rio Atuba, no atual Estado do Paraná. Os habitantes do local notaram com surpresa que, pelas manhãs, a imagem tinha sempre os olhos voltados para uma região com muitos pinheiros, ou pinhais – Curitiba, em idioma indígena –, onde dominavam os ferozes índios caingangues. De tal modo o olhar da imagem nessa direção era insistente, que os habitantes decidiram desbravar a região. Para isso, armaram-se e penetraram no local, decididos a lutar e dominar os selvagens.

Nossa Senhora da Luz apazigua indígenas

Em vez do previsível combate, o que ocorreu foi a acolhedora recepção oferecida pelo cacique Gralha Branca, ou Araxó. Os índios concordaram em ceder amigavelmente o terreno aos desbravadores, e o cacique tomou sua vara, símbolo do mando, enterrando-a no local que viria a ser a praça central da futura cidade. Muito simbolicamente, dita vara, ao chegar a primavera, voltou a desabrochar, dando galhos e flores. Nesse local – hoje Praça Tiradentes – foi erguida a igreja em honra a Nossa Senhora da Luz.

Com o tempo a cidade cresceu, de tal modo que foi necessário edificar novo templo. Foi então construída a bela Catedral neogótica que hoje conhecemos. É pena, porém, que a imagem original da Padroeira, feita de terracota, não permaneceu na nova Catedral encontrando-se até hoje no Museu paranaense.
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Bibliografia:
Edesia Aducci, Maria e seus gloriosos títulos, Ed. Lar Católico, 1958.
Nilza Botelho Megale, Cento e doze invocações de Virgem Maria no Brasil, Ed. Vozes, Petrópolis 1986.
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Nossa Senhora da Caridade do Cobre – Padroeira de Cuba

Nossa Senhora da Caridade do Cobre – Padroeira de Cuba
Regime comunista não consegue esmagar devoção à Padroeira do povo cubano

Que motivo há para Nossa Senhora querer aparecer a certas pessoas? Ou para aparecer em certa data e não em outra? Difícil a resposta, pois, exceto algumas poucas aparições, na imensa maioria delas os motivos para Nossa Senhora ter escolhido tal data ou esse ou aqueles videntes permanecem envoltos em mistério que teremos a alegria de desvendar no Céu.

Essa foi a questão que me veio à mente após a leitura da aparição da imagem de Nossa Senhora da Caridade – Padroeira da desditada Cuba, outrora conhecida como Ilha da Ave Maria. Primeiro, pelos felizes protagonistas do milagre: dois irmãos indígenas, João e Rodrigo de Hoyos, e um crioulo, João Moreno, todos eles adolescentes e trabalhadores numa fazenda. Portanto nada revelavam de especial. Por que motivo foram escolhidos? Mistério…

Em segundo lugar, pela forma mediante a qual foi encontrada a imagem: boiando no mar sobre uma tábua, na qual estava escrita: “Eu sou a Virgem da Caridade”. E o mais impressionante é que nem sequer a orla de seu vestido estava molhada! Fato este tanto mais digno de atenção quando se considera que os três rapazes tinham ido buscar sal na costa e viram-se obrigados a permanecer três dias numa cabana, devido à turbulência do mar. Se uma canoa não podia navegar sem afundar, como explicar que uma imagem de 30 cm ficasse boiando em águas bravias sem se molhar? Um mistério a mais…

Elucidação de alguns fatos não esclarece mistérios…

Na feliz época em que a imagem apareceu, no início do século XVII, a situação era muito diferente da nossa, encharcada de ateísmo. O sobrenatural era levado muito a sério. Assim, por exemplo, não se pense que os três rapazes narraram o episódio da aparição e tudo ficou nisso – acreditasse quem quisesse. Nem falar! Nesse tempo ninguém iria tolerar falsas “aparições”, feitas sob encomenda para chamar a atenção sobre os “videntes” e suas “mensagens” intermináveis.

Foi por isso que, apenas conhecida a notícia da aparição na fazenda onde trabalhavam os três jovens, o superior da propriedade rural enviou um mensageiro para avisar a autoridade imediata, à qual devia obediência. Tratava-se do Administrador Real das minas da vila de Cobre – assim chamada devido à abundância desse metal –, Dom Francisco Sánchez de Moya, o qual indicou as primeiras normas a serem seguidas no trato com a imagem.

Devia ser construída, logo de início, uma pequena ermida para abrigá-la, tendo ele enviado uma lâmpada de cobre para iluminar a pequenina imagem. A seguir, foi nomeada uma comissão formada por pessoas competentes e presidida pelo sacerdote da Vila do Cobre, que deveria elucidar tudo e elaborar um relato sobre tão extraordinário fato.

Para tristeza dos ateus e incrédulos do século passado e do atual, que sempre negaram qualquer seriedade à aparição da imagem, há algum tempo foram encontrados em Sevilha (Espanha), pelo historiador cubano Dr. Levi Marrero, os relatórios originais da aparição…

Após interrogar os três rapazes, para ver se caíam em contradição ou se declaravam algo contrário à doutrina católica, a comissão nada encontrou que desmentisse o relato da aparição. Contudo, ninguém conseguia explicar como a imagem da Virgem aparecera no mar.

Milagre indica local escolhido pela Virgem

Após os interrogatórios, cabia decidir onde deveria ficar a imagem. “Na fazenda”, diziam alguns; “Na vila do Cobre”, afirmavam outros. A rigor, ela tinha aparecido no mar, perto da fazenda; mas era inegável que seu culto seria maior na vila, onde era maior o número de habitantes. Entretanto a imagem ficara na pequena ermida.

Certa noite Diego de Hoyos, irmão dos descobridores da imagem, foi acender a lâmpada da ermida quando notou que a virgem não estava mais lá… Incontinenti, correu para avisar os moradores da fazenda. Após uma intensa busca, nada encontraram. Na manhã seguinte a imagem encontrava-se no seu local, na ermida…

Esse prodígio repetiu-se por três vezes. O que significava? Mais provavelmente que a imagem queria estar noutro lugar. Por isso foi trasladada à Vila de Cobre. Entretanto Nossa Senhora havia escolhido outro local, perto da cidade.

Uma menina da região, de nome Apolônia, comunicou ter visto a efígie da Virgem nas colinas atrás da Vila. Para assegurar-se de que era esse o local onde ela desejava ser venerada, foi realizada uma Missa. À noite, foram vistas três colunas de fogo no mesmo local onde a criança dizia ter visto a imagem.

Como o fenômeno repetiu-se nas duas noites seguintes, não restou a menor dúvida. E até hoje lá se encontra a veneranda imagem.

Como surgiu a Imagem?

Persiste até nossos dias um debate sobre a origem da imagem, pois numa época em que ninguém no Caribe teria capacidade de realizar uma escultura daquela categoria, necessariamente teria ela sido trazida de algum outro local. A opinião mais aceita era que o conquistador Alonso de Ojeda a tivesse deixado em poder dos índios, quando esteve nas costas de Cuba ao início do século XVI.

Com efeito, esse audaz navegador, após sobreviver a um naufrágio em região de pântanos e ver morrerem de fome e cansaço vários de seus homens, foi encontrado pelos índios Cueiba, com os quais estabeleceu boas relações. Para agradecer o auxílio concedido, presenteou-lhes uma imagenzinha que tinha trazido da Espanha, ao mesmo tempo em que procurou ensinar-lhes as verdades elementares de nossa Religião. Infelizmente a barreira da língua dificultou muito esse trabalho. Mas Ojeda conseguiu que os nativos, sempre que lhes indicava a imagem, repetissem Ave Maria. Por isso, durante certo tempo a ilha de Cuba foi conhecida como Ilha da Ave Maria.

Nem a perseguição comunista conseguiu apagar a veneração à imagem
A imagem de Nossa Senhora da Caridade do Cobre sempre ocupou destaque especial na devoção dos católicos cubanos, a ponto de ser proclamada, em 1916, Padroeira da Ilha. Se de um lado os milagres operados por ela foram numerosos, infelizmente também contra ela se manifestaram o ódio e o desprezo. Em 1899, seu Santuário foi profanado por bandidos, que roubaram as jóias mais valiosas e cortaram a cabeça da sagrada imagem para retirar um diamante.

Muito pior entretanto é a política satânica do regime de Fidel Castro contra a imagem, o que tem despertado reação e atos de desagravo. Não se trata agora de retirar suas jóias, mas pior: impedir a aproximação de almas que lhe são devotas – verdadeiras jóias espirituais. O governo cubano não autoriza muitas peregrinações ao local, vigiando de perto os visitantes. Estes podem ser privados da educação universitária, ou ver-se privados de seu trabalho, o que – num país onde o único patrão é o Estado – representa uma tragédia. Além disso, o regime castrista promove todo tipo de imoralidades entre os jovens para afastá-los das práticas religiosas. Mas mesmo assim não conseguiu extinguir a devoção à Padroeira de Cuba.

Peçamos a Nossa Senhora que proteja seus filhos fiéis na ilha-prisão, não permitindo que essa bela devoção caia no olvido. Pois um país que perde a devoção à sua Padroeira entra em agonia. E nosso anelo é que Nossa Senhora da Caridade do Cobre volte a reinar na antiga Ilha da Ave Maria!

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Fontes de referência:
Maria e seus gloriosos títulos, Editora Lar Católico, 1ª edição, 1958.
Rubem Vargas Ugarte S.J., Historia del Culto a Maria en Iberoamérica, Talleres Gráficos Jura, Madrid, 3ª edição, 1956.
D. Eugenia Guzmán, A Virgem da Caridade e o futuro de Cuba, CubDest, 1999.
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