Nossa Senhora de Avioth, devoção medieval que esta na origem de uma tradição da Igreja

Nossa Senhora de Avioth
Nossa Senhora de Avioth, devoção medieval que esta na origem de uma tradição da Igreja

A fé pode mover montanhas, e Nossa Senhora não fica alheia aos esforços das pessoas cheias de fé. É o que nos mostra a história desta devoção mariana na França

O contraste não poderia ser mais notório: uma igreja enorme, para uma cidadezinha muito pequena. Os 125 habitantes de Avioth, vila francesa a poucos quilômetros da fronteira com a Bélgica, podem entrar todos juntos na igreja e ainda sobra muito, mas muito espaço mesmo.
Basilica de Nossa Senhora de Avioth
A primeira pergunta que ocorre ao espírito é se a cidadezinha já foi bem maior e, sei lá por que motivos, hoje mora pouca gente no local. Mas não é isso. A resposta está ligada à história da imagem de Nossa Senhora de Avioth.

No ano de 1100 os lavradores descobriram uma imagem num matagal de espinhos, no local chamado “d’avyo”, que com o tempo se transformou em Avioth.

Passada a surpresa, decidiram levá-la à igreja de Saint Brice, a dois quilômetros dali. Mas na manhã seguinte a imagem tinha voltado ao exato local de onde a tinham tirado.

Resultado: decidiram deixá-la no lugar e venerá-la ali mesmo. Análises mostram que a imagem foi esculpida em madeira, antiga de uns 900 anos. Nossa Senhora tem um cetro na mão e segura o Menino Jesus.

Uma devoção que se expande a toda a Igreja e que nasceu de um peregrino; São Bernardo de Claraval
São Bernardo de Claraval, célebre peregrino de Avioth, que esta na origem do costume de rezar a Salve Rainha após as Missas
Houve vários milagres no início, e as peregrinações começaram a afluir em número crescente. Talvez o peregrino mais célebre tenha sido São Bernardo de Claraval, fundador dos monges cistercienses e pregador da II cruzada contra os muçulmanos. Quando esteve em Avioth, decidiu que na sua ordem fosse sempre rezada a Salve Rainha após a missa, costume que depois se estendeu a toda a Igreja.

Graças às peregrinações, pessoas foram se instalando no local, e a partir de 1180 Avioth já era um povoado. Com as peregrinações, veio o desejo de se construir uma igreja digna da Santíssima Virgem. A capela original foi erguida no século XII, e a enorme igreja entre os séculos XIII e XIV, sendo que o auge das peregrinações se deu no início do século XV.

Hoje, alguns perguntariam por que construir algo tão grande. Mas, para os habitantes do local e os peregrinos da época, essa pergunta não se punha. Eram pessoas de fé ardente, e nada lhes parecia demasiado grande para Nossa Senhora.

Meninos mortos sem batismo
Nossa Senhora de Avioth, rogai por nós
Além disso, o número dos peregrinos era enorme, devido a uma particularidade da devoção.

A imagem era conhecida inicialmente como padroeira das causas desesperadas. Por isso iam lá pessoas seriamente doentes, de modo especial as contaminadas com lepra, doença incurável na época, e que exigia completa separação do resto da sociedade para evitar o contágio.

Igualmente conduziam-se para lá doentes mentais, que eram deixados numa sala ao lado da imagem, para que esta os tranqüilizasse.

Mas o motivo principal das peregrinações era levar lá os corpos das crianças que tinham morrido sem receber o batismo. Ensina a doutrina católica que o Céu, fechado para nós devido ao pecado de Adão, tornou-se aberto pelos méritos infinitos da Paixão de Nosso Senhor. As pessoas que recebem o batismo e morrem em estado de graça vão para o Céu.

Ora, as crianças que morrem numa idade tão tenra não podem ter cometido pecado, por isso basta que sejam batizadas para ir ao Céu. Mas para ser batizada é preciso que a criança esteja viva – geralmente se considera o prazo de umas duas horas para a alma abandonar o corpo.

Mas se a criança morresse sem que alguém a batizasse? Nada pior para os pais, já que o morto, além de ter perdido a vida terrena, poderia perder a vida eterna no Céu e ser conduzida ao Limbo!

Por isso os pais vinham de até 60 km ao redor de Avioth, trazendo os corpos dos pequenos mortos, que deixavam aos pés da imagem durante uma hora. Durante esse tempo, rezavam e esperavam algum sinal de vida.

Este sinal poderia ser um pouco de suor, efusão de sangue, algum calor corporal, movimento de veias ou de membros, um pouco de vermelhidão, etc. Dando-se isto, considerava-se que havia vida, por menos intensa que fosse, e o sacerdote podia batizar o falecido, o qual assim ganharia o Céu de forma segura.

Durante o século XVII, eram batizadas desta forma umas 12 crianças por ano. O objetivo desta devoção não era pedir a Nossa Senhora a ressurreição, mas um pequeno intervalo de vida suficiente para o morto poder ser batizado. Depois, pouco antes da Revolução Francesa, esta prática foi proibida.

“Ladrões” piedosos…
Nossa Senhora de Avioth
Na história da imagem existe um episódio realmente pitoresco. Corria o ano de 1905, e na França tinha sido aprovada uma lei anti-religiosa, pela qual os bens da Igreja passavam a ser propriedade da nação. Com isso, iam oficiais a todas as igrejas e catalogavam os objetos nelas contidos, podendo depois permitir o uso (não a propriedade) deles pelos católicos.

O pároco local, padre Soyez, e uns piedosos vizinhos decidiram que a imagem não seria catalogada no inventário de objetos presentes na igreja, e imaginaram um simulacro de roubo.

Uma noite os “ladrões” entraram na igreja e levaram só a imagem. Deixaram no local a roupa, a coroa e o cetro, objetos de valor material, tudo em perfeita ordem. Definitivamente, eram “ladrões” piedosos… Claro que a polícia dos revolucionários suspeitou que o roubo não havia sido praticado com o fim de obter dinheiro.
solene coroação da imagem em 1934
A imagem foi deixada numa casa de família, onde só seus quatro habitantes e o padre tinham conhecimento do fato. A polícia realizou algumas buscas, mas sem conseguir encontrá-la. Certo dia, passando com alguns senhores das redondezas diante dessa casa, o padre Soyez cometeu a imprudência de dizer: “saudemos a Virgem de Avioth”.

Obviamente, os outros desconfiaram que ela estava na casa diante da qual passavam, mas nada disseram. Quando se acalmou a perseguição religiosa, a imagem voltou em procissão para a igreja.
festa de Nossa Senhora de Avioth em 1934
Uma história menos edificante aconteceu quando os alemães ocuparam o local durante a Primeira Guerra Mundial. Algum oficial anti-religioso decidiu transformar a basílica em cavalariça! Pregaram nas paredes ferros para amarrar os cavalos.

Esses ferros foram deixados até hoje, para fazer constar a barbárie dos que não têm religião.
peregrinação de Nossa Senhora de Avioth (16 de julho)
Em 1934 a Virgem foi coroada solenemente, e todos os anos a procissão da imagem se realiza a 16 de julho.

A Salve Rainha passa a rezar-se em toda a Igreja após a Missa a partir desta devoção medieval

Salve Rainha, Mãe de Misericórdia,
vida e doçura esperança nossa, salve!
A Vós bradamos os degredados filhos de Eva.
A Vós suspiramos gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Eia pois, advogada nossa.
Esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,
e depois deste desterro nos mostrai Jesus,
bendito fruto em vosso ventre,
ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.
Rogai por nós Santa mãe de Deus,
Para que sejamos dignos de alcançar as promessas de Cristo
Amém

Salve Regina em latim

Salve, Regina, Mater misericordiae,
vita, dulcedo, et spes nostra, salve.
Ad te clamamus, exsules filii Hevae,
ad te suspiramus, gementes et flentes
in hac lacrimarum valle.
Eia, ergo, advocata nostra, illos tuos
misericordes oculos ad nos converte;
et Jesum, benedictum fructum ventris tui,
nobis post hoc exilium ostende.
O clemens, O pia, O dulcis Virgo Maria.
Ora pro nobis sancta Dei Genetrix.
Ut digni efficiamur
promissionibus Christi.

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Santo Antônio Maria Claret “O Santo de todos”

Santo Antônio Maria Claret

Uma das maiores figuras católicas do século XIX; a história da Espanha, nessa época, não pode ser compreendida sem o estudo da vida do grande missionário.

Santo Antônio Maria Claret foi um dos grandes esteios da Santa Igreja no seu tempo.

Pio XII, quando o canonizou em 1950, chamou-o de “Santo de todos”. Isso porque, diz o Pontífice, “nele olham os artesões, os sacerdotes, os bispos e todo o povo cristão, já que se encontram nele exemplos preclaros com que se alentar e encorajar-se, cada qual segundo seu estado, nessa perfeição cristã da qual unicamente podem sair, nas perturbações presentes, os oportunos remédios e atrair tempos melhores”.(1)

Esse santo, de uma atividade espantosa, foi “apóstolo da palavra, pregando inumeráveis sermões; apóstolo da pena, publicando muitíssimos volumes; apóstolo da Imprensa, criando academias, livrarias e bibliotecas; apóstolo da ação social católica e dos exercícios espirituais.

Catequista, missionário, diretor espiritual, fundador de congragações, arcebispo, pedagogo, anjo tutelar da família real espanhola
Santo Antônio Maria Claret em 1857 em Madri
Foi catequista, missionário, formador do clero, diretor de almas, fundador de congregações, pedagogo e ‘anjo tutelar da família real’, em frase de Pio XI; mas, sobretudo, eminentemente santo”.(2)

Pregador popular, fundou a Congregação Missionária dos Filhos do Coração Imaculado de Maria. Foi Arcebispo de Santiago de Cuba, confessor e conselheiro da rainha Isabel II, da Espanha. No Concílio Vaticano I, destacou-se como intrépido defensor da infalibilidade pontifícia.

Como não é possível abarcar aqui toda a obra desse incansável batalhador, limitar-nos-emos a algumas rápidas pinceladas.

Antônio João Adjutor nasceu no dia 23 de dezembro de 1807 em Sallent, diocese de Vich, província de Barcelona, na Espanha, quinto dos 11 filhos de João Claret e Josefa Clará. Proprietários de uma pequena tecelagem, eram eles “honrados e tementes a Deus, muito devotos do Santíssimo Sacramento do Altar e de Maria Santíssima”, como diz o santo em sua autobiografia.(3)

No Crisma, “por devoção a Maria Santíssima, acrescentei o dulcíssimo nome de Maria, porque Maria Santíssima é minha Mãe, minha Madrinha, minha Mestra, minha Diretora e meu tudo depois de Jesus”.

Piedade e verdadeira vocação sacerdotal
Santo Antônio Maria Claret em 1860 em Madri
“Eis que se me apresenta Maria Santíssima, […] e me disse: ‘Antônio, esta coroa será tua se vences’”.

De uma piedade precoce, desde a idade de cinco anos já se preocupava com a eternidade e o destino do homem. Adulto, pondera: “Não sei compreender como os outros sacerdotes que crêem nestas mesmas verdades que eu — e todos devemos crer — não pregam nem exortam para preservar as pessoas de caírem nos infernos”.

Sua devoção à Santíssima Virgem surgiu quase que com o uso da razão: “nunca me cansava de estar na igreja diante de Maria do Rosário, e falava-lhe e rezava com tal confiança, que cria bem que a Santíssima Virgem me ouvia”.

Compreende-se que, assim, a vocação sacerdotal despertasse nele muito cedo: “Sendo ainda muito pequeno, quando estava ainda no Silabário, fui perguntado por um grande senhor, que veio visitar a escola, o que queria ser. Eu lhe respondi que queria ser sacerdote”.

Acentuado espírito missionário

Santo Antônio Maria Claret em 1869
Adolescente, começou a trabalhar na tecelagem do pai; como fez muitos progressos nessa arte, foi especializar-se em Barcelona, grande centro da indústria têxtil. Com muita aplicação no trabalho e um talento fora do comum, dominou tão bem a arte têxtil, que iria longe se se dedicasse exclusivamente a ela.

Mas o apelo de Deus se fez mais premente, e ele resolveu romper de uma vez com o mundo e retirar-se para uma cartuxa. Mas acabou optando por ser sacerdote secular.

Em 1829 Antônio ingressou no Seminário de Vich. Nesse tempo, como pegou uma forte gripe, mandaram-lhe guardar o leito. Num desses dias foi atacado por terrível tentação contra a pureza. Recorria a Nossa Senhora, ao Anjo da Guarda, aos seus santos padroeiros, mas tudo em vão.

Finalmente, “eis que se me apresenta Maria Santíssima, formosíssima e graciosíssima, […] e me disse: ‘Antônio, esta coroa será tua se vences’.[…] E a Santíssima Virgem me punha na cabeça uma coroa de rosas que tinha no braço direito”. Essa não foi a única graça mística que recebeu. Em sua vida, há várias manifestações palpáveis do sobrenatural.

No dia 13 de junho de 1835, festa de seu patrono, Antônio recebeu a ordenação sacerdotal, e foi nomeado coadjutor em sua cidade natal.

Compreendeu então que sua vocação era a de ser missionário, e quis evangelizar os povos da Catalunha, órfãos desde a supressão das Ordens religiosas. Como isso não era factível por causa da guerra civil, foi a Roma pedir admissão na Congregação das Missões Estrangeiras.

Pregar “oportuna e inoportunamente”

Santo Antônio Maria Claret no exilio
Na Cidade Eterna, depois de fazer os Exercícios Espirituais com padres da Companhia de Jesus, resolveu nela ingressar, e começou o noviciado.

Mas sobreveio-lhe aguda dor em uma perna, e teve que voltar para a Espanha. Pouco depois o Padre Geral da Companhia de Jesus lhe escrevia: “Deus o trouxe à Companhia, não para nela ficar, mas para que aprendesse a ganhar almas para o Céu”.

Antônio Maria obteve então licença para pregar missões na Catalunha e nas ilhas Canárias. Operava curas milagrosas, tanto materiais quanto espirituais, expelindo demônios dos possessos, regularizando casais mal-casados.

A isso movia-o o intenso desejo de livrar almas do inferno, pois “obriga-me a pregar sem parar o ver a multidão de almas que caem nos infernos, porque é de fé que todos os que morrem em pecado mortal se condenam”.

Animava-o o exemplo de São Paulo: “Como corre de uma parte a outra, levando, como vaso de eleição, a doutrina de Jesus Cristo!

Ele prega, escreve, ensina nas sinagogas, nos cárceres e em todas as partes; trabalha e faz trabalhar oportuna e inoportunamente; sofre açoites, pedras, perseguições de toda espécie, calúnias as mais atrozes”. Pode-se dizer que essa descrição cabe também a Santo Antônio Maria Claret.

Diz ele: “Quando ia missionando, tocava nas necessidades e, segundo via e ouvia, escrevia um livrinho ou um folheto. Se na população observava que havia o costume de cantar cânticos desonestos, publicava um folheto com um cântico espiritual ou moral. Por isso os primeiros folhetos que publiquei, quase todos, são de cânticos”.

Fundador dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria
Santo Antônio Maria Claret no exilio
Em 1849 o Pe. Antônio Maria fundou, com mais cinco sacerdotes, uma Congregação religiosa cujos membros seriam seus auxiliares na obra das missões, com o nome de Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria.

Assim descreve como deve ser esse missionário: “Um Filho do Imaculado Coração de Maria é um homem que arde em caridade e que abrasa por onde passa; que deseja eficazmente e procura por todos os meios acender em todo o mudo o fogo do divino amor. Nada o pára; goza nas privações; procura os trabalhos; abraça os sacrifícios; compraz-se nas calúnias e se alegra nos tormentos. Não pensa senão em como seguirá e imitará a Jesus Cristo em trabalhar, sofrer e no procurar sempre e unicamente a maior glória de Deus e a salvação das almas”.

Nomeado Arcebispo de Santiago de Cuba em 1850, afirma em suas palavras de saudação que “a verdadeira Prelada será a Virgem Santíssima, e a forma de governo a que Ela me inspire”.

Na primeira missão que pregou na Ilha o fruto foi tão grande, que 40 confessores não foram suficientes para atender todas as confissões. A comunhão geral, distribuída por três sacerdotes, durou seis horas! Somente nessa missão, foram legitimados 8.577 matrimônios.

Os “espíritos fortes” fizeram várias tentativas infrutíferas para matá-lo, mas Nossa Senhora velava por ele.

Espirito profético. Desvendando o futuro de Cuba e Espanha

Santo Antônio Claret fez muitas profecias. Por exemplo, quando em Cuba, profetizou “grandes terremotos”. Estes vieram. Quando as autoridades quiseram remover os escombros, alertou: “Haverá outro”. Depois profetizou: “Se os pecadores não despertam com os terremotos, Deus passará a castigá-los no corpo com a peste ou cólera”.

Veio a epidemia de cólera-morbo, que em três meses fez 2.734 vítimas. Afirmou, no entanto, que isso fora uma misericórdia de Deus, porque “muitos que não se haviam confessado na missão, se confessaram para morrer; e outros, que se haviam convertido e confessado na missão, se haviam precipitado outra vez nos mesmos pecados. E Deus, com a peste, os levou”.
A rainha Isabel II da Espanha tinha como diretor espiritual a Santo Antônio Maria Claret
Em 1861, já como confessor da Rainha Isabel II, “o Senhor me fez conhecer os três grandes males que ameaçavam a Espanha, e são: o protestantismo, ou melhor, a descatolização, a república e o comunismo. Para atalhar estes males, me deu a conhecer que se haviam de aplicar três devoções: o Triságio, o Santíssimo Sacramento e o Rosário”.

Combatendo os erros dos socialistas

Escrevendo sobre uma visita que fez às províncias da Andaluzia, na Espanha, no ano de 1862, o indômito Arcebispo comenta o trabalho dos socialistas naquela região, aproveitando-se da apatia de governantes e eclesiásticos. Anota vários erros espalhados por eles, dos quais, por sua atualidade, citaremos um que poderia ser subscrito hoje pela CPT, MST e congêneres:

“Até agora os ricos desfrutaram as terras. Já é tempo que as desfrutemos e as dividamos entre nós. Essa divisão não só é de eqüidade e justiça, mas também de grande utilidade e proveito; pois os terrenos aglomerados pelos ricos ladrões são infrutíferos. Divididos entre nós em pequenos lotes, e cultivados por nossas próprias mãos, darão abundantes colheitas”.

Comenta o Santo: “Com essas perorações e demais meios tão aliciantes e fascinantes, e ameaçando e insultando aos que não cediam logo, foi como [o movimento socialista] tomou grandes proporções em tão pouco tempo”.

Santo Antônio Maria Claret faleceu no dia 24 de outubro de 1870, no mosteiro cisterciense de Fontfroide (França), sendo canonizado por Pio XII em maio de 1950. A sua festa litúrgica celebra-se no dia 23 de outubro.

Sobre sua sepultura, como epitáfio, puseram as conhecidas palavras do Papa São Gregório VII: “Morro no desterro por ter amado a justiça e odiado a iniquidade”.

Santo Antônio Maria Claret e Clara
A seguir duas belas orações compostas por Santo Antônio Maria Claret;

Oração de Santo Antônio Maria Claret para pedir as virtudes

Creio, Senhor, mas fazei que eu creia com mais firmeza.
Espero, Senhor, mas fazei que eu espere com mais segurança.
Amo, Senhor, mas fazei que eu ame com mais ardor.
Arrependo-me, Senhor, mas fazei que me arrependa com mais força.
Eu vos suplico, Senhor: que quereis que eu faça?
Ensinai-me a cumprir vossa vontade, porque vós sois o meu Deus.
Concedei-me um coração atento, para entender o vosso povo e discernir entre o bem e o mal.
Pai, dai-me humildade, mansidão, castidade, paciência e caridade.
Ensinai-me a bondade, a ciência e a disciplina e dai-me a imensa riqueza do vosso amor e da vossa graça.
Meu Deus, meu Jesus: com todo o meu ser, quero viver na Cruz, na Cruz morrer, da Cruz não descer por minhas mãos, mas pelas mãos dos outros e somente depois de ter consumado meu sacrifício.
Quanto a mim, jamais me aconteça gloriar-me em outra coisa que não seja a Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Amém.

Invocações a Maria

Deus vos salve, Imaculada Maria, Filha de Deus Pai,
Deus vos salve, Imaculada Maria, Mãe de Deus Filho.
Deus vos salve, Imaculada Maria, Templo de Deus Espírito Santo.
Deus vos salve, Maria, Mãe e Advogada dos pecadores.
Bendita sois entre todas as mulheres.
Vós sois a glória de Jerusalém, a alegria de Israel e a honra do nosso povo.
Vós sois o amparo dos excluídos, o consolo dos aflitos, a luz dos navegantes.
Vós sois a saúde dos enfermos, o alento dos moribundos e a porta do céu.
Depois de Jesus Cristo, fruto bendito do vosso ventre, Vós sois toda a nossa esperança.
Ó clemente, ó piedosa, ó doce e Imaculada Maria!

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Notas:
1- AAS 42 (1950), 480. Apud San Antonio Maria Claret – Escritos Autobiográficos y espirituales, Biblioteca de los Autores Cristianos (BAC), Madrid, 1959, Prólogo, p. xv.
2- Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S. A., Saragoça, 1955, vol. V, p. 543.
3- Autobiografia, BAC, edição acima. Todos os textos citados entre aspas sem menção da fonte foram extraídos desta obra.

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Nossa Senhora de Nouillan

Nossa Senhora de Nouillan ladeada de Santa Lucia e Santa Apolonia

(Aparições em Montoussé, França, 1848 – 23 de junho)

Era verão, quase meio-dia, na paróquia de Montoussé. Três meninas brincavam nas proximidades das ruínas da capela de Nouillan. Cha­mavam-se Francisca Vignaux-Miquiou; sua prima, FranciscaVignaux, ambas com doze anos; e Rosa Dasque-Poulouzin, com oito anos de idade.

– Oh! diz subitamente uma das crianças, vejam lá!

Sob um agreste arbusto com espinhos, a poucos passos de uma fonte natural, viram uma Dama. A Senhora parecia com a imagem milagrosa de Maria que outrora se venerava na capela. Em silêncio olhava para as pequenas. De repente, Ela desapareceu.

Naquele ano e no seguinte, testemunhas de idades diferentes, pessoas maduras, tiveram visões da Virgem, todas semelhantes à imagem que então se encontrava na igreja de Montoussé. Ocorriam elas geralmente durante a recitação do Rosário, no mesmo lugar. Nossa Senhora permanecia silenciosa. Numa noite, foi vista ladeada por Santa Ágata e Santa Luzia, como tinha estado na capela de Nouillan.

Qual a razão de tanta bondade no fato de a Rainha do Céu assim se manifestar? É claro que tais aparições visavam alcançar maior afervoramento dos fiéis, bem como de toda sorte de benefícios espirituais e materiais em seu favor. Foi o que sempre sucedeu com as aparições de Nossa Senhora.

Além disso, todos entenderam que Ela desejava a reconstrução da capela onde se venerava sua imagem. Não era lógico retribuir pelo menos com isso o insigne favor que consistia no fato de Ela aparecer junto às ruínas de sua capela?

Assim foi feito, esmagando a Virgem, dessa forma, mais uma vez, a cabeça da serpente: a capela de Nouillan tinha sido pilhada e destruí da pela Revolução Francesa.
Capela de Nouillan
Lá, desde origens e circunstâncias não registradas, que se perdem na noite dos tempos, era cultuada Nossa Senhora. Sua imagem foi ficando conhecida por muitos milagres alcançados através de sua veneração. A capela começou com um prodígio: caiu neve em pleno verão e só no espaço onde devia assentar-se o santuário! Se certo dia os cariocas vissem o Pão de Açúcar nevado, a surpresa não seria diferente. Santa Maria Maggiore, a grande Basílica mariana de Roma, teve também seu local demarcado por neve estival.

Numerosos documentos atestam os benefícios que ao longo dos séculos Nossa Senhora de Nouillan concedeu. Mas essa história pacífica sofreu a agressão da Revolução da “liberdade” e da “fraternidade” .

Jean Malaplate valentemente resgatou a imagem quando se deu o assalto demolidor. Algum tempo depois, quando a imagem, sem seu lugar próprio, tinha passado para Mantoussé, roubaram-na. Quem? Os partidários da “liberdade”. Para quê? Para queimá-la. Era um ato “fraterno” contra a “superstição”. Para isso partiram do povoado de La Barthe. Mas com risco de vida, Malaplate novamente resgatou a imagem.

Em 1820, outra tentativa revolucionária de roubar a imagem foi impedida. Desta vez por uma moça de dezesseis anos, Bertrande Correge, que a escondeu quando soube dessa urdidura.

Por aqueles anos de violências contra a Religião (que em nossos dias estão sendo reeditadas, junto com outras formas de agressão mais deletérias), a natureza mostrou-se também violenta. Saraivadas devastadoras, flagelo desconhecido na paróquia, durante sete anos consecutivos causaram grandes prejuízos. Ocorreram outras perturbações, como enchentes do rio Neste.

Mas Aquela que é simbolizada pelo arco-íris e a Arca da Aliança, em 1848, com suas aparições fez voltar a bonança a Nouillan-Montoussé. Já no dia da inauguração da capela, reedificada, houve uma cura prodigiosa. Assim, aos poucos, o que a Revolução fizera perder foi recuperado e depois incrementado.

A restauração de Nouillan teve lugar em 1856.

Em 1858, na mesma diocese, a de Tarbes, deram­-se as grandes aparições de Lourdes. Proximidades no espaço e no tempo misteriosas para nós. Mas claras no Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, que assim as determinou.
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Fonte de referência:
Pierre Molaine, L’Itinéraire de Ia Vierge Marie. Éditions Corrêa, Paris, 1953, pp. 185 a 193.

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A Coroa de Espinhos do Salvador

A Coroa de Espinhos

A Coroa de Espinhos do Salvador

Pilatos então tomou Jesus e mandou-o açoitar. E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha sobre a cabeça” Jo. 19, 1-2).

Narra a Tradição que a santa Coroa de espinhos, referida nessa passagem do Evangelho de São João, foi recolhida pelos discípulos do Divino Salvador e conservada até o• ano de 1063 no monte Sion, em Jerusalém.

Coube a São Luis IX, rei de França, a glória de ter adquirido do Imperador de Bizâncio, em 1239, essa relíquia inestimável. Para abrigá-Ia condignamente, mandou construir a mais bela jóia arquitetônica em estilo gótico existente na Europa: a Sainte Chapelle de Paris.

Atualmente, a santa Coroa de espinhos pode ser venerada na Catedral de Paris, onde se encontra pro­tegida por fino anel de cristal (acima), sob a custódia dos Cavaleiros do Santo Sepulcro de Jerusalém. Esta Ordem Militar foi fundada por Godofredo de Bouillon, célebre general cristão que conquistou a Terra Santa aos sarracenos, em 1099, e recusou ser coroado de jóias no local onde Nosso Senhor houvera sido coroado de espinhos.
relicario para a Coroa de Espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo
Ao longo dos séculos, vários relicários foram elaborados pela piedade católica para guardar a sagrada relíquia. O mais belo e rico deles, foi desenhado em 1853 por indicação de Viollet­le-Duc, o famoso arquiteto que restaurou Notre Dame de Paris.
São Luis IX segurando a coroa de espinhos, detalhe do relicário
A base do relicário, em estilo neogótico, representa São Luiz IX, Santa Helena e o Imperador latino de Bizâncio, Balduíno de Courtenay, que sustentam uma coroa de flores-de-lis, cujas pilastras são, por sua vez, apoiadas em doze estátuas representando os Apóstolos.

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Nossa Senhora de Las Lajas; Rainha e Mãe

Nossa Senhora de Las Lajas

“Las Lajas” quer dizer, em português, “as lajes”. A pintura de Nossa Senhora de Las Lajas, está impressa num rochedo existente numa gruta localizada ao sul do território colombiano, junto à fronteira do Equador, são reproduzidas nesta contracapa as duas figuras principais. É um como que quadro. Tem todas as características de ter sido pintado mediante o concurso de um Anjo.

Qual é a beleza da referida pintura?

Devemos distinguir nela dois aspectos: as pessoas de Nossa Senhora e Nosso Senhor, e o colorido.
O colorido todo expressa uma idéia de realeza muito pronunciada. As cores de fundo do quadro são faustosas. Por outro lado, esse vermelho – que tende para o vinho – do traje de Nossa Senhora é uma cor quente, rica, sendo toda essa vestimenta bordada a ouro, o que reforça também a impressão de um traje de rainha.

Quanto às pessoas de Nossa Senhora e do Menino Jesus, chama a atenção primeiramente a grande coroa na cabeça da Mãe de Deus, que não figurava na pintura original. Tão grande que se diria exagerada, se não estivesse tão bem calculada. Não fica pesada demais, mas é a maior que poderia ser. É impossível imaginar uma coroa maior do que essa para a figura que a porta.

A cabeleira da Virgem Santíssima
Nossa Senhora de Las Lajas
Detalhe curioso: a cabeleira da Virgem Santíssima. Os cabelos dEla estão soltos, mas de tal maneira que parecem um manto real. Há um bom gosto, uma noção de majestade e uma arte na disposição desses cabelos, que é uma coisa extraordinária.

Na fisionomia de Nossa Senhora, merece ser ressaltada a altaneria da cabeça. Ela olha de cima, de um modo sério e investigador, de quem deseja ser obedecida. É fisionomia de Mãe, mas de uma Mãe que foi pintada numa hora em que não está sorrindo. Ela não está fixando o olhar com expressão de ameaça ou reprimenda, mas está com a disposição de alguém que, se notar qualquer coisa de errado, passa um pito ou faz uma advertência. É uma realeza exercida com força.

Por outro lado, o Menino Deus está portando uma coroa – igualmente acrescentada à pintura original – também muito grande para a sua cabeça, mas não desproporcionada.

O Menino Jesus está amavelmente voltado para quem reza
Nossa Senhora de Las Lajas com Sao Domingos e Sao Francisco
Ele está muito amavelmente voltado para quem reza. Ao invés do quadro clássico – o Menino Jesus sério e Nossa Senhora risonha – nota-se o contrário: Ele se distrai com o laço voltando-se para o pecador, enquanto sua Mãe está séria.

O que representa uma troca de posições, parecendo inverter-se o papel da Medianeira. Na realidade, o pensamento que aí está expresso é muito profundo: Ele é misericordioso porque está sentado no trono da misericórdia – nos braços de Nossa Senhora. Se assim não fosse, Ele não exprimiria tal misericórdia extraordinária, essa alegria de dar e sorrir.

A maternidade de Nossa Senhora esta expressa na pintura

Rocha sobre a qual esta a imagem de Nossa Senhora de Las Lajas
No total, o que há de mais interessante no quadro é que, depois de se ter olhado para o Divino Infante e Sua Mãe Santíssima, percebe-se como a maternidade dEla está expressa na pintura. Parece que Ela não está prestando uma atenção próxima no Menino, mas há uma intimidade enorme entre os dois.

Nossa Senhora O sustém, como uma mãe carrega um filho inteiramente chegado a Ela, para deixar claro seu sentimento materno. Senso materno, por conseguinte, voltado para o pecador, de quem Ela também é Mãe.

Nossa Senhora Rainha e Mãe: é o que expressa admiravelmente esse quadro, que eu considero verdadeiramente uma obra-prima no gênero.

Origem da imagem de Nossa Senhora de Las Lajas
Basilica de Nossa Senhora de Las Lajas
No século XVIII, depois de vários fatos sobrenaturais ocorridos numa gruta nas ladeiras de Las Lajas, a índia Maria Mueses de Quiñones, descendente dos caciques de Potosí, encontra sua filhinha de joelhos venerando um quadro da Virgem, tendo nos braços o Menino Jesus e ladeada por São Francisco e São Domingos. Informados do ocorrido, os habitantes do local acorreram para venerar a Virgem, logo denominada de Las Lajas. Em fins do século XIX, foi construído um magnífico Santuário em estilo gótico no local.

A Festa de Nossa Senhora de Las Lajas celebra-se no dia 16 de setembro, data de sua aparição.
(Plinio Corrêa de Oliveira)

São Norberto de Xanten, Fundador dos Premonstratenses

São Norberto de Xanten
São Norberto de Xanten, Fundador dos Premonstratenses

Sua conversão deu-se de modo semelhante à de São Paulo. De muito nobre estirpe, tornou-se grande pregador popular, flagelo das heresias, reformador de costumes e fundador de mosteiros

Norberto nasceu em Xanten, na margem esquerda do Reno, próximo de Colônia, no ano 1080. Seu pai, Heriberto, era conde de Gennep e aparentado com a família imperial; e sua mãe, Hadwige, pertencia à Casa de Lorena.

Seus pais o destinavam à carreira eclesiástica, e ele recebeu as ordens sacras até o subdiaconato. Porém, rico, belo, inteligente, não queria senão levar boa vida, primeiro entre os pajens do Arcebispo de Colônia, depois na corte do Imperador alemão, Henrique IV.

Assim passou alegre e superficialmente sua juventude até os 33 anos. “Eu era então um ínclito cidadão de Babilônia — declarará ele depois de convertido – escravo do prazer e prisioneiro dos meus caprichos. Os terrores do inferno, a beleza da virtude e a promessa da felicidade eterna me pareciam contos de velhas, ou fábulas como as das mitologias antigas. Só ouvia os aplausos dos que me rodeavam e que me lançavam por caminhos laboriosos e difíceis, andando sempre sem tornar atrás, vago e fugitivo, despencando-me de cimo em cimo com uma inconsciência que hoje me cumula de terror”.

Queda do cavalo e conversão, como São Paulo
Conversão de São Norberto
Isso até soar a hora da Providência. E esta chegou da maneira mais inesperada. Viajava ele um dia a cavalo, acompanhado de um pajem, para uma vila chamada Freten, na Westfália, atravessando bela pradaria. O céu, límpido e sereno, de repente cobriu-se de espessas nuvens negras e começou a cair uma tempestade com raios e trovões pavorosos. O pajem, talvez inspirado por uma graça divina, gritou: “Senhor, aonde vais? Retornai, senhor, retornai, pois a mão de Deus está seguramente contra vós”. Mas Norberto seguia em frente, quando ouviu uma voz poderosa que lhe gritou do alto: “Norberto, Norberto, por que me persegues? Eu te destinei a edificar minha Igreja, e tu escandalizas os fiéis!”.

Ao mesmo tempo um raio caiu a seus pés, fazendo-o tombar do cavalo ao solo, onde permaneceu desacordado durante uma hora. Voltando a si, ainda assustado e considerando a vida que levara durante tanto tempo, foi tomado de arrependimento e perguntou, como o Apóstolo: “Senhor, que quereis que eu faça?”. Ouviu então a mesma voz: “Deixa o mal e faze o bem; procura a paz e segue-a”. Isso ocorreu em 1114.

O exemplo de sua vida convertia as almas

Afresco de São Norberto
Norberto tornou-se um outro homem. Passou a amar aquilo que desprezara e a desprezar aquilo que amara; transformou-se num rígido asceta, num censor severo de quanto havia buscado e amado, num pregador intransigente da verdade.

Para entregar-se com mais facilidade à pregação, ordenou-se sacerdote, vendeu seu castelo e seus pertences, distribuiu tudo aos pobres. Enquanto isso, visitava freqüentemente o monge Conon, Abade de Seigberg, próximo a Colônia, de quem aprendeu os rudimentos da vida religiosa e os princípios da vida espiritual, de modo que passou a receber de bom coração tudo o que lhe acontecia de importuno e a mortificar suas más inclinações.

Norberto transformou-se então num pregador ambulante, indo de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, fustigando o vício e pregando a virtude. Andava descalço em qualquer estação do ano, mesmo com neve, vivia de esmolas, dormia em hospitais e mosteiros.

Em suas pregações, não poupava nem mesmo os cônegos relaxados e os clérigos mundanos, combatendo a simonia, uma das pragas da época. Sua imponente presença impressionava; e quando contava sua história, comovia. Seu exemplo era mais eficaz que sua palavra. Mas muitas vezes foi vítima de agressões e maus tratos de pecadores empedernidos.

Pregador do Evangelho e taumaturgo

São Norberto de Xanten
Ele foi até a Abadia de Saint-Gilles, na diocese de Nimes, no Languedoc, onde o Papa Gelásio II se havia retirado para fugir da perseguição do Imperador Henrique. Dele obteve um breve, para poder predicar como pregador evangélico em todos os lugares.

Estando em Valenciennes, encontrou-se com o bispo Burchard, seu par na corte do Imperador. O bispo ficou extremamente surpreso em ver o antigo e elegante cortesão assim transformado. Abraçou-o ternamente. Um de seus capelães ficou tão impressionado com a história de São Norberto, que quis segui-lo como discípulo. Chamava-se Hugo, e absorveu tão bem o espírito de seu mestre, que foi seu sucessor na Ordem que Norberto fundaria.

São Norberto recomeçou suas andanças apostólicas, e sua palavra persuasiva era acompanhada de milagres. Um senhor flamengo, que depois de ouvir a palavra do Santo não quis reconciliar-se com seu vizinho, caiu nas mãos de seus inimigos e foi assassinado. Outro senhor, que quis partir para não se reconciliar com seu inimigo, seu cavalo não conseguia mover-se para levá-lo. Ele reconheceu o milagre, pediu perdão ao Santo e abraçou seu ex-inimigo.

Entretanto, tendo o Papa Gelásio II falecido na Abadia de Cluny, foi eleito o Arcebispo Guy, de Vienne, sob o nome de Calixto II. São Norberto foi visitá-lo para obter a mesma permissão que seu antecessor lhe dera, para continuar pregando. Mas o bispo de Laon, que queria o grande pregador para sua diocese, suplicou ao Papa que o enviasse para reformar a Abadia de São Martinho de Laon, que pertencia a cônegos regulares. O Sumo Pontífice consentiu.

Mas a empresa fracassou, porque os cônegos não quiseram abraçar a reforma que Norberto lhes propunha, pois desejavam seguir o seu sistema de vida quase de seculares.

Fundação da Ordem dos Premonstratenses
Santo Agostinho aparece a São Norberto e lhe apresenta uma regra escrita por ele mesmo, prometendo abundantes graças a seus seguidores
O bispo, para não perder a colaboração do Santo, propôs-lhe que fundasse um mosteiro em suas terras, onde poderia receber discípulos e fundar uma nova Ordem religiosa. Norberto aceitou e escolheu um vale de difícil acesso perto de Soissons, que se chamava Premostratum. Inspirado, ele exclamou: “Este é o lugar de meu descanso e o porto de minha salvação”.

No dia da conversão de São Paulo do ano de 1120, o bispo trocou os trajes de penitente de São Norberto e de seu discípulo Hugo por um hábito branco, conforme a Santíssima Virgem tinha mostrado ao Santo. Começou assim a Ordem dos Premonstratenses, que depois se espalharia por toda a Europa.

Norberto edificou uma ermida, conquistou novos discípulos e deu-lhes o hábito branco e as regras de Santo Agostinho, e um modo de ser que consistia em viver como monges e servir ao próximo como clérigos.

Ele era uma regra viva para seus monges e um modelo das virtudes religiosas. Recomendava-lhes freqüentemente três coisas: a pureza de coração e a limpeza exterior no que concernia aos divinos ofícios e ao serviço do altar; a expiação de suas faltas e negligências no capítulo; e a hospitalidade para com os pobres.

São Norberto estabeleceu também em Premontré uma comunidade de jovens e viúvas, para ser o bom odor de Jesus Cristo em sua Igreja.

Sua fama espalhou-se por toda a região. Muitos foram os nobres que lhe deram terras para fundar outros conventos, e não poucos os que o seguiram como religiosos.

O conde Thibault de Champagne quis imitar o fervor de São Norberto como discípulo seu. Mas o Santo lhe declarou que era vontade de Deus que ele O servisse no estado matrimonial. Mas, para que ele pertencesse à Ordem, deu-lhe um pequeno escapulário branco para usar sob as vestes e lhe prescreveu uma regra para viver de maneira religiosa em meio ao mundo. Fazendo depois a mesma graça a inúmeras outras pessoas, surgiu assim a Ordem Terceira Premonstratense.

Combate à heresia e à charlatanice

São Norberto de Xanten
Em Anvers, surgiu um pernicioso heresiarca, de nome Tanquelino, que se apresentou como profeta e reformador religioso. Simples leigo, ele combatia a existência de bispos e clero como coisa desnecessária e perniciosa. Pregava uma moral laxa e convertia as igrejas em lupanares. A bebedeira, a boa vida e a impureza imperavam entre seus discípulos. Ele sabia tão bem fanatizá-los, que chegavam a beber a água na qual ele tinha tomado banho. Ninguém ousava fazer face a esse inovador. Ninguém, exceto São Norberto.

Como um capitão, ele organizou o ataque a esse ímpio que queria destruir a Igreja de Jesus Cristo. Pregou ao povo com tanta eloqüência, que os hereges começaram, pouco a pouco, a pedir perdão e penitência para seus erros, entregando hóstias consagradas, que guardavam em suas casas para as escarnecer. De tal maneira refutou os erros de Tanquelino, que este não viu outro caminho senão fugir para outra cidade, onde fosse desconhecido.

Após a morte do Santo, seu corpo ficou exposto por vários dias sem nenhum sinal de corrupção.

Bispo de Magdeburgo — santa morte de São Norberto
São Norberto de Xanten, ladeado de São Wenseslau e São Segismundo
Em 1126, Norberto foi aclamado bispo de Magdeburgo e entrou em sua diocese montado num asno. De uma bondade comovedora para com o pecador arrependido, o novo bispo era de uma intransigência sem igual para com os recalcitrantes, usando a excomunhão quando necessário. Foi ameaçado de morte e vítima de atentado, mas protegido pela Providência.

Entretanto, apesar de ter apenas 52 anos de idade, seu corpo estava gasto pelos jejuns e penitências, pelas andanças apostólicas e pelo zelo. Depois de uma visita apostólica em sua diocese, foi acometido de violenta doença que, quatro meses depois, o levou ao sepulcro.

Um de seus religiosos viu sua alma transformar-se num lírio alvíssimo, que os Anjos levaram para o Céu.
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Obras pesquisadas:
– Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo VI.
– Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo II.
– F.M. Geudens, The Catholic Encyclopedia, Volume XI.

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São Bonifácio, grande Apóstolo da Alemanha

São Bonifácio

São Bonifácio, grande Apóstolo da Alemanha

Com zelo e energia surpreendentes esse missionário ímpar implantou o cristianismo em terras germânicas, civilizando-as; coroou sua gesta apostólica com a efusão do próprio sangue

Foi no ano de 680, na localidade de Kirton, no reino anglo-saxão de Wessex, que veio ao mundo Winfrid, o futuro Bonifácio.

Sua família brilhava pela Fé e pela posição social.

Com apenas cinco anos, Winfrid já suplicava ao pai que o deixasse abraçar a vida monástica. Este, após repetidas instâncias e não poucas hesitaçães, finalmente cedeu.

Winfrid tinha então sete anos e se dirigiu à Abadia de Exeter, onde iniciou seus estudos sob a conduta do santo abade Wolphard. Alguns anos depois ele os prosseguiu na Abadia de Nursling, Diocese de Winchester.

Nessas duas abadias sua alma se desabrochou.

Em Nursling, seus rápidos progressos nas ciências literárias elevaram-no em pouco tempo à situação de professor. Nessa ocasião compôs uma gramática latina, que ainda existe.

Aos 30 anos recebeu a ordenação sacerdotal e pouco depois, em decorrência de um sínodo do qual participaram o rei Ina e o Clero, foi enviado numa embaixada junto ao Arcebispo de Cantenbury, que deveria aprovar as decisães daquele sínodo. Ele se houve com tanta habilidade e prudência nessa negociação, que a partir daí passou a ser convidado a participar de todos os sínodos.

Mas Winfrid não se interessava apenas pela ciência profana ou por tais embaixadas. Sem intuito de vã erudição, entregou-se ao estudo da Sagrada Escritura, atraído pela sua beleza. E logo começou a ensiná-la aos que o cercavam; até mesmo de conventos distantes acorriam monges a fim de ouvi-lo.

Naquela alma começava a nascer o futuro missionário, que só pensava em fugir das honras e da própria pátria, para ir levar a luz da Fé aos deserdados pagãos.

Em 716 partiu para a Alemanha, terra de seus antepassados, com três companheiros de Nursling.

Chegaram a Utrecht, capital de Friesland, então compartilhada pelos Países Baixos e a Alemanha, e que atraía especialmente o apóstolo por se mostrar mais refratária ao Evangelho. Seu rei, Radbod, era grande perseguidor da Fé católica.

Ali havia estado rapidamente Santo Amand e Santo Elói. Mais tarde tornou-se seara de São Willibrord, Bispo, que após a morte de Pepino de Heristal, em 714, teve de se retirar para a Abadia de Echternach devido à ferocidade dos habitantes.

Winfrid tampouco pôde se estabelecer na região e logo regressou a Nursling, de onde esteve a ponto de nunca mais sair, pois com a morte do velho abade Winbrecht, foi designado por unanimidade para lhe suceder. Entretanto, ingentes instâncias suas e do Bispo de Winchester obtiveram que fosse eleito um outro candidato.

Novamente livre e munido de cartas de seu amigo, o Bispo Daniel, partiu para Roma no outono de 718.

Foi paternalmente acolhido pelo Papa Gregório II, que lhe concedeu, na primavera de 719, uma carta de investidura para pregar a Fé aos idólatras da Germânia. Recomendou-lhe que seguisse as regras da liturgia romana para a administração dos sacramentos, consultando a Santa Sé nos casos difíceis. E mudou-lhe o nome de Winfrid para Bonifácio.

Devido à situação confusa da Germânia, o Papa não havia designado ao zelo do novo missionário nenhuma província específica. Após visitar a Baviera e a Turíngia, a escolha de Bonifácio recaiu novamente sobre Friesland, que acabava de ser reconquistada pelos francos e para onde havia retornado o Bispo Willibrord, seu compatriota.

Este, já velho, viu com alegria a chegada do jovem missionário, e quis logo torná-lo seu coadjutor e sucessor. Contudo, mais preocupado com o trabalho do que com honrarias, Bonifácio decidiu, após três anos de labuta e de experiências fecundas, ir levar a Fé a regiães mais necessitadas.

Atração pelas tarefas árduas
São Bonifácio, detalhe
Partiu assim para interior da Alemanha.

Foi em Hesse que decidiu lançar inicialmente a rede. O território dependia dos francos e já havia sido visitado por missionários irlandeses como Santo Kilion, mas permanecia profundamente pagão. Bonifácio iniciou uma evangelização metódica estabelecendo em Amoenburg a primeira fundação monástica.

Desejoso de levar ao conhecimento do Sumo Pontífice seus primeiros resultados, Gregório II convidou-o a voltar a Roma.

O Papa tinha a intenção de elevá-lo à dignidade episcopal, mas antes queria interrogá-lo para certificar-se de sua doutrina. Bonifácio enviou-lhe então, por escrito, uma profissão de Fé. Foi somente aí que Gregório II revelou-lhe o projeto de torná-lo Bispo. E Bonifácio, que havia recusado análogo desejo de São Willibrord, não ousou resistir ao Romano Pontífice: foi sagrado em 30 de novembro de 722.

Tornou-se Bispo, não de uma diocese particular, mas dependente diretamente da Santa Sé. Nessas circunstâncias, prestou juramento de persistir na pureza da santa Fé católica, na unidade da Igreja universal e na fidelidade ao Vigário de Cristo. O Papa enviou-lhe uma coletânea dos cânones dos Concílios e cartas de recomendação, especialmente a Carlos Martel. O Duque dos francos dispensou-lhe boa acolhida e deu-lhe um salvo-conduto.

A proteção do Duque, mas sobretudo a missão concedida por Roma e o caráter episcopal de que se achava doravante revestido granjearam-lhe novo prestígio aos olhos do germanos. E o Santo não perdeu tempo.

A população de Hesse tomava por divindade o carvalho sagrado de Thor, na montanha de Gudenberg, em Geismar. Bonifácio decidiu ir com alguns companheiros abatê-lo. Apenas iniciada a tarefa, a árvore veio abaixo, como se tivesse sido atingida por um vento impetuoso. Os pagãos viram nisso um julgamento de Deus. E diante da impotência dos ídolos em se defenderem, passaram em grande número para a Fé cristã. O Bispo serviu-se da madeira para edificar, no local, uma capela em honra de São Pedro.

Ao cabo de um ano, Bonifácio julgou a evangelização em Hesse suficientemente avançada para que pudesse deslocar-se à Turíngia, onde permaneceria durante sete anos (724 a 731).

Ali, embora já tivesse havido pregação católica, a vida religiosa encontrava-se extremamente langorosa, com o Clero ignorante ou relaxado.

Bonifácio decidiu então fundar o Mosteiro de São Miguel de Ohrdruff, perto de Gotha, que viria a ser uma fortaleza do cristianismo. Para povoá-lo, e a fim de obter auxiliares para sua obra, apelou a seus amigos ingleses, homens e mulheres. Estes, vendo o ardor que animava o missionário, acorreram logo e em grande número.

Para a consolidação dessa empresa muito contribuíram os irlandeses, tanto pela sua generosidade quanto por seu santo exemplo e zelo apostólico, havendo fundado vários mosteiros.
Recebe apoio dos grandes; autonomia preservada
São Bonifácio
Bonifácio e os seus introduziram um método missionário especial, que consistia em procurar o apoio dos reis e dos grandes, sem contudo a eles se enfeudar. Para apoiar o apostolado e manter os resultados, apelavam aos mosteiros. Assim, em Hesse houve fundaçães nas cidades de Amoenburg e de Fritzlar; na Turíngia, em Orhdruff para homens, e em Kitzingen, Ochsenfurt e Bischoffsheim para mulheres.

Esses mosteiros na realidade eram verdadeiras escolas de civilização, ensinando a agricultura, as artes e sobretudo a Fé cristã.

A última correspondência enviada por Gregório II a Bonifácio — que nunca deixou de colocar o Papa a par de tudo quanto fazia — precedeu de pouco a morte do Pontífice, ocorrida em 11 de fevereiro de 731.

Sucedeu-lhe Gregório III, a quem Bonifácio apressou-se em felicitar e informar a respeito de seus trabalhos. Em resposta, o novo Papa nomeou-o Arcebispo e conferiu-lhe o pálio. Faltava agora prover de Bispos as diferentes províncias alemãs evangelizadas por Bonifácio, que velaria sobre o conjunto e atenderia a seus interesses. Permaneceu por isso sem sede fixa.

A província que desde logo atraiu seu zelo foi a Baviera. Evangelizada por São Ruperto e São Corbiniano, ela ainda se mantinha sem qualquer organização hierárquica e abrangia boa parte da Áustria, sendo uma das maiores regiães da Alemanha.

São Bonifácio permaneceu naquela província durante quase nove anos (732 a 741), sendo essa fase de sua vida entremeada por uma estada em Roma de cerca um ano (738-739), quando foi manifestar ao Sumo Pontífice sua veneração e submissão, conferir com ele sua atuação e externar o peso das preocupaçães e sofrimentos que o acabrunhavam.

Chegou à Cidade Eterna com vários companheiros, viu o Sucessor de Pedro, assistiu a um Concílio e regressou consolado, encorajado, esclarecido e carregado de relíquias para suas novas fundaçães. Além disso, conquistou dois irmãos, igualmente ingleses: Wunnibald, que fora em peregrinação a Roma e ali se tornara monge; e através dele Willibald, que estendera sua viagem até Jerusalém e depois juntou-se ao irmão na Alemanha, onde São Bonifácio mais tarde o faria Bispo.

Regressou à Baviera para retomar a evangelização e provê-la de dioceses, estabelecendo-as em Salzburg, Freysing, Regensburg e Passau. Uma vez dotada de organização regular e expulsos os elementos de desordem, a Fé retomou novo vigor. Isso feito, voltou São Bonifácio a Hesse e à Turíngia.

Na Turíngia meridional ou Francônia, nosso Santo criou uma diocese em Wurzburg. Para unir essas terras aos domínios da Baviera, criou outra sede episcopal, desta vez em Eichstadt, da qual ficou sendo bispo o já citado Willibald, e onde foram logo fundados dois mosteiros.

Desse modo, decorridos cerca de vinte anos, São Bonifácio havia edificado uma vasta e sólida cristandade nos territórios submissos aos francos. Mas ainda restava coroar essa obra.

Já se viu o amor que São Bonifácio tinha pelos mosteiros e a importância que lhes atribuía, a ponto de cada diocese possuir um ou vários. E de há muito nutria o desejo de ver um implantado no centro da Alemanha, que lhe servisse ao mesmo tempo de lugar de repouso e quartel-general.

Encarregou então Sturmi, um jovem monge, de descobrir nas florestas de Hesse e da Turíngia um local bastante amplo, e ao mesmo tempo rico e bem protegido, para nele receber um considerável número de monges e missionários.

A procura foi longa e penosa, mas finalmente Sturmi encontrou, no coração da floresta, um homem que lhe indicou o local sonhado. Sturmi já havia visto esse local, mas não soube avaliar sua aptidão para a finalidade visada. Uma verificação mais atenta convenceu-o, e após abençoar o lugar, voltou radiante para avisar São Bonifácio. Este pediu em seguida ao rei Carlomano a cessão desse terreno, em Fulda, e puseram mãos à obra.

A constituição do Mosteiro de Fulda

No dia 12 de janeiro de 744, Sturmi e sete outros monges tomaram posse do lugar. Todos os anos São Bonifácio ali se dirigia, para repouso e recolhimento, bem como para instruir aqueles jovens nas tradiçães monásticas.

O Mosteiro de Fulda transformou-se na base sólida para a evangelização da Alemanha, e contava, à morte de São Bonifácio, com 400 monges. Para a realização da importante tarefa que tinha em vista realizar através dela, obteve do Papa Zacarias imunidade pontifícia, o primeiro privilégio do gênero conhecido na História.

Mas o zelo do Apóstolo da Alemanha ia mais longe. Com a morte de Carlos Martel, em 741, o reino franco foi dividido entre seus filhos Pepino e Carlomano. Este último, íntimo amigo de São Bonifácio, terminaria seus dias como monge, na Abadia de Monte Cassino, na Itália. Mas como herdou a Austrásia, dele dependeria doravante São Bonifácio.

Ambos decidiram então eliminar muitos abusos de leigos desejosos de deter os benefícios e as honras na Igreja — que haviam recebido em recompensa por serviços prestados a Carlos Martel –, substituindo-os por pessoas santas que de fato os mereciam. E ao mesmo tempo proceder a uma reforma na disciplina dos monges celtas, muito independentes em relação à Hierarquia.

Enérgico reformador da disciplina eclesiástica
busto de São Bonifácio, na Basilica dedicada a ele em Manitoba, Canada
Em 742, com o consentimento do Papa Zacarias, decidiu São Bonifácio convocar Concílios a fim de empreender a reforma da disciplina eclesiástica.

Pepino também quis para si algo de análogo, e assim foi realizado um Concílio em Soissons (743), para os seus Estados, e no ano seguinte outro, geral, com a presença de todos os Bispos francos.

Sem esses Concílios o belo período de prosperidade da época carolíngia não teria existido. E o mérito por quase tudo isso se deve a quem os dirigiu, ou seja, a São Bonifácio.

Eis algumas das medidas tomadas: estreitar os laços dos padres com seus Bispos e destes com seus Arcebispos; destituir os Prelados indignos e substituí-los por Bispos santos (entre os quais convém citar Santo Crodegang, Bispo de Metz, que trabalhou eficazmente na reforma do Clero e na instituição dos cônegos regulares); impor aos nobres a devolução dos bens eclesiásticos por eles confiscados.

Em 747 foi convocado um Concílio para sancionar as deliberaçães dos anteriores. Todos os Bispos presentes assinaram uma profissão de Fé, a qual foi depositada no trono de São Pedro antes de ser entregue ao Papa, para marcar a união da Igreja franca e sua submissão ao Vigário de Cristo.

Os cuidados que prodigalizou à Igreja franca não fizeram São Bonifácio esquecer as necessidades da Igreja germânica, cuja organização ele quis completar.

Não tendo sede fixa, pensou estabelecer-se em Colônia, de onde poderia dirigir ao mesmo tempo a Gália, a Germânia e Friesland, que pretendia reconquistar. Mas como havia muitos elementos irredutíveis no Clero franco de Colônia, acabou aceitando, em 747, a Sede primacial de Mainz.

Nesse mesmo ano Carlomano abdicou e retirou-se para a Abadia de Monte Cassino. Em 752 São Bonifácio sagrou Pepino o Breve como Rei dos francos, em Soissons, dando início à época carolíngia.

Coroação da vida pelo martírio
túmulo de São Bonifácio em Fulda, Alemanha
Já septuagenário, São Bonifácio quis partir para Friesland. Pressentindo entretanto a morte que se aproximava, antes de viajar pediu para ser sepultado em Fulda.

Dirigiu-se a Utrecht em 753, retomando as viagens apostólicas, até o momento em que, surpreendido pelo fanatismo dos pagãos, foi por eles martirizado em Dokkum, juntamente com 52 companheiros. Era o dia 5 de junho de 754.

Seus restos mortais foram transportados inicialmente para Mainz, e em seguida, atendendo seu desejo, para Fulda, onde repousam.
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Fontes de referência
1) Vie des Saints, Les Petits Bollandistes, Bar-le-Duc, Typographie des Célestins, Ancienne Maison L. Guérin, 1874, t. V, p. 459 a 464.
2) Vie des Saints, par les RR. PP. Bénédictins de Paris, Librairie Letouzey et Ané, 1946, vol. V, p. 83 a 93.

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Senhor Santo Cristo dos Milagres; devoção secular dos Açores – II

Senhor Santo Cristo dos Milagres

Hoje concluimos esta série de artigos publicando orações e o hino em louvor do Senhor Santo Cristo dos Milagres.

Oração ao Senhor Santo Cristo

Ó bom e amantíssimo Jesus, que por amor das nossas almas quisestes ser açoitado, coroado de espinhos e considerado como rei de comédia no Pretório de Pilatos, dando-nos o exemplo máximo de humildade, fazei que atraídos pela Vossa face adorável, não tenhamos outro pensamento que não seja para Vos louvar, outro desejo que não seja o Vosso amor.

Fazei, Senhor, que a nossa vida seja sempre iluminada pelos clarões da Vossa Sagrada Paixão, a fim de, nas contrariedades, sentirmos a Vossa força, nas aflições, a Vossa consolação, nas dores o Vosso refrigério, nas tristezas, a Vossa alegria, chegando assim incólumes ao Vosso Reino Eterno. Amém.

Novena ao Senhor Santo Cristo dos Milagres
Senhor Santo Cristo dos Milagres, no seu altar

Meu Jesus, em Vós depositei toda minha confiança.
Vós sabeis de tudo Pai e Senhor do Universo.
Sois o Rei dos Reis.
Vós que fizestes o paralítico andar, o morto voltar a vida, o leproso sarar.
Vós que vedes minhas angústias, as minhas lágrimas, bem sabeis Divino Amigo como preciso alcançar de Vós esta grande graça (pede-se a graça com fé).
A minha conversa convosco,
Mestre, me dá ânimo e alegria pra viver.
Fazei Divino Mestre que antes de terminar esta conversa que terei convosco durante 9 dias, eu alcance esta graça que peço com fé.
Como gratidão, publicarei esta oração para outros que precisam de Vós, e aprendam a ter fé e confiança na Vossa Misericórdia.
Ilumine meus passos, assim como o sol ilumina todos os dias o amanhecer e testemunha a nossa conversa Jesus tenho confiança em Vós, faça aumentar minha fé
cada vez mais.

Rezar nove dias seguidos.

Hino ao Senhor Santo Cristo dos Milagres
Senhor Santo Cristo dos Milagres
O Hino do Santo Cristo foi composto, nos anos setenta do século XIX, pelo músico Candeias, da Banda Militar de Ponta Delgada.

“Glória a Cristo, Jesus, glória eterna,
Nosso Rei, nossa firme esperança,
Soberano que os mundos governa
E as nações recebem por herança.
Com o manto e o ceptro irrisório,
Sois de espinhos cruéis coroado,
Rei da dor, uma vez, no Pretório,
Rei de amor, para sempre adorado.

Combatendo, por vossa Bandeira
Que, no peito, trazemos erguida,
Alcançamos a paz verdadeira
E a vitória nas lutas da vida.

Só a vós, com inteira obediência
Serviremos com firme vontade,
Porque em Vós há justiça e clemência
Porque em Vós resplandece a verdade.

Concedei-nos, por graça divina,
Que sejamos um povo de eleitos,
Firmes crentes na Vossa doutrina,
Cumpridores dos Vossos preceitos”.

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Senhor Santo Cristo dos Milagres; devoção secular nos Açores – I

Senhor Santo Cristo dos Milagres

Há três séculos a população daquele arquipélago cultua com ardor imagem admirável de Cristo padecente – “Ecce Homo” – por intermédio da qual têm-se operado, de modo contínuo, esplêndidos milagres.

Uma das devoções mais ricas em significado, e que se manifesta com pujança extraordinária em nossos dias, é a do Senhor Santo Cristo dos Milagres. O centro de sua veneração é o Mosteiro da Esperança em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, no arquipélago dos Açores, situado cerca de 1.400 km de Lisboa.

O Senhor Santo Cristo é representado nesta devoção por um busto de tamanho superior ao de um homem, figurando Jesus no Pretório de Pilatos, depois de acoitado, com a face chagada pelos golpes e pelas bofetadas, a cabeça coroada de espinhos, encimando o seu rosto adorável e o peito aberto pela lança. Como rei de comédia, está sentado, tendo na mão uma cana, em vez de cetro, e um manto de púrpura para irrisão.

O tesouro da Imagem do Santo Cristo dos Milagres

Senhor Santo Cristo dos Milagres
Frutos dos mistérios da Fé, sinais da gratidão dos mortais pelos milagres que os ajudam a caminhar pela vida, o Tesouro, da imagem é impressionante.

O Resplendor, em platina cromada de ouro, pesa 4, 850 gramas e está incrustado de 6.842 pedras preciosas de todas as qualidades: topázios, rubis, ametistas, safiras, etc.

Além do valor artístico, esta jóia está carregada de elementos simbólicos ligados à teologia. O primeiro é a da Santíssima Trindade, representada por um triângulo no centro que contém três caracteres com o seguinte significado: “Sou o que Sou” e também “Pai, Filho e Espírito Santo”.

Deste triângulo irradiam os resplendores para as extremidades da peça.

O segundo elemento é a Redenção de Cristo, representada pelo cordeiro sobre a cruz e pelo livro dos Sete Selos do Apocalipse.

Um terceiro é a Eucaristia, simbolizada por uma ave, o pelicano, pelo cálice e pelo cibório.

O último elemento simbólico do Resplendor é a Paixão de Cristo passando pela coroa representada em pormenor: desde a túnica ao galo da Paixão, passando pela coroa de espinhos integralmente feita de esmeraldas.

Se o Resplendor é a jóia mais rica do Tesouro, a coroa é a sua peça mais delicada. Em ouro, pesando apenas 800 gramas, possui 1.082 pedras preciosas, todas elas trabalhadas com minúcia, onde os próprios espinhos são pequeníssimas pedras que diminuem de tamanho nas extremidades.

O relicário é, por outro lado, a peça mais enigmática do Tesouro. É a única que está permanentemente colocada no peito da imagem e serve para guardar o Santo Lenho, que se crê ser uma relíquia da verdadeira cruz em que Jesus foi crucificado.
Senhor Santo Cristo dos Milagres
O Cetro, a quarta peça do Tesouro, é constituída por duas mil pérolas que formam uma maçaroca de cana, 993 pedras preciosas ao longo do tronco e no conjunto de brilhantes com renda de ouro na base, onde está colocada a Cruz de Cristo.

Finalmente, as Cordas, com 5,20 metros de comprimento, constituem a quinta peça do corpo principal do Tesouro. São duas voltas de pérolas e pedras preciosas enroladas em fio de ouro.

As Jóias do Senhor Santo Cristo dos Milagres, como também a seleção de capas usadas pela imagem, podem ser admiradas no Convento de Nossa Senhora da Esperança.

Na origem da devoção, uma religiosa Clarissa
Senhor Santo Cristo dos Milagres com sacerdotes preparando-se para a procissão
A guarda da imagem do Senhor Santo Cristo está a cargo das Irmãs Clarissas, que começaram suas atividades apostólicas naquela ilha em 1541 (o arquipélago fora descoberto pelos portugueses em 1427).

Vem essa Congregação se dedicando ininterruptamente às obras religiosas e mais especialmente ao culto do Senhor Santo Cristo, mesmo durante a era pombalina, em que as Ordens Religiosas foram proibidas e perseguidas por força das leis portuguesas.

Tal devoção começou a tomar o brilho que ela hoje possui a partir de 1683, quando fez os votos solenes, em 23 de julho, a Madre Teresa d’ Anunciada, conhecida como a freira do Senhor Santo Cristo.

Esta madre, falecida com fama de santidade em 16 de maio de 1738, dedicou sua vida a Nosso Senhor Jesus Cristo, honrando de maneira única Sua imagem de “Ecce Homo”, por cujo culto se bateu a vida toda com um amor abrasado e dedicação absoluta.

Na sua autobiografia, escrita por ordem de seu confessor, lê-se: “Para Deus, por mais que se faça, não é nada. Para o que Sua Majestade merece, tudo o que Ele quiser, estou pronta”.
Senhor Santo Cristo dos Milagres
O amor desta alma a Nosso Senhor levou-a a honrar de maneira única a Sua imagem do “Ecce Homo”, que encontrou pobre, quase abandonada e escondida havia mais de cem anos numa dependência do Convento.

Tal imagem havia sido doada pelo Papa Paulo m a duas religiosas que tinham ido a Roma especialmente com o objetivo de pedir autorização para fundarem um convento em Ponta Delgada, Açores.
Igreja decorada para a festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres
Dizia Madre Teresa: “Todo o meu cuidado era solicitar coisas muito ricas para adorno do meu Senhor e tratá-Lo com aquele culto e decência que merece Sua Pessoa: Em tudo que necessitava o Senhor, fui sempre impertinente em procurar; e quando alcançava os objetivos, dizia: “Tudo seja para sua maior glória”.

Retribuindo tal dedicação, Jesus operava prodígios para atender às suas orações e, como Ele próprio lhe revelou, “tu és o meu nada, e Eu sou o teu tudo”.

Os milagres, que se obtêm por intermédio de orações ao Senhor Santo Cristo, são numerosíssimos. Na vida de Madre Teresa d’ Anunciada eles foram contínuos, estando, ainda hoje, na Ermida de Nossa Senhora da Paz, consignados os relatos de esplêndidos feitos miraculosos.

Tremores de Terra e manifestação de Nosso Senhor estão na origem da procissão
Senhor Santo Cristo dos Milagres, com coro cantando o hino em honra dele
No ano de 1700, a Ilha de S. Miguel foi abalada por fortes e repetidos tremores de terra. Duravam estes já vários dias quando a Mesa da Misericórdia e grande parte da nobreza da cidade, vendo que os terremotos não cessavam, resolveram ir à portaria do Mosteiro da Esperança para levarem em procissão a Imagem do Santo Cristo.

Ao princípio da tarde desse dia 13 de Abril de 1700, juntaram-se as confrarias e comunidades religiosas. Concorreu igualmente toda a nobreza e inumerável multidão que, com viva fé, confiava se aplacaria a indignação divina com vista da santa Imagem.

Caminhava já a procissão em que todos iam descalços; e logo que a veneranda Imagem se deixou ver na portaria, foi tão grande a comoção em todos que a traduziram em lágrimas e suspiros, testemunhos irrefragáveis da contrição dos corações.

Levaram o andor do Santo Cristo as pessoas mais qualificadas em nobreza. Andando a procissão, ia a veneranda Imagem entrando em todas as igrejas onde, em bem concertados coros, Lhe cantavam os salmos “Miserere mei Deus”.

Saindo da Igreja dos Jesuítas, e caminhando para a das Religiosas de Santo André, não obstante toda a boa segurança e a cautela com que levavam a santa Imagem, com assombro e admiração de todos, caiu esta fora do andor e deu em terra. Foi esta queda misteriosa, porque não caiu a Imagem por algum dos lados do andor, como era natural, senão pela parte superior do dossel.

O povo ficou aflito com sucesso tão estranho. Uns feriam os peitos com as pedras; outros, pondo a boca em terra, que julgavam santificada com o contacto da santa Imagem, pediam a Deus misericórdia; estes, tomando os instrumentos de penitência, davam sobre si rijos e desapiedados golpes, regando a terra com o sangue das veias; aqueles publicavam em alta voz as suas culpas, como causas da indignação do Senhor; e todos, com clamores e enternecidos suspiros, pediam a Deus que suspendesse as demonstrações da sua justa vingança.

Verificaram, então, que a santa Imagem não experimentara com a queda dano considerável, pois somente se observou no braço direito uma contusão. A Imagem foi lavada e limpa no Convento de Santo André e, colocada outra vez no andor com a maior segurança, continuou a procissão, na qual as lágrimas e soluços do povo aflito embargavam as preces, até que, bem de noite, se recolheu no Mosteiro da Esperança.

E a cólera divina se aplacou…

Na procissão, resplandece majestade real
Senhor Santo Cristo dos Milagres, na procissão
O jogo de expressões fisionômicas da Imagem, tocando a todos individualmente, conforme as disposições interiores de cada um, tem todavia uma característica central e predominante: o olhar.

Este olhar convida a todos que retribuam àquele imenso e divino amor com uma total dedicação e entusiasmo na implantação do Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo aqui na Terra.

A face marcada pelos dramas da Paixão não tira o aspecto de majestade que se desprende daquele busto. Ele próprio revelou a madre Teresa o desejo de que fosse glorificado como Rei, o soberano Senhor, tanto no convento como fora dele.

É por isto que é realizada a procissão do Senhor Santo Cristo pela cidade, no domingo imediatamente anterior à festa da Ascensão, tendo esta devoção começado por volta do ano de 1700.

Nessa procissão e a quantos dela participam, Ele aparece ao povo da ilha, através da imagem, como o “Senhor”, o “Rei Absoluto”. As manifestações da população e das Forças Armadas, os tapetes de flores, todo o brilho dado à celebração constituem homenagens a essa realeza.

Não é, pois, de admirar o que escreve Madre Teresa em sua autobiografia, sobre o que o Senhor lhe ordenou: “Teresa, manda-Me buscar as insígnias reais: coroa de espinhos, resplendor e cana. Eu quero que ele (o rei D. João V de Portugal) Me mande fazer as três insígnias reais de ouro e diamantes e pedras preciosas, como de rei para rei”

Compreende-se assim o culto prestado ao Senhor Santo Cristo, ornado de jóias preciosas deslumbrantes e de tal magnitude que ultrapassa a de coroas dos maiores potentados. Mas o grande e valioso relicário está no peito da imagem, que encerra uma relíquia da verdadeira Cruz de Cristo, o Santo Lenho.

É fato digno de nota que a primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima, a 13 de maio de 1917, se deu no mesmo dia em que se realizava, em Ponta Delgada, a procissão do Senhor Santo Cristo.

Afluência popular, milagres e graças

Senhor Santo Cristo dos Milagres
Muito se poderia dizer sobre os milagres que continuamente se operam por intermédio da devoção ao Senhor Santo Cristo.

Todos os dias os fiéis, em grande número, ajoelham-se junto às grades que no Santuário separam a igreja do coro de baixo, onde está a capela do Senhor Santo Cristo, construída pela Madre Teresa, segundo desenho arquitetônico inspirado pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ali oram e louvam ao Senhor; ali pedem graças, curas de doenças, a solução de problemas difíceis na sua vida; ali fazem seus votos, suas promessas; ali agradecem ao Senhor as graças obtidas; ali fazem suas ofertas, por vezes muito generosas.

É impressionante a afluência de centenas de fiéis às sextas-feiras, durante todo o ano. Não há uma única sexta-feira em que a igreja não esteja repleta, e muitas vezes acontece terem eles de ficar nas dependências, ou mesmo fora delas, por falta de espaço.

A festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres celebra-se no quinto domingo após páscoa.

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Nossa Senhora dos desamparados

Nossa Senhora dos desamparados

Nossa Senhora dos desamparados
Valência, situada a leste da Espanha, às margens do Mar Mediterrâneo, é uma cidade carregada de história.

Estando em poder dos maometanos, no fim do século XI foi ela reconquistada pelo grande herói Cid Campeador, o qual foi depois seu soberano e ali faleceu.

Em Valência nasceu o extraordinário São Vicente Ferrer, o qual lutou contra a decadência da Idade Média com tal vigor e eloqüência que foi chamado o Anjo do Apocalipse.

A padroeira de Valência é Nossa Senhora dos Desamparados (*) cuja belíssima história é, em breves traços, a seguinte:

No início do século XV – quando ainda vivia o grande São Vicente Ferrer – foi fundada em Valência a Confraria dos Desamparados, para socorrer os enfermos e dar sepultura aos cadáveres abandonados nos campos.

Seu principal inspirador foi o Beato Padre Jofré. Essa Confraria, composta sobretudo de artesãos, chegou a ter entre seus membros duques, marqueses, condes e ricos burgueses.

A confraria conseguiu logo uma capela, mas faltava uma imagem de Nossa Senhora que exprimisse o espírito daquela instituição.
Nossa Senhora dos desamparados, detalhe da imagem
Em 1414, apareceram na casa de um confrade – cuja esposa era cega e paralítica – três jovens de rara beleza, em traje de peregrinos, os quais, declarando serem escultores, dispuseram-se a fazer urna imagem da Virgem para a Confraria.

Pediram apenas um local isolado para trabalharem e que, durante três dias, ninguém os visitasse.

Consultado o Beato Jofré, a proposta foi aceita e, ao quarto dia, o mesmo homem de Deus, acompanhado de várias pessoas, foi até o local onde se instalaram os três jovens. Bateram e, como ninguém atendia, arrombaram a porta.

Oh magnífica surpresa! Os jovens haviam desaparecido, mas deixaram uma belíssima imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus. Todos compreenderam que os peregrinos escultores eram anjos.

A esposa do confrade, que recebera os três anjos, foi conduzida até o local onde estava a imagem. Chegando diante da bela escultura, imediatamente recobrou a vista e o movimento de seus membros.
Nossa Senhora dos desamparados, em procissão no seu dia de festa
A partir de então, através da sagrada imagem que recebeu o título de Nossa Senhora dos Desamparados, ocorreram muitíssimos milagres, entre os quais destaca-se a cessação da terrível peste que grassou em Valência e outras partes de Espanha, em meados do século XVII, no reino de Filipe IV.

A imagem mede 1,40 m e representa Nossa Senhora carregando, no braço esquerdo, o Menino Jesus; o braço direito, cuja mão segura um ramo de lírios de prata, está estendido em direção ao solo. Apesar dos exames realizados, até hoje não se sabe exatamente de que material foi esculpida a imagem.

Sobre a cabeça de Nossa Senhora há uma grande e riquíssima coroa, cravejada de brilhantes, pérolas, rubis e outras pedras preciosas. Atrás da coroa um belo resplendor com doze estrelas. O Menino Jesus segura em seus braços uma cruz. A Virgem e seu divino Filho portam túnicas e mantos primorosamente lavrados.
Nossa Senhora dos desamparados, costume de levar as crianças até à Imagem
Hoje, tantas pessoas estão no desamparo, sobretudo espiritual. Se Nossa Senhora enviou três anjos para o socorro material dos homens no século XV, com quanto mais razão não enviará Ela legiões de espíritos angélicos para nos proporcionar auxílio sobrenatural contra a degenerescência moral catastrófica em que o mundo se encontra!

É preciso pedirmos com fé, perseverança, humildade e confiança: Nossa Senhora dos Desamparados, socorrei-nos a nós abandonados neste mundo neopagão, e que não temos outro auxílio fora de Vós!
Nossa Senhora dos desamparados, procissão com trajens tpicos de região
A festa de Nossa Senhora dos Desamparados é celebrada no segundo domingo de maio.

(*) Nossa Senhora dos Desamparados é também padroeira da Costa Rica.
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FONTE DE REFERÊNCIA
Conde de Fabraquer, Historia. Tradiciones y Leyendas de Ias imágenes de la Virgen aparecidas en Espana, Tomo I, Imprenta y Litografia de D. Juan José Martinez, Madrid, 1861, pp. 147 a 202.

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